sexta-feira, 1 de julho de 2016

Frangere



Foram necessárias várias vidas para que pudessem se reencontrar...

A busca sempre foi necessária e sempre será. Quando se encontra, não se pode afirmar que não há nada mais a se procurar; não uma pessoa. Não seria mais necessário. Mesmo que seja novamente, para ele não mais. Daqui para frente, se não for com ela, seria só.

Apollo vivia tempos de paz, enfim. Estabeleceu uma rotina para si, parou de se esforçar para ficar acordado durante o dia e dormir após o crepúsculo. Para eles tudo estava perfeito. O trabalho, o fim de semana, os brindes com vinho nas montanhas de sempre. Agora não mais sozinho; agora não mais tantas garrafas com tantas mulheres. Agora, apenas com ela!

Celebraram o amor. Plantaram a semente, ela brotou e cresce sem parar alimentada pelo amor infindável e crescente do peito de ambos.

Fiquei pensando em um recomeço para que Apollo seja colocado em seu devido lugar. Fiquei a matutar pelo espaço de vários meses neste retorno. Seria sensato? Qual seria o devido lugar de Apollo? O cemitério?

Não! A busca nunca acaba.

Eduardo precisa acabar sua louca tortura que o consome as forças. Existem muitas histórias a terminar. 

Existem outras que nem ao menos tingi a tela do computador com a primeira letra. Apollo precisa encontrar o que procura ainda. Sua busca espiritual é uma ponte a ser espreitada pelo viajante que precisa atravessá-la para chegar ao seu destino.

Momentos de relativa paz que certamente antecede momentos de tormentas futuras. Sempre o círculo a me mostrar que nada tem fim, que o ciclo se repete a cada espaço de tempo, que a órbita da Terra é percorrida há bilhões de anos; que a lua nos circunda há tempos e que seus 28 dias cravam o mês, assim como marcam a identidade de uma mulher que percorre seu ciclo igualmente regular.

Que os dias que estão por vir tragam novas alegrias ou novas lágrimas, mas que também tragam lenços para limpar essas últimas...

domingo, 6 de julho de 2014

Simile

Havia uma pequena vila cravada numa densa serra, alta e fria nos meses de inverno. Sua aparência, funesta nos meses quentes, se tornava bela e misteriosa na época do frio. Ali reinava a paz indevassável e seus habitantes viviam fartamente com a certeza de que tudo aquilo lhes bastava e nunca acabaria. Permanecia sobre a vila, perdida e fria, um nevoeiro que teimava em ficar ali, parado por dias, meses, anos a fio. Muito raramente os raios do sol se esgueiravam por entre o nevoeiro e iluminava as casas por instantes. Um dia, porém, ao sul do vilarejo se formou uma grossa e pesada tempestade. Dia após dia a tempestade se tornava mais forte e se aproximava mais e mais da cidadezinha pequena.

Numa manhã nebulosa a tempestade abateu-se, enfim, sobre a cidade. Os ventos cortavam os rostos mais incautos com força. Foram dias assim, meses. Era preciso ficar dentro de casa, com a lenha crepitando no fogo, para que o calor lhes aquecesse, mesmo que debilmente. 

Um dia também, a tempestade se foi. Depois que ela se perdeu por trás das últimas montanhas que podiam ser vistas ao norte, estabeleceu-se um dia claro e ensolarado sobre a vila. No outro dia, novamente sol. A assim se sucederam vários meses. A luz trouxera um entendimento diferente aos habitantes da distante vila. Embora eles soubessem que o nevoeiro foi-lhes necessário até aquele momento para darem melhor valor à luz, eles também sabiam que um dia o nevoeiro poderia retornar do mesmo lado da serra e trazer os sentimentos de outrora novamente. Seria então necessária nova tempestade para que tudo se fizesse luz de novo. Era melhor para todos eles que o sul só trouxesse ventos calmos. Assim a luz nunca mais iria embora.

domingo, 25 de maio de 2014

Cruciante

É incrível como algumas manhãs trazem menos luz que outras. Seria porque a tristeza combina com a escuridão? Seria porque uma parte de nós não habita o mesmo coração? Quem sabe o desencontro consigo mesmo seja o prenúncio de que vale a pena dobrar a próxima esquina e descobrir novamente em que lugar nosso espírito passeia.

Certa vez um amigo me disse que estar feliz nesse mundo de lágrimas é um sonho impossível. De certa forma ele está certo. Conviver todos os dias sem uma parte de você é tarefa penosa.

Um dia, enfim, nossos olhos se fecharão para sempre e se livrarão dessas nuvens incômodas.

E quando se abrirem de novo, todos seus pedaços se reencontrarão definitivamente e nunca mais uma noite com garras afiadas lhe machucarão os pensamentos.


Assim seja.

Apollo

sábado, 17 de maio de 2014

Uma fase de regeneração

Conflitos... 

Amargas bênçãos permitidas por Deus para nos tornar melhores.

Emergentes de nossos defeitos e imperfeições, os conflitos são ferramentas necessárias. São como remédio amargo em direção à cura da patologia implacável. Se o orgulho nos leva à petulância e à prepotência, o conflito derivado desse defeito congênito, nos leva de volta aos braços da humildade e do amor.

Paz de espírito nos conduz ao verdadeiro amor.

Tranquilidade moral nos torna retos com o auxílio da disciplina.

Perturbações espirituais encontram fim na boa ação praticada a outras pessoas.

Longe de ser um defeito, o amor se regenera à medida que nossas vaidades são queimadas no teatro de nossas lutas diárias.

Vale a pena ser paciente. Vale a pena perdoar.

Mesmo que a solidão atormente a quem muito ama, seu prêmio maior está a caminho. Faça o melhor de si e não prejudique ninguém, assim, seus defeitos serão aterrados sob os escombros da bondade.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Os ventos gelados do sul (vem chegando...)

O ar frio vindo do sudoeste já se faz notar nos inícios das manhãs. O clima já está diferente...

Vem chegando a estação dos chalés de madeira sobre as montanhas, dos vinhos nas taças, dos fondues fervendo, dos pratos fumegando.

Vem chegando a estação do amor mais quente, das roupas elegantes, dos rostos frios de manhã.

Historicamente o ser humano busca o calor do fogo para se aquecer, para celebrar o fim das colheitas, para celebrar o amor.

Cerque-se de bons vinhos, de boa companhia, de um bom edredom e perceba que os ventos frios do sul não trazem apenas o frio... trazem muito mais coisas.

Beijo quente... fervendo!!



Apollo

domingo, 4 de maio de 2014

Gabriel Garcia Marquez

"Pode-se estar apaixonado por várias pessoas ao mesmo tempo, por todas com a mesma dor, sem trair nenhuma."

Gabriel Garcia Marquez

terça-feira, 29 de abril de 2014

Me fascina

Me fascina tua pele e teus olhos, e a insistência em te tornar ainda mais bela. Teus beijos, sempre quentes, são a prova do sentimento que trazes junto a teu peito;

Me perco em teus olhos sempre reluzentes. E tua mão com toque suave e envolvente. Suga-me o corpo e inala-me em tua alma;

Escolheste-me para eleger, junto a ti, o amor implacável que nos imerge em ondas fulgurantes de prazer;

Teu vestido, teus sapatos, teu batom... ruína de uma pobre alma que procurava por outra tão gêmea;

Juntos podemos resistir ao nascer do sol, que de tanta luz derramada nos faz parecer ofuscados dentro de uma incompreensível sombra clara;

Me fascina teus livros sempre lidos com a ânsia de saber que nunca serás mais que uma em minha cama;

E teu nome, sempre rima com meus métodos...

E tua voz nunca dizes que tens medo, apesar da certeza de que a lâmina pode cortar-nos em um só golpe;

Existe um objetivo nas lágrimas proferidas... amar, sofrer, sorrir, mas nunca desistir.

Apollo

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Recomendo esse livro

Estou lendo um livro que me foi muitíssimo bem recomendado, mas eu mantive minha guarda fechada até a quinta ou sexta páginas apenas. Como o livro foi escrito no fim do século XVIII, eu tive uma falsa sensação de que o livro me serviria apenas como um meio de conhecer as formas pueris e inocentes de transar daquela época. Mas qual foi minha surpresa ao perceber que os "métodos" desses nossos ancestrais são tão ou mais apimentados que os nossos. De queixo caído não pude deixar de colar uma "ingênua" página do livro aqui para que você entenda do que eu estou realmente falando. Ahh... o nome do livro? Filosofia na Alcova, da lavra de Marquês de Sade.

Publicado em 1795, esse romance na forma de diálogos faz a maioria dos livros eróticos de hoje parecerem contos infantis. Em meio a orgias com intuito de educar sexualmente uma jovem, o autor critica os costumes burgueses e a religião. Logo no início faz um apelo aos libertinos e pede para que as “mulheres lúbricas” desprezem tudo que contrarie as leis do prazer. A linguagem erudita e arcaica não diminui o erotismo e a narrativa transgressora de Sade, com direito a ménages e sodomias homos e héteros.

Recomendo com louvor. 

Beijo quente...
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Apollo


quinta-feira, 17 de abril de 2014

Estar sozinho...

Há o momento de amar, o momento de se restabelecer, o momento de estar sozinho. Conhecer a si mesmo é o primeiro passo para conhecer os outros. Estar sozinho parece cruel, a solidão incomoda, mas é o único jeito, reitero, o único jeito de se conhecer.

Esses pensamentos de Osho é uma boa reflexão sobre como lambermos nossas próprias feridas causadas no embate do dia-a-dia. Estar cego diante de si é o primeiro passo rumo ao precipício que se abre sob nossos pés.

Boa leitura!

Apollo

"Como descobrir o essencial? Buda saiu em silêncio durante seis anos. Jesus também foi para o ermo. Seus seguidores, os apóstolos, queriam ir com ele. Eles o seguiram e a certo momento, num certo ponto, ele disse: “Parem. Vocês não devem vir comigo. Agora, eu devo ficar sozinho com meu Deus.”. Ele entrou no deserto. Quando ele saiu de volta, ele era um homem totalmente diferente: ele tinha se defrontado consigo mesmo.

      A solidão torna-se o espelho. A sociedade é o engano. Eis por que você tem medo de ficar sozinho – porque você terá de se conhecer na sua nudez, na sua ausência de ornatos. Você tem medo. Ficar sozinho é difícil. Sempre que você está sozinho, você imediatamente começa a fazer alguma coisa, de modo a não ficar sozinho. Você pode começar a ler o jornal, ou talvez você ligue a TV, ou você pode ir a um clube para se encontrar com alguns amigos, ou talvez visitar alguém da família – mas você tem de fazer algo. Por quê? Porque no momento em que você está sozinho sua identidade se derrete, e tudo que você sabe sobre si mesmo fica falso e tudo o que é real começa a vir à tona.

     Todas as religiões dizem que o homem tem de entrar em retiro para conhecer a si mesmo. A pessoa não precisa ficar lá para sempre, isso é inútil; mas a pessoa tem de ficar em solitude por um tempo, por um período. E a extensão do período dependerá de cada indivíduo. Maomé ficou em solitude durante alguns meses; Jesus por somente alguns dias; Mahavir durante doze anos e Buda durante seis anos. Depende. Mas a menos que você chegue ao ponto onde você possa dizer “agora conheci o essencial”, é imperativo ficar sozinho."

Osho

sábado, 12 de abril de 2014

A mulher e os filmes pornôs

Outro dia eu estava lendo uma coluna num site, escrita por uma mulher, e ela se mostrava indignada sobre o público a que se direcionam os filmes pornôs. Eu devo concordar com ela.
Mulheres realmente assistem a filmes pornôs. E não são poucas mulheres! Mas elas escondem esse fato porque o primeiro comentário que ouvem quando contam esse pormenor a alguém é o tal do “Danadinha você, hein??!!”. Isso soa como se o fato de assistir a filmes pornôs fosse algo abjeto, anormal, inconcebível. Não deveria ser esse estardalhaço. Bem que poderia ser assim: eu vejo pornô. Ponto. De fato, soa tão inacreditável que nem a indústria pornográfica acredita. Comportam-se idiotamente ao voltarem o foco das produções pornográficas ao público masculino e ignoram peremptoriamente as mulheres. Logo elas que são um público tão fiel a esse tipo de demanda. Conheci muitas mulheres que, no recôndito de quatro paredes, me confessaram adorar filmes pornôs. Posso estar dando aqui a pista para a [re]descoberta da pólvora. Posso até mesmo dar dicas de como os profissionais da indústria pornô devam gravar os filmes tendo como alvo principal as mulheres. Para ser bem sincero, acho que os filmes pornôs de hoje são um lixo. Não possuem um contexto, não tem um enredo certo. Mal começa o filme e já se vê uma boa suruba ou então os atores já nus, contracenando falas curtas e pessimamente interpretadas. Cá entre nós, eu tenho ideias absurdas sobre como gravar filmes pornôs voltados a mulheres. Penso que o enredo do filme talvez dê mais tesão que o próprio ato sexual. Enquanto estiverem ganhando rios de dinheiro, não mudarão a forma de ver esse segmento bilionário. Como eu não tenho dinheiro para investir nessa área [uma pena], cabe-me apenas me voluntariar para ser uma espécie de consultor das produções pornográficas voltadas a mulheres. E eu não faria feio não.

Tenho contos escritos bem mais quentes que os contos que posto aqui, mas por uma razão lógica, não os posto. Não é o perfil do blog. Aqui falo do sexo sim, mas tendo como pano de fundo o amor. Falar de sexo pura e simplesmente é muito mais fácil.

Bem, voltemos ao tema central do post, porque divaguei muito. Os filmes de hoje são voltados apenas ao público masculino. E provo isso. É só vermos as descrições dos vídeos pornôs na internet para que você me dê razão. Via de regra são assim: “Mulheres safadas na sua região.”; “Esposa foi traída e quer se vingar.”; “Mães solteiras precisam de pau.”; “Sua esposa nunca vai saber.” É tanta frase com viés machista que as mulheres devem se sentir ainda mais “coisificadas” do que se sentem. É verdade!! A mulher é representada nos odiosos filminhos de putaria produzidos em estúdio dessa forma. Vendem a ideia de que a mulher se importa mais em dar prazer do que em sentir. Muitas vezes, violentada,  subjugada. A mulher gostosa e irritantemente passiva. A vadia insaciável e que sacia todas as fantasias do espectador. Vendem a  mulher sempre como um produto, um objeto que proporciona prazer, antes de um sujeito que sente prazer.

Além disso, nunca vi – se existe, me corrija – um anúncio direcionado ao público feminino, tipo “homens solteiros na sua região” ou “pais solteiros precisam de boceta.” Esses anúncios simplesmente não existem, por que se parte do pressuposto de que as mulheres não estão interessadas.

Para vender um produto a um público é necessário conhecê-lo antes. Fica a dica a algum produtor de filmes pornôs que se interesse em multiplicar seus lucros: invistam em pornô voltado a mulheres. Caso queiram uma humilde colaboração, estou à disposição {hehe].



Beijo quente!
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Apollo

Mulher de calcinha em casa

Tem coisa mais linda do que mulher ficar só de calcinha em casa? Sinceramente eu acho que pode até existir coisas mais lindas que isso, mas esse número de coisas pode ser contado nos dedos de apenas uma das mãos [e sobra dedo]. Fico me perguntando se elas gostam de ficar de calcinha apenas para mero conforto delas ou para nos provocar mesmo. Nem penso em chegar a essa conclusão porque seja qual for o resultado, o mais importante para mim é vê-la de calcinha. Mas se querem um pitaco meu, acho que a segunda alternativa é mais que rotineira.

É uma espécie de mensagem subliminar dizendo: veja, eu tenho tudo isso que você está vendo e está a poucos metros apenas de você. Daí minha paz se vai embora, meus pensamentos se canalizam nesse pormenor e passo a imaginar nós dois conectados pelo prazer e pelo sentimento que nos une.

Outro dia, no trabalho, fiquei imaginando você de calcinha passeando sua bunda redonda, morena e volumosa pela nossa casa. Mais precisamente aquela calcinha preta [será que aquilo é calcinha mesmo, ou apenas metade de uma?]

Seja como for, me perco nessa cena. Já cheguei a pensar que isso fosse uma espécie de doença, um fetiche mais que exagerado. E se for? Nesse caso devo apenas dar vazão a esse instinto masculino que me lança em situações tais que me levaram a criar esse blog. E desfrutar do ato de tirar sua calcinha e estocar-lhe à exaustão...

Beijo quente!
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Apollo


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Cora Coralina

Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

Cora Coralina 



quarta-feira, 2 de abril de 2014

Atmosfera

Hoje eu serei o dono da noite. Vinho chileno, velas decorativas brancas ao pé da cama, uma maçã para simbolizar a paixão, perfume amadeirado no ar, comida leve no prato, talvez um risoto, talvez uma massa.

Banho de espuma, sais de banho, quem sabe. Toalhas limpas e perfumadas. Lingerie vermelha... pequena e audaciosa.

Eu e a penumbra de nosso quarto a esperamos. A chama das velas desenharão imagens confusas e incompreensíveis nas paredes. A atmosfera está pronta. Agora só falta você chegar e tingir todo esse cenário com as cores sutis de sua pele acetinada, de seus olhos faiscantes.

- Olá!

Eu nada respondo. Apenas toco-lhe o quadril e aperto com força.

- Mas o jantar está na mesa... balbuciou ela.

Não haveria mais tempo para outra coisa. O jantar esfriaria ali mesmo... na mesa.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Ao telefone...

- ... Problemas são feitos para serem resolvidos, não?

- É verdade. Muito embora demandem tempo.  Eu acho que existem problemas que colocam em xeque toda nossa estrutura construída em anos e anos. - Disse Eduardo, sentado à beira de sua cama, numa manhã de um preguiçoso domingo.

- A experiência é um farol que ilumina para trás. Tudo que é construído vale muito pouco quando se trata de futuro. Nadar, morrer na praia e mais um monte de frase pronta. Disse Antonieta, sorrindo.

O rapaz, que havia chegado tarde da rua, sonolento, mas ainda assim alimentava com interesse aquela conversa com sua potencial cliente. Ele fora procurado por Antonieta dias antes pelo seu blog de divulgação profissional, onde aquela manifestava interesse em conhecê-lo. Eduardo respondeu-lhe:

- Frases prontas que eu não conhecia e são boas para reflexão. Mas não falemos de problemas, pois não devem ser citados quando se está com uma mulher e a ela deve ser dada toda a atenção do mundo.

Antonieta se sentiu especial, como há um bom tempo não se sentia. Ela deu um sorriso morto no telefone e se perguntou se aquilo tudo era real. Estaria ela se envolvendo com um homem que lhe inspirava apenas tesão ou muito mais que isso?

Eduardo tinha toda a paciência do mundo em envolver uma mulher e trazê-la para a atmosfera a ele submetida, onde ele determinava qual era o momento de atacar, de defender, de dominar e de fazer explodir em desejo. A conversa seguia afável, mas parecia haver um tabuleiro de xadrez diante dos dois, onde cada palavra a ser dita era como a jogada que determinaria o xeque-mate. Eduardo sabia que alguns tipos de mulheres, antes de sair com um garoto de programa, precisam se envolver de alguma forma e interagir com o profissional do sexo. Isso lhes dá mais segurança e cria um laço, mesmo que tênue, onde se torna possível uma entrega parcial. Esse tipo de mulher não se entrega sem um contato inicial, mesmo que fosse por telefone ou pela tela impessoal de um computador. E era exatamente esse perfil feminino que atraía Eduardo. Ele investia mais energia e capacidade de persuasão quando se deparava com essas mulheres. Até existe uma explicação lógica: trabalho feito com prazer é diversão.

- Acho que os homens lidam muito melhor com os problemas. Disse Antonieta.

- Pode até ser, mas alguns homens são muito confusos para resolver um problema também. Só não assumem isso.

- Que nada, moço. Homem é mais resolvido. Com ele é 8 ou 80.

- Você conhece dos homens só aquilo que eles externam por gestos, palavras ou atitudes. Entretanto, seus pensamentos escondem abismos enormes.

- Nossa! Estou surpresa com esta revelação.

Eduardo sorriu do outro lado da linha.

- Mas as mulheres sempre souberam disso...

Aquela interessante mulher, com pouco mais de 35 anos, era neta de um importante político gaúcho que fez carreira no Rio de Janeiro. Herdeira de uma fortuna incalculável, havia sido testemunha do glamour da alta sociedade gaúcha, mas hoje, após ver morrer seu noivo a quem dedicara boa parte da vida, num grave acidente automobilístico, vivia pelos cantos, chorosa, sentindo falta daquela alma tão parecida com a sua. Depois que conheceu Eduardo, percebeu que almas generosas são mais frequentes que pensava. Mas mesmo as generosas têm seus momentos de solidão, trevas e dúvidas.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Antero de Quental - Oceano

Junto do mar, que erguia gravemente
À trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...


Antero de Quental