domingo, 6 de julho de 2014

Simile

Havia uma pequena vila cravada numa densa serra, alta e fria nos meses de inverno. Sua aparência, funesta nos meses quentes, se tornava bela e misteriosa na época do frio. Ali reinava a paz indevassável e seus habitantes viviam fartamente com a certeza de que tudo aquilo lhes bastava e nunca acabaria. Permanecia sobre a vila, perdida e fria, um nevoeiro que teimava em ficar ali, parado por dias, meses, anos a fio. Muito raramente os raios do sol se esgueiravam por entre o nevoeiro e iluminava as casas por instantes. Um dia, porém, ao sul do vilarejo se formou uma grossa e pesada tempestade. Dia após dia a tempestade se tornava mais forte e se aproximava mais e mais da cidadezinha pequena.

Numa manhã nebulosa a tempestade abateu-se, enfim, sobre a cidade. Os ventos cortavam os rostos mais incautos com força. Foram dias assim, meses. Era preciso ficar dentro de casa, com a lenha crepitando no fogo, para que o calor lhes aquecesse, mesmo que debilmente. 

Um dia também, a tempestade se foi. Depois que ela se perdeu por trás das últimas montanhas que podiam ser vistas ao norte, estabeleceu-se um dia claro e ensolarado sobre a vila. No outro dia, novamente sol. A assim se sucederam vários meses. A luz trouxera um entendimento diferente aos habitantes da distante vila. Embora eles soubessem que o nevoeiro foi-lhes necessário até aquele momento para darem melhor valor à luz, eles também sabiam que um dia o nevoeiro poderia retornar do mesmo lado da serra e trazer os sentimentos de outrora novamente. Seria então necessária nova tempestade para que tudo se fizesse luz de novo. Era melhor para todos eles que o sul só trouxesse ventos calmos. Assim a luz nunca mais iria embora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário