quarta-feira, 25 de abril de 2012

Coisas do coração 3


O dia mal amanheceu e Joana estava a andar de um lado para o outro do quarto pensando: o amor é mesmo cheio de armadilhas e contradições. Os momentos em que ele nos toma, como que de forma voluptuosa e selvagem, apesar da insistência inútil de desvencilhar-nos dos seus braços sedutores, esses momentos nos parecem eternos. Apesar de que a eternidade é impossível de compreender pela forma metafísica. Deus é eterno e o amor é eterno. Mas o que senti por ele não é amor. É o que então? Paixão? Desejo? Cumplicidade? Talvez seja todos esses sentimentos elevados a um extremo inimaginável. Mas amor não. Recuso-me e acabado. Acho que homens jovens devem se apaixonar por mulheres jovens e casarem-se com elas. Acho que homens mais novos dão um trabalho imenso na cama com toda aquela ânsia de possuir as carnes da mulher que ama e deseja. Acho que a sociedade, sobretudo minha filha, não entenderiam um amor assim. Lá vem eu falando de novo em amor. Oras.
Em vão procurou relaxar. Após um choro compulsivo foi ao espelho do banheiro e procurou nele o reflexo do seu rosto. A pele ainda fresca, a boca desenhada com cuidado, os olhos avermelhados e imersos em lágrimas. Procurou em si uma resposta para o seu dilema, mas não a encontrou. Os soluços, as lágrimas ainda presentes mostravam que o dia que mal começara já era testemunha de mais uma crise de choro.
Foi à padaria, preparou o café, cheirou a fumaça que subia do bule e fez uma carinha de mulher com fome. Sorriu quando se imaginou vendo a si mesma naquela situação. Comeu um fragmento do pão passado na manteiga, bebeu uma chávena de café e foi-se para o trabalho.
Seu Patrício não havia ido trabalhar naquele dia. Joana achou estranho, mas não comentou com ninguém. No seu computador nenhuma mensagem de Malbec. Notas fiscais, recibos, pedidos, expedientes, conversas infindáveis ao telefone. Nem viu o dia passar. Sei que o remédio é meter a cara no trabalho, pensou ela. À noite, no seu computador, uma mensagem de Malbec: “me espera logo mais, precisamos conversar, te amo, Malbec.” Joana estremeceu e sentiu uma faísca irromper-lhe os olhos. Me ama? Ele nunca havia dito isso. O que será que ele quer? Apesar de negar para si mesma, Joana estava demasiadamente alterada para notar que havia adorado a mensagem e que iria falar com ele novamente, apesar de fazer jogo duro com o pobre rapaz. Lá pela meia noite, ele entra no programa de mensagens instantâneas e se põe a confessar de forma peremptória e inesperada, seus sentimentos. Disse que a amava apesar de nunca terem-se tocado, e que esse fenômeno o surpreendera também, mas que era fato e não podia fazer nada contra isso. Que precisava materializar esse sentimento, que a queria, de forma efetiva, para ele. Joana sentiu-se sobressaltada com a confissão do rapaz. Disse por fim que era mais velha que ele, que um suposto romance entre ambos não daria certo, que as pessoas iriam falar dela, que a mãe dele não a aprovaria, essas coisas. Nem falou da sua filha. Malbec disse-lhe que tomaria um ônibus para a cidade dela no outro dia, apesar das negativas insistentes de Joana. E disse por fim: vou e acabou-se. Quero ir parar na sua porta, mas como não o posso, espero que você me encontre na rodoviária. Se você não estiver lá, saberei que seu preconceito contra mim foi maior que esse amor que martela seu coração. E despediu-se. Joana sentiu todo o seu ser gelar diante da decisão do rapaz. No outro dia, sábado, às 7 da manhã, ele estaria na sua cidade. E agora? Precisava pensar rápido no que fazer.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Parece loucura

Perguntaste-me se penso em tu assim como pensas em mim. Digo-te que penso muito mais. E digo também que consegui voltar no tempo... por quinze anos!!! Parece loucura..... mas não é.

Coisas do coração 2

Seus olhos abriam para um novo dia e, preguiçosos, conferiam a janela, a cortina, a TV que passou a noite ligada. Dormira novamente com a TV ligada. Ela ria, mas se repreendendo em seguida pelo fato. Lembrou-se, de repente, da mensagem que enviou para Malbec na noite anterior e da conversa que tiveram. Ele era muito especial, realmente. Além de lhe parecer muito inteligente, conhecia com minúcias os vinhos que tanto lhe atraíam pelo romantismo e pelo mito de milênios. Pronto, sua vida virou-se de cabeça pra baixo. Essas paixões repentinas não lhe visitavam desde quando se divorciou do marido. Ia com freqüência a casa de suas amigas, onde um dia, conheceu um quarentão de cabelos grisalhos, que lhe atirou um olhar daqueles penetrantes e lhe disse oi. Depois de conversarem por algumas horas, tocaram-se de leve os rostos e se beijaram na face, selando o primeiro encontro. Depois de poucos meses, descobriu com certa ojeriza que ele era casado. Com isso, Joana aumentava cada dia mais o muro que construíra dentro si para se defender dos homens. Aí foi a última vez que se apaixonara de repente. Temia sofrer, como a criança que teme dormir no quarto escuro, e prometia para si mesma nunca mais se envolver com os homens. Mas hoje sentia que algo havia mudado. O muro continuava alto e inacessível, e com essa segurança, Joana arriscava conversar noites a fio com Malbec, sem saber seu nome real, quem era, ou mesmo sua idade. Essa era a forma que ela se protegia de uma provável decepção, afinal, seu muro a protegia contra as ciladas do coração. Todas as manhãs, na repartição, e todas as noites, em casa, abria as mensagens doces e apaixonadas do seu “bebedor de vinhos“, e lhe respondia todas com a mesma doçura e emprestando a cada letra um carinho inenarrável e inconfessável, mas casual, pensava ela. Nunca mais saíra com Suzana e Marta, seu interesse pelo barzinho de sempre de repente se esfriou, diria até que gelou.
Uma noite, ao abrir seu programa de mensagens, deparou com uma mensagem de Malbec que dizia: “estou na aula, infelizmente não posso lhe dedicar agora a atenção que você merece. Um beijo quente de paixão. Malbec.” Pronto! Malbec estudava ainda? Cursaria o ensino médio, uma faculdade? Um doutorado? Não. Acho que ele faz mesmo é o ensino médio. Então ele deve ser muito novo. E eu com 4.0. Ai meu Deus! De novo não. Será que não dou sorte no amor? Será que sempre perco nesse jogo? E divagava sem parar, sem se dar conta que o tempo voava. Até que num momento, Malbec lhe chamou no computador, dizendo que já estava em casa. Com o receio de descobrir o que já previa, perguntou a ele sua idade. Ele lhe disse qual a razão dessa pergunta já que ela mesma havia determinado que essas informações não eram necessárias, pois ela preferia a impessoalidade. Mas diante da insistência dela, ele confessou, afinal. 32. 32? Pensou ela. 32? Meu Deus! Mas disse alguma coisa, com falsa naturalidade e disfarçou a decepção que tomara conta dela. Já na cama, dizia para si mesma. Acabou o encanto.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Amor atemporal

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

Willian Shakespeare



domingo, 15 de abril de 2012

Eu e você

…Pois que a beber me deste em taça transbordante,
E a fronte no teu colo eu tenho reclinado,
E respirei da tu’alma o hálito inebriante,
- Misterioso perfume à sombra derramado;
Visto que te escutei tanto segredo, tanto!
Que vem do coração, dos íntimos refolhos,
E tive o teu sorriso e enxuguei o teu pranto,
- A boca em minha boca e os olhos nos meus olhos…”

Victor Hugo

O bilhete

Um homem que estava distante de sua amada, com loucas saudades de seu calor, escreveu certa vez num papel branco um pequeno bilhete, influenciado por um sonho que teve, enviou pelo correio, mas a carta não chegou. Desviara. Poucos dias depois ele morreria num acidente de carro. Inexplicavelmente, a carta foi recuperada pela empresa e chegou às mãos da moça enlutada e prestes a colocar fim em sua vida. Ela abriu o envelope após ver que o remetente era seu amado, e leu:

Que teu dia seja lindo como teu olhar. Que tua vida seja longa como meu amor por ti. Mesmo estando longe, amo-te e quero-te bem. Que tua tarde lhe traga a certeza de que a noite será iluminada apesar de escura, amena apesar do calor que insiste em nos torrar. E que minha vida, apesar de efêmera, não signifique que com seu fim, deixarei de amar-te. E que eu possa habitar teus pensamentos, pela eternidade. Amém.

A moça chorando desistiu do seu ato, e percebeu que realmente o amor é maior que a vida, mas que a vida sem o amor, que a vida sem sentido não basta para que ela tenha uma razão de se viver.



sábado, 14 de abril de 2012

Coisas do coração - 1


O relógio cravava sete horas quando um ônibus surgiu na rua asfaltada que cortava o bairro das Quitérias, que ficava na região afastada da cidade. Joana olhava loucamente para o relógio que sempre estava dez minutos adiantado, pois já havia perdido a hora milhares de vezes. De quando em quando olhava para os lados para ver se o ônibus que chegava era o que precisava apanhar. Como sempre, depois de vinte minutos além do horário, estacionava a sua frente um ônibus lotado, com pessoas de todos os matizes se apertando e se acotovelando. Joana pensava no mecânico, com raiva, por ter atrasado a entrega do seu carro novamente. O cheiro disforme e nauseabundo que exalava de dentro do ônibus, enjoava o olfato de Joana, a ponto de ela ter que saltar bem antes do ponto do seu trabalho, por receio de passal mal perto de todos. Já na empresa, esbaforida, Joana cumprimentava, como sempre, os colegas que a olhavam e invejavam a jovialidade que efervescia dela, no auge dos seus quarenta anos. É que ela vivia seus dias com a certeza de que o amor é o que tempera a vida, e por isso tem que ser vivida devagar. Joana tinha o hábito de sorrir um sorriso franco e branco, que lembrava uma criança de cinco anos sorrindo ao ver seu ursinho preferido.
- Minha filha, até quando você vai roubar a cena quando chega na empresa? Dizia o Seu Patrício que era o chefe da repartição e era apaixonado por Joana.
- Eu, Seu Patrício? E ria como que convidando o chefe para celebrar um dia de alegria e de luz pela frente.
- Eu ainda te mando embora, sua doida. E Seu Patrício saía andando com a dificuldade que os anos lhe trouxeram.
Joana sentia uma certa pena de Seu Patrício que era uma pessoa adorável, mas que dedicara toda uma vida atrás de uma mesa de repartição pública cuidando da compra de insumos para a empresa de eletricidade local. Disso tudo não teve reconhecimento da chefia, já que não titubearam em promover a encarregado geral um garoto de vinte e poucos anos que colocaria pilha nova na repartição, segundo a chefia de Belo Horizonte, mas todos sabiam que o garoto era pupilo do manda chuva da empresa de energia.
Em sua sala, Joana abria seu computador toda manhã, e antes que iniciasse seu expediente normal, conferia seus e-mails, lia suas páginas em sites de relacionamentos e abria seu programa de mensagens instantâneas para reencontrar velhos amigos da faculdade ou mesmo alguma pessoa interessante com quem pudesse conversar sobre algum assunto de seu interesse, porque em seu convívio ninguém entendia nada sobre música clássica, vinhos ou arte barroca. Nesse dia, quando Joana abriu uma sala de bate papo online, foi imediatamente acionada por um tal Malbec, o qual muito sutilmente, iniciou uma conversa muito interessante com ela. Conversaram pouco tempo, mas de tudo que falaram, Joana sentiu algo diferente nas palavras daquele homem, algo que lhe estremeceu as fímbrias mais recônditas do seu ser. Deve ser bobagem de quem está sozinha, dizia ela, fechando o programa e iniciando sua rotina normal de trabalho. Quando o dia começava a anunciar seu fim, quando o relógio atropelava os ponteiros, o expediente terminava e Joana saía pela rua, leve, solta, ávida por encontrar suas amigas e dissipar a sede acumulada durante o dia, num barzinho com música ao vivo. Lá, Suzana e Marta lhe aguardavam já com uma cerveja gelada sobre a mesa e conversando sobre amenidades da vida.
- Nossa, Joana, pensei que você não viria mais! Disse Suzana.
- Eu estava esperando vocês duas lá na repartição. Como não apareceram, vim pra cá pensando na vida e no meu fim de semana com minha filha.
- Fim de semana com a filha? Vai me dizer que vão para aquele hotel-fazenda em Itatiaia? Perguntou-lhe Marta.
- Hotel-fazenda de novo? Que nada. Vamos para o vale do Paraíba na casa do namorado dela. Você acha que deixo minha filha ir pra lá sozinha? E as três irromperam numa risada uniforme e ardida, a ponto de chamar a atenção de alguns fregueses do estabelecimento.
Os copos eram enchidos com cerveja, regularmente. Joana amava esse happy-hour com as amigas que sempre estavam de bem com a vida, e o bom humor que também lhe era peculiar, reinava na mesa. As paqueras ocorriam sem preconceito, já que as três eram descompromissadas. Suzana e Joana eram divorciadas e Marta perdera o marido num acidente trágico, há alguns anos.
Após pagar a corrida de taxi, já em casa, Joana sempre preparava seu jantar, conversava longamente com a filha sobre assuntos corriqueiros. Riam juntas e celebravam o laço espiritual que as unia desde há muitos séculos. Nesse dia particularmente, sua filha não estava em casa, havia ido para a aula de inglês que acabava de começar. Ao passar próximo a sua adega, que mantinha na sala de jantar, casualmente, deu com os olhos numa garrafa de vinho chileno, onde pôde ver escrito em letras trabalhadas e muito bem contornadas a palavra Malbec. Imediatamente lembrou-se do homem com quem conversara na repartição, pela internet, Malbec. Com certa ansiedade, foi para seu lap-top, e quando abriu, apressadamente, seu programa de mensagens, viu uma mensagem assinada por Malbec que dizia assim: “o vinho é o combustível que move o sangue nas veias, o sangue é o combustível que move os sentimentos em nós. O sentimento de carinho que nutri por você hoje, é prova que nossa conversa será eterna para mim e esse momento foi especial para nós dois, bem sei.” Como que uma adolescente, Joana sentiu um frêmito percorrer-lhe a face, sentiu uma faísca partir de seu peito e morrer nos pés. Não se confessou apaixonada naquele momento, mas certamente alguma coisa mudara dentro dela. Embora relutasse contra algo tão efêmero e sem importância, aparentemente, seus pensamentos volteavam, mas paravam sempre naquela mensagem doce e cheia de vida que seus olhos acabavam de ler. Isso é loucura! Dizia ela enquanto botava a manteiga na frigideira. Esse cara pode ser casado, não sei nada sobre ele. E colocava o contra-filé para passar. Acho que vou responder a mensagem, decidia afinal, deitando a garrafa de vinho sobre uma taça. Respondeu a mensagem educadamente, afetando a atração que ele lhe despertara. Enquanto respondia a mensagem ele acessou o programa e conversaram longamente aquela noite. Lá pelas tantas estava exausta e foi para a cama.

Adeus


            Você aqui sentada ao meu lado. O silêncio maldito que domina o ambiente. Mal posso ouvir o vento soprar manso e sereno como há minutos. A conversa amarga está por acontecer e não conseguimos iniciá-la. Nem mesmo sei se acabei de chegar ou se estou aqui há dias. Vejo seus olhos inchados de chorar. Passou a noite sentada no sofá da sala procurando as palavras certas, ou menos erradas, para comunicar-me sua decisão. Eu cheguei quando o sol coloria o céu com seus primeiros alvores. Cheguei em casa e não lhe encontrei, só o que sobrou daquela que conheci. Você com o rosto de sempre, com os mesmíssimos traços que conheci há anos, mas se sentindo abandonada, sabe que vou deixar-lhe.
            Preciso conhecer outras coisas, pensei comigo, mas sem coragem de dizer-lhe. Sempre estiveste ao meu alcance, mas eu nunca a quis com a intensidade que esperava de mim. Sei que você sempre me amou. Eu nunca tive coragem de dizer-lhe o que você decidiu dizer-me agora.
              Tudo já passou. Nossos momentos, nossas noites. Eu sempre chorava e você sempre me consolava. Tenho certeza que ainda vais voltar sorrindo para esta casa, e quando eu lhe abrir as portas, entrarás, absoluta e radiante, com uma garrafa de vinho nas mãos.
            Quisera eu que você fosse uma mulher e não apenas um sentimento. Você, Solidão, sempre me foi companheira, mas por esses dias, decidi viver. Diga logo seu adeus e vá embora.

Experimentando o pecado - Parte II



O primeiro encontro entre Eduardo e Denise foi por acaso e com a contribuição de forças acima de nossa compreensão. Eduardo estava trabalhando em seu escritório quando a secretária anunciou que sua esposa o aguardava no telefone. Cris dissera-lhe que a mãe havia se separado do marido e estava péssima por isso. Precisava viajar para a casa dela e fazer companhia por uns dias. Mais que depressa Eduardo concordou, já pensando em estar com Denise. Desejou-lhe boa viagem. Nem mesmo despediu-se pessoalmente. Desligou o telefone e já puxou seu telefone celular do bolso e ligou para Denise. Combinaram de encontrar-se naquela noite.
Denise chegou ao local combinado. Estava linda. Eduardo olhava-a maravilhado e já pensando em estar com ela sobre uma cama. Denise procurava naquele homem um sentimento maior que mera atração física. Eduardo procurava era sexo em Denise. Não poderiam ir a nenhum local para tomar alguma coisa, não poderiam ir a um restaurante jantar, porque alguém poderia ver Eduardo e as explicações não bastariam para amenizar sua transgressão. Foram a um restaurante de beira de estrada distante dali vários quilômetros. Denise, sempre carinhosa e expectante pelo amor do homem casado, olhava-o com um brilho no olhar. Eduardo olhava-a com tesão mesmo. Tomaram algumas cervejas para aliviar o calor daquela noite de começo de ano. Jantaram, mas Eduardo mal mexeu no prato. O pensamento dos dois era evidente que estava longe dali.
Assim que saíram do restaurante, Eduardo sugeriu à Denise que fossem a um motel. Denise de pronto recusou o convite. Era moça de família e nunca tinha ido a motéis e não seria aquela sua primeira vez. Foram parar na casa de Eduardo. Ao menos ele levou-a ao quarto de visitas preservando sua cama de presenciar aquilo que aconteceria entre eles. Denise estava divinamente vestida com um vestidinho que caía solto no corpo. A imaginação das suas curvas por debaixo do tecido fazia com que Eduardo se excitasse ainda mais. Denise almejava uma noite de amor com aquele homem que despertou nela um desejo contido há muito. Eduardo olhava-a com um brilho diferente nos olhos. Tomou-a pelos braços, ela em pé na beira da cama, ele sentado. Beijaram-se ardentemente. As mãos dele percorriam o corpo da mulher já por baixo do vestido. Ele sentia que a calcinha que ela usava era minúscula e isso o atiçou ainda mais. Já visivelmente tomados pelo desejo, Eduardo tirou a peça que ela vestia e deixou-a apenas com a calcinha no corpo. Realmente o corpo da bela morena é lindo. Beijou-a por todo o corpo, após deitá-la na cama. Iniciaram rapidamente o ato sexual como dois animais sedentos de desejo. De fato aquela noite foi regada a sexo. Ao amanhecer do dia, eles dormiam nus encostados, semi-abraçados, extenuados. Quando Eduardo acordou, seus sentimentos já haviam mudado sobremaneira. Não desejava mais apenas a moça. Sentia um imenso carinho por ela. Acordou-a com beijos no rosto e pescoço. Ficou demoradamente beijando os lábios de Denise que era proibida por ele de corresponder; podia apenas receber os beijos e ficar inerte. Ele beijava repetidamente os lábios dela que adorou ser acordada daquela forma tão doce. Nunca mais esqueceria aquele momento que, em si, foi muito mais carinhoso que toda a noite que apenas foi tomada pelo prazer. Denise já estava apaixonada.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Vamos falar do amor

Esse é o primeiro post que publico com o intuito de conversar um pouco com você. Nesse início de blog, pouco mais de um mês, penso que o simples prazer de derramar palavras sobre páginas eletrônicas já me é recompensa por ter tido tamanha iniciativa inédita em minha vida. As palavras sempre me foram amigas. Sempre gostei de pregar os olhos nas letras e ir decifrando o que elas continham naqueles símbolos enigmáticos para mim. Lembro-me que em minha infância todas as palavras formavam meu nome, pois minha maneira infantil de ler era correr com o indicador sobre qualquer palavra e à medida que o dedo ia se arrastando, eu ia dizendo meu nome. Assim, todas as palavras tinham meu nome escrito. Lembranças de um tempo de inocência, lembranças de quando tudo me parecia grande e novo ao mesmo tempo.

A adolescência foi chegando e o despertar da atenção para o corpo feminino foi se aguçando de forma natural. Nunca fui um garanhão, um Dom Juan. Sempre fui um rapaz reservado em meus relacionamentos, embora houvesse sim uma mania mais que machista de espalharmos nossas conquistas amorosas entre os amigos; coisas de adolescente.

Sempre acreditei no amor. O amor para mim possui vários rostos, várias formas, várias versões. Acreditar em um amor apenas para toda a vida é uma forma egoísta de vê-lo. O amor é um sentimento nobre, sublime, eivado de bons sentimentos e alijado da mera posse da carne. Enfim, ele é bem maior que o amor criado e idealizado pelos homens. Ainda estamos começando a compreendê-lo. Falta muito por fazer.

Espero sinceramente que eu possa aprender a contar histórias no blog que ouso criar e que você possa conhecer um pouco dos devaneios e dos dias de um homem que sempre soube que há que se tratar uma mulher com toda doçura que se pode, e que o amor é a única coisa que vale na vida. Sempre penso que os sofrimentos que caso eu tenha causado serão para mim razão para aprendizado e oportunidade para tornar outra mulher mais feliz; uma espécie de compensação. Mas para aquela mulher que fiz sofrer, mesmo sem ter a intenção, essa compensação de nada vale. O que lhe valerá são as lágrimas que lhe fundirão no espírito a crença de que o amor é feito também de dias chuvosos e não apenas de manhãs ensolaradas.

Ir sobrevivendo



A luz se derrama sobre meus dias envolvendo-me em uma cortina leve de um amálgama de fragrâncias sutis. Mal posso respirar frente à beleza que bate inexoravelmente no peito. Percebo que é hora de eu juntar novamente meus pedaços soltos durante a tempestade da noite inteira e sobreviver. Ir sobrevivendo até agora e sem razão.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O desejo de Apollo - 2

Pontualmente às dez da noite Apollo buzinou o carro na rua de baixo de sua casa. Amanda disse pra ele que não fosse até sua porta, pois morava com os pais e ela não queria explicar para eles que fosse sair com uma pessoa pouco depois de terminar um namoro. Ela desceu as escadas em passo apressado, na velocidade que seu enorme salto permitia. Ele a esperava do lado de fora do carro. Abraçaram-se e entraram no carro. Ele deu partida no motor e saíram andando sem rumo, mas foi interpelado por ela que quis saber onde iriam. Ele respondeu que queria rodar sem ter aonde ir, que queria estar ao lado dela e ouvir e sentir sua doce voz, mais nada. Eles conversaram futilidades. Amanda estava nervosa. Sentiu-se como uma adolescente ao lado daquele homem que a atraíra desde o dia anterior pela sala de bate-papo. Ela percebeu certa perspicácia nas palavras dele. Ao telefone, percebeu que ele articulava bem a voz, pronunciava com cuidado as palavras que lhe falava. Amanda começou a desenhar em sua cabeça como seria uma vida em comum com aquele homem adorável.
Ele parou o carro em uma praça com pouco movimento e conversaram sobre eles, sobre suas vidas, ocupações, preocupações, sonhos, futuro. Foi uma conversa que não permitia que eles dessem conta que os ponteiros do relógio voavam pelo mostrador. Nisso, ele já havia roubado um beijo dela, e se abraçavam apertadamente. Apollo pediu-lhe para que fossem para um lugar mais tranqüilo. Foram parar em um motel. Ele escolheu o quarto com atenção e desceu o toldo da garagem. Já dentro daquele cenário de encontros românticos, eles sentaram-se e logo em seguida deitaram-se na cama, ainda vestidos e trocaram longos beijos com o toque da língua na boca, com a respiração ofegante que denunciava que o desejo se fazia ardente.
Eles pouco se importavam que não tivessem começado a tirar suas roupas e caíssem um sobre o outro famintos por sexo. Eles nem foram para aquele lugar pensando em sexo, por mais descabido que possa parecer aos mais insensatos. O desejo deles era não serem interrompidos naquela noite mágica e única. É possível se admitir que isso era algo previsível, mas considerar que pudesse acontecer é diferente de dizer que fosse certo que ocorresse.
O calor dos movimentos que eram lentos em sua essência, mas quentes no que denunciavam, foram o prelúdio de carícias mais envolventes. Ele percorria todo o corpo de Amanda com a língua, derretendo-a em gemidos extenuantes. Ela apertava a cabeça dele contra o peito, e ele, sofregamente, tirou-lhe a t-shirt, e fartou-se em seus seios. Amanda gemia agora alto, e esfregava suas pernas nas pernas dele, em movimentos vigorosos. Incrivelmente ela não o deixou tirar-lhe suas calças, queria evitar que ele pensasse mal dela. Apollo a respeitou de pronto embora o forte tesão lhe sugestionasse o contrário. A cadência caiu novamente para beijos mais suaves. Eles estavam tomados pelo desejo e só cabia a Apollo envolvê-la naquele clima sensual que exalavam as paredes do quarto. Ela reclamou de calor em certo momento e perguntou a ele se se incomodava caso ela quisesse tirar as calças. O rapaz entendeu o que ela queria fazer e disse que não se importava. Quando ele a viu de calcinha apenas, o desejo tomou-lhe de novo, violentamente. Tomou Amanda nos braços, deitou-a sobre a cama redonda e posicionou-se por cima dela. Com a rapidez de um relâmpago ele desfez-se de suas calças com apenas uma mão e passou a excitá-la agora esfregando seu sexo no dela. Amanda deu sinais que abrira mão da luta inútil. Ele puxou sua calcinha de lado e tocou seu sexo com os dedos. Ela pingava de desejo. Então afastou sua cueca de lado também e passou a pincelar seu membro em Amanda, fazendo com que ela erguesse seu quadril em busca do falo do rapaz. Ela implorava com os olhos para que ele a possuísse de uma vez. Não agüentando mais, ele penetrou-a vagarosamente, e quando chegou ao fundo, parou, olhou-a nos olhos, beijou-lhe delicadamente a boca e começou um sutil e vagaroso movimento de vai e vem, o qual foi aumentando o ritmo a cada estocada, e a cada gemido povoado de prazer que Amanda dava em seu ouvido. O sincronismo entre eles era fantástico e indescritível. Quando explodiram num gozo alto, Amanda quase desfaleceu sobre a cama e ficou de bruços com os olhos semi-cerrados olhando-o enquanto ele continuava a beijar-lhe a face, o pescoço, e passear a língua sobre aquele corpo ainda em chamas. Em poucos minutos, o rapaz não contendo o desejo de vê-la deitada de bruços, com aquele corpo lindo e nu pedindo por mais amor, foi por cima da moça e começou a beijar-lhe a nuca, o pescoço e logo ele estava pronto para novo ato. Amanda entendendo o que lhe aguardava, contribuiu o quanto pôde para receber o membro dele novamente dentro de si, o que aconteceu sem esforço nenhum, porque ela estava muito excitada. Esse ato foi mais agressivo, se é que pode se chamar assim, e ela teve vários orgasmos dessa vez. O rapaz tirou-lhe o fôlego repetidamente, e por fim gozou sobre suas costas num alto gemido de prazer e volúpia. Ficaram se acariciando por longos minutos, até que seus corpos recuperassem o vigor e fossem tomar banho juntos, se namorando ainda no chuveiro.
Ficaram de se encontrar novamente, porque o sentimento que havia nascido naquela noite foi bem peculiar. Ele estava carente há muito tempo, assim como ela, e uma noite de amor, era um segundo frente a uma eternidade que os aguardava. Amanda povoou seus pensamentos naquela noite, e seu sono foi tranqüilo, sereno. Na manhã seguinte, ela acordou com um sorriso leve e solto nos lábios, deu bom dia ao sol que já pairava no zênite do céu, e foi começar seu dia.

Experimentando o pecado - Parte I



Era inverno. O mês era junho. Eduardo e Denise saíam juntos há quase cinco meses. Saíam juntos, não eram namorados, porque Eduardo era casado. Eram o que pode se chamar amantes. O desejo ensandecido da paixão, da vontade de estarem sobre o leito se amando, era o combustível que os fazia abandonarem-se mutuamente aos prazeres do sexo. Moravam numa cidade de quase cem mil habitantes do sul de minas. Assim que se conheceram, no calor tórrido de janeiro, descobriram, durante a primeira conversa, depois de falarem de política,  que eram adeptos do clima frio, que adoravam o inverno. E por essa razão, Eduardo que já havia estado no distrito de Monte Verde, região serrana do extremo sul de minas, com sua família, propôs a Denise, uma jovem mulata de 24 anos que eles fossem passar um fim de semana nas montanhas daquele lindo lugarejo, para terem ali momentos de entrega total ao prazer, ao amor que os jungia.
Denise era uma dessas mulheres que atraía a atenção de quem passasse por ela. Olhos pretos, boca muitíssimo bem desenhada, cabelos sempre perfumados e encaracolados até o meio das costas, cintura fina, quadris generosos, pernas torneadas que nasciam no fim das nádegas e percorriam divinamente sua metade inferior do corpo indo descansar nos pés, lindos. Com seios pronunciados, Denise era a razão de viver de Eduardo, o qual era pai de família, casado com Cristiane, uma mulher doce e insegura que passava seus dias dedicando-se ao hobby que aprendera com o pai ainda criança: pintura. Cris, como Eduardo a chamava, era uma pintora muito dedicada, embora nunca obtivesse fama com sua paixão. Nem a queria, o prazer de estar junto aos seus quadros permitia a ela experimentar uma sensação inenarrável, quase transmutando de atmosfera. O interesse financeiro deturparia sua paixão e, pensava, sentimentos e dinheiro andam em vias contrárias. Cristiane era a única filha de um médico aposentado que atendia seus pacientes com amor à profissão, e talvez por isso, não tivesse acumulado um patrimônio típico dos doutores de Esculápio. Cris havia dado ao marido dois filhos homens, os quais eram a luz da casa. Eduardo, engenheiro que trabalhava em um escritório de construção civil, via-se perdido na vida. Não tinha outros afazeres a não ser gastar seu tempo trabalhando em um serviço que detestava e brincar com os filhos assim que chegava em sua casa. A esposa, opressa pelas recentes atitudes do marido nada dizia das constantes ausências de Eduardo na cama, faltoso por cumprir suas “obrigações de Estado”.
Recentemente Eduardo deu-se a ir a bares depois do expediente para entorpecer suas aflições em copos e mais copos de whisky. Foi num desses fins de tarde que conheceu Denise, num botequim movimentado do centro da cidade. Ele estava com os amigos. O consumo do álcool foi permitindo que Eduardo reparasse cada vez mais avidamente em Denise, em seu olhar, em seu corpo escultural. Ela, moça de fino recato, educada por um pai dono de oficina mecânica, pouco instruído, era o que se podia chamar de orgulho da família.
Entre um olhar e outro, Eduardo aproximou-se de Denise, olhou-lhe com uma estranha amargura nos olhos, e com a voz empastada pela bebida disse um boa tarde. Denise achou graça, e como havia apreciado o homem à sua frente, convidou para se sentar. Começaram uma conversa sem assunto definido, falavam sobre o cotidiano. Em certo momento:

- Você acha que o presidente cai dessa vez? – Disse Eduardo como que tentando falar de alguma coisa que lhe desse o título de homem atualizado e conectado ao mundo.
- Eu acho que ele é honesto.
- Honesto é o caralho. – Esbravejou Eduardo que era de direita e detestava os escândalos repetidos que espocavam na mídia sobre o governo. Denise olhou-o assustada, mas Eduardo rapidamente recompôs-se e pediu desculpas:
- Perdão moça. Quando falo em política me vem uma indignação absurda sobre o que poderia ser feito com o dinheiro que nos roubam.
- Então falemos de outra coisa. Esse assunto não é capaz de chegar a lugar nenhum. Um bando de hipócritas.
- Hipócritas... – Repetiu Eduardo que segurava um palavrão mais digno de ser dito dos políticos, em sua opinião.

Nessa tarde, eles conversaram, trocaram email, e foram embora. Eduardo chegou em casa demonstrando ter bebido mais que o habitual e Cristiane notou isso no marido. Pediu a ele que tomasse seu banho, mas que economizasse no barulho, afinal era dez da noite e as crianças haviam dormido.
Ele obedeceu resmungando qualquer coisa e entrou no banheiro. Mais tarde, sem sono apesar de estar pouco embriagado, ele foi para o escritório e ligou o lap top. Lembrou-se logo da moça que conhecera a tarde e mandou-lhe um email. Enquanto ele olhava sua rede social, percebeu que chegara um novo email em resposta ao seu. Estava escrito assim: “querido, anote meu MSN, estou online, gostaria muito de falar-lhe, beijos, Denise.” Ele rapidamente anotou o endereço eletrônico da moça e logo estavam conversando no MSN. Protegidos pelas telas dos computadores, eles foram menos tímidos e mais ousados nos assuntos e nas palavras. Denise mostrou-se uma moça fogosa, carente de carinho e de contato físico. Seu namorado anterior havia sido uma lástima como companheiro de cama. Com fraco desempenho, deixava-a sempre sem ter seu orgasmo, uma tragédia. Talvez tenha sido a necessidade quase que vital de experimentarem o prazer juntos que tenha os unido numa relação confusa, intensa e louca que se desenrolou por meses.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Uma carta de amor


            Um certo homem, certa feita, estando apaixonado irremediavelmente e temendo perder sua amada, pois havia lhe dito que ainda amava a esposa que falecera meses antes, escreveu-lhe a presente missiva, a qual nunca a entregou. Hoje em dia, ele e Aline estão em caminhos diferentes. Mas o amor que bateu no peito deles, ainda dá suspiros derradeiros e é testemunha de um amor de única noite, mas de duração intensa, eterna, e possivelmente de várias vidas. Toda essa miscelânea de sentimentos vieram desembocar numa noite de amor, em quarto de motel, onde eles extirparam um do outro a carência afetiva de seus peitos com muito desejo, com muito carinho. Só hoje foi-me permitido postar aqui a dita carta. Obrigado, Apollo. Que seus dias sejam abençoados. Ele rabiscou-a mais ou menos assim:
"Mulher de minha pobre vida. Por que fizeste isso comigo? Afastar-se de mim até que meus medos se tornem fumaça e esvaeçam pelo céu? Isso fere-me grandemente o coração já encarquilhado pelas sucessivas ignomínias passadas. Disseste-me que quando eu resolver ficar contigo, como apenas um ser, mas dividido em dois corpos, irias me dirigir a palavra novamente. Mal sabes tu que a pressão imposta por tua insegurança esbarra decisivamente em meu orgulho ainda sobrevivente das provas penosas pelas quais passei. Revejas teu posicionamento sob pena de estarmos a colocar por terra um sentimento tão lindo que nasceu em nossos corações. Bem disses a tu que minha alma se renovara naquela tarde fascinante e inolvidável. Como gostaria de fundir-me meu corpo ao seu novamente. Como queria abraçar-te fraternalmente e brandir-te o corpo entremeado de lágrimas com o espírito explodindo no peito. Seria um momento que certamente eu lembraria pelos séculos e séculos vindouros. Essa transmutação de duas almas em um amor consubstanciado em dois seres seria para mim a expressão máxima de meu carinho e amor dedicado a uma mulher merecedora de todo minha dedicação.
Como sabes, meu peito ainda vê uma outra mulher que partiu em viagem e nunca mais voltou. Essa mulher ainda possui meu coração, ainda é testemunha das noites, das madrugadas em que nos tornamos cúmplices de acontecimentos tão ímpares e tão secretos. E as lembranças são veículo dos sentimentos. Também lembrando que o tempo é a estrada pelas quais esses veículos trafegam, espero sinceramente, com meu penoso transe, que minha viagem por essas tortuosas alamedas torne-se breve. Não poderia eu arriscar tua segurança espiritual envolvendo-te num turbilhão de confusões, de lágrimas doloridas, em que eu não seria absoluto em teu ninho. Compreendas-me pelo nome do nosso amor.
Tu descobriste desde tenra idade que o amor tem muitos nomes. Descobriste que um deles é a amizade, que outro é o carinho, que outro é a paixão. Outro deles, que é a fraternidade, é a faceta do amor que move minha razão a tomar atitude tão incompreensível para ti. Não quero sair do porto, com meu navio ainda incipiente nas condutas marítimas tendo você ao meu lado. Detestaria que naufragássemos nas pérfidas marés que sombreiam nossa embarcação. Espere que minha nave esteja pronta, que suas soldas estejam sólidas e robustas. Só então levar-te-ei pelas praias mais doces, pelos portos mais seguros da existência humana. E nossas manhãs serão imersas em alegrias sutis, dulcificantes por sua própria essência.
Ah, Aline!! Como é bom sentir essa coisa que despertaste em mim. Sinto-me ótimo divisando seu amor que aninha junto a mim. Estou prostrado escancarando minhas emoções mais secretas na esperança de que tu perdoes uma alma aflita, perdida, que nunca recebeu uma bússola nesse vale de lágrimas, mas que precisa encontrar o norte pela própria garantia de vida. Meu coração? Já é teu. Minha felicidade? Talvez tenha ido embora junto com tua decisão que me diz mais que supuseste. Tão perto e tão longe! Disse uma raposa, certa vez, que somos eternamente responsáveis por quem cativamos. Não te esqueças disso. És responsável por mim. E eu por ti. Não torne evanescente uma história que talvez tenha demorado séculos para acontecer, e pode demorar mais uma vida para florescer. Amo-te precocemente. Amo-te com cuidado. Amo-te, ainda, e infelizmente, com minhas dúvidas, meus medos. E assim passar-se-ão os anos, os séculos até que vivamos e tornemos história, o que, por muitos outros séculos fora apenas sonho."

O desejo de Apollo


            Uma tarde, um coração ferido, uma sala com um vento fresco que entrava pela janela, uma predisposição para falar com alguém pela sala de sempre. Amanda liga a tela, acessa a sala. Torrentes de homens interpelam-lhe com os dizeres mais ridículos. Ela ri de alguns, xinga baixinho outros mais rudes. Ela nem sabe o que procura. Talvez nem procurasse nada. Talvez estivesse ali só para que o sol caísse logo atrás das colinas e ela pudesse dormir logo. Acabara de terminar um namoro e seu coração sangrava.
Eis que alguém lhe diz: “gostaria de conversar?”. Ela sente algo aparentemente sem importância dentro de si, mas inexplicavelmente ela corresponde a ele e iniciam uma conversa muito respeitosa e inteligente. Amanda sentiu-se atraída desde o princípio. Ele sabia tratá-la com carinho e sentia o mesmo que ela: solidão. Ela Desconfiava que o namorado tinha outros relacionamentos e isso lhe permitiu ficar insegura em relação aos homens. Apollo diz-lhe, durante a conversa na sala de bate-papo que os generalismos são prejudiciais a toda relação. Ela ri discordando dele.
Rapidamente a conversa evolui a um nível de cordialidade quase que completa, de um interesse desvelado por ambas as partes. Amanda interessou-se em conhecer Apollo pessoalmente, mas tinha medo de que ele fosse alguém que lhe faria mal, afinal ela viu na TV que homens da internet podem ser violentos no encontro; que eles podem assassinar as mulheres com quem saem.
Eles falam de música, de sentimentos, do mundo louco em que vivem atualmente. A conversa transpassa o tempo e quando se dão conta a noite já havia caído há algum tempo. Trocam telefone, e dizem que se falarão no outro dia. Logo depois de desligarem os computadores Apollo liga para ela, que o atende mostrando certa surpresa com a ligação inesperada e iniciam nova conversa, dessa vez, ao celular. Amanda nota uma certa amargura na voz de Apollo. Ele logo lhe diz que o amor sempre tocou-lhe profundamente o espírito e isso o ensinou a perceber a sensibilidade de uma mulher conversando por pouco tempo com ela. Ele também notou certa tristeza em sua voz e ela lhe disse que o amor é o responsável pelos sorrisos, mas também pelas lágrimas. Uma vontade doida, sem explicação apossou-se dos dois, e em dado momento marcaram um encontro para o outro dia. Pouco depois Amanda arrependeu-se do que fizera, mas não havia jeito de voltar atrás. Na manhã seguinte, depois de sonhar com Apollo durante a noite movida pela ansiedade aguda que lhe tomara o pensamento, Amanda acordou, comprou o pão, tomou uma xícara de café, e ficou pensando no que aconteceria naquela noite. O dia não passava e seus pensamentos fervilhavam. Arrumou o cabelo no salão, demoradamente, fez as unhas, preparou-se enfim para estar com aquele homem que lhe descobrira muito de si, que de certa forma lhe decifrou partes de sua personalidade sem mesmo nunca ter-lhe visto, o que a fez estar confusa e imersa em sentimentos antagônicos.
O dia dava seus últimos suspiros e o sol do começo de abril denotava exaustão por iluminar aquele dia. As primeiras estrelas iluminavam debilmente o firmamento, e Amanda olhava pela janela do seu quarto, ouvindo uma música antiga que falava de amor não correspondido.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Conheça-te a ti mesmo

Conheça-te a ti mesmo. Essa frase muito bem acertada do mestre Sócrates é razão para reflexão profunda. O que te faz perder o ar? O que te faz colocar teus sentimentos de forma tão contundente e irracional? Por que algumas pessoas mexem com a gente em tão pouco espaço de tempo? Por que duas vidas que nunca haviam se tocado de repente se misturam na mais completa forma de se tocar?

Perguntas... Perguntas que encontram respostas ao conhecer a si próprio. Em vários casos, nem mesmo toda uma vida é tempo suficiente para isso. As diversas tentativas demandam paciência e são absolutamente necessárias. Situações que nos acontecem, pessoas que atravessam nossos caminhos, lugares que se colocam frente aos nossos olhos. Aparentemente são situações ingênuas, mas oportunidades importantes para o autoconhecimento.

Quais são os limites para se apaixonar? Quais são as premissas básicas? Quanto tempo a paixão queima dentro antes de esvair-se ou de se tornar amor? Pode haver amor antes de haver paixão? Fazer amor [não apenas transar] é sinal que se ama realmente? É possível amar uma mulher apenas durante o ato sexual? Por que uma menina-mulher é capaz de corromper vários postulados consolidados em anos e anos?

Conheça-te, procura-te, descubra-te. Só assim é possível saber que o que nos tira a razão é a única forma de ver algumas nuances tão sutis do mundo.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Uma história de carinho


             Os contos que ora colo nestas páginas, todos até agora, foram acontecidos de fato, ou saíram de meus devaneios [não se sabe ao certo]. O fato é que são de datas pretéritas em sua totalidade. O que buscamos na memória nos leva novamente aos dias em que sucederam. A viagem pessoal de cada um é fruto dos odores, das sensações, dos sabores experimentados naquele determinado momento. O tempo passado entre o acontecimento [ou elucubração] e o presente derrama manchas de tinta sobre os fatos e assim torna-os não tão fiéis como poderiam ser caso tivessem acontecido um dia antes. Mesmo assim ouso afirmar que meus transes passados estão muito sedimentados na memória por terem envolvido sentimentos, volúpia, êxtase em sua expressão maior. O que narro aqui hoje é recente, recente demais.
         Na noite passada recebi uma visita muito especial. Fernanda! Não a via há muito tempo. Como que por encanto a campainha tocou e era ela. Cabelos louros, compridos até a cintura. Olhos faiscantes e olhar penetrante. Seu perfume era amadeirado e marcante. Olhou-me com o verde dos olhos e sorriu tristemente dizendo oi. Surpreso com a visita inesperada, respondi-lhe a saudação e convidei-a para entrar.
         Fernanda é dessas mulheres que não se esquece mesmo que se passem mil anos. Conhecemo-nos há mais de dez anos num baile de formatura. Ela estava acompanhando o irmão, e eu, uma amiga. Trocamos olhares compridos e lá pelas tantas, estimulados pelo álcool servido regularmente conversamos como amigos de décadas. Finalizamos nossa noite no apartamento de Fernanda, bebendo, rindo, fazendo amor. Namoramos por dois anos. Fomos cúmplices de muitos momentos só nossos. Loucuras de amor, confidências muito íntimas e muito particulares. Fomos o que se pode dizer duas almas gêmeas. Se tivéssemos a maturidade de hoje estaríamos ainda juntos. A razão que nos afastou foi algo besta e infantil.
         Fernanda entrou, sentou-se no sofá e nos olhamos em silêncio. Fui até ela e dei-lhe um abraço apertado e demorado.

           - Que saudade de você, Nanda.
           - Que falta senti de você por todo esse tempo.

Ainda abraçados, Fernanda disse-me que perdera o pai dois dias antes e por isso resolveu procurar-me. Só eu saberia o que dizer, como lavar com bálsamo sua ferida que sangrava. Ela precisava de cuidado e carinho. Conversei com ela longamente sobre o que penso da vida, da morte, o que nos acontece depois da passagem dessa vida para a outra. Tudo o que disse foi baseado no que constituí como verdade inabalável ao meu espírito. Tenho essas premissas que sigo ortodoxamente e vivo meus dias apoiado nelas. Fernanda, atenta, bebia cada uma de minhas palavras e ora chorava, ora apenas me olhava.
Quando ela se acalmou um pouco, tirei seus sapatos, deitei-a no sofá, fui à cozinha, preparei-lhe um lanche leve, pois ela me dissera que não comia nada há dois dias. Trouxe um suco de pêra com o lanche que ela comeu vorazmente. Enquanto isso eu guardei seu carro na garagem. Convenci-a a dormir um pouco. Ela relutou [ela é muito teimosa], mas aceitou o convite. Deitei-a em minha cama, deixei-a à vontade. Por umas duas vezes na noite fui à porta do quarto e percebi sua respiração calma e leve. Concluí que ela dormia mansamente. Deu-me vontade de ir até ela, beijar-lhe a fronte e transmitir-lhe todo o cuidado e carinho que sentia naquele momento. Lembrei do nosso passado, do nosso amor. Fomos felizes, muito felizes durante o tempo em que convivemos juntos. Eu amava Fernanda de uma forma muito calma. Nosso amor era um lindo pôr-do-sol imerso em mil tons de cores mansas e calmas. Até hoje me pergunto o que seria de nós se estivéssemos ainda juntos.
Dormi na sala. Hoje de manhã Fernanda tomou café comigo à mesa. Só de calcinha e blusa, meias de algodão nos pés, ela estava nitidamente mais animada. Agradeci pela confiança que depositou em mim, ao me procurar. Senti um carinho muito grande por ela. Senti também vontade de fazer amor com ela. Afinal eu estava com uma mulher semi nua diante de mim, mas ela estava fragilizada e necessitava de compreensão. Além do mais, não aconteceu um clima que propiciasse isso.
Fernanda terminou seu café e foi vestir-se. Surgiu na sala vestida e pronta para ir. Olhamo-nos ternamente, nos abraçamos novamente de forma demorada e ela se foi. Disse que voltava hoje a noite. Disse que quer estar comigo novamente.
A vida é um mistério todos os dias. Ela nos coloca diante de situações inesperadas, boas ou ruins. A essência da vida é descobrir como lidar, como reagir diante de tais situações. Nosso aprendizado reside nisso. O amor é porta aberta que deixamos no passado. Quando menos esperamos, ela se abre diante de nós, fazendo-nos perceber que passado e futuro não existem. São meras invenções humanas. Existe apenas as páginas de um livro infinito, em cujas linhas vamos manchando com a tinta dos dias, marcando nossa história, vivendo nossos momentos.
Amo você Fernanda. Amar-te não significa que ficaremos juntos toda essa vida. Significa que quando penso em você, meu espírito se sente feliz; que quando lhe faço o bem, e vejo seu sorriso lindo vindo para mim, sou tomado de uma magia a qual até hoje não soube descrever.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Alícia! Parte 4


Foi numa manhã tórrida de fim de ano. Estava eu trabalhando em minha sala, os papéis eram peças de xadrez sobre minha mesa. O ventilador soprava um vento quente que não refrescava o ambiente. Foi nesse momento que meu telefone celular tocou. Era ela.

- O que foi meu amor?
- Preciso falar com você hoje.
 - Houve alguma coisa? – Fez-se um breve silêncio; eu só ouvia sua respiração do outro lado da linha.
- Houve. Precisamos conversar.
- Vá em minha casa hoje a noite.
- Ele não vai sair hoje. Vai trazer um cliente para jantar em casa.
Fiquei mudo, pensando em que fazer.
 - Você está querendo me enlouquecer, Alícia?
- Você é louco desde quando eu o conheci.
– Disse ela nervosamente, mas como a conheço, percebi que deu um sorriso nervoso do outro lado da linha.
- Então tá Alicia. Diga que vai sair para comprar os presentes. Você vai se atrasar e inventa uma história.
- Detesto mentiras. – Disse ela como que tentando livrar-se de uma culpa que não existia.
- Tchau.

Nossos encontros eram planejados com uma estratégia rica em detalhes. Eu pensava milimetricamente em que faria para vê-la, já que seu marido havia desconfiado de suas saídas sucessivas recentes, e numa noite, depois que Alicia chegou em casa, e enquanto entrava no chuveiro conversando  com o marido, ele percebeu que ela estava sem a calcinha. Ela deu-lhe uma desculpa inventada na hora e contada com a habilidade peculiar a ela, e o assunto deu-se por encerrado. Mas ela sabia que ele ficaria mais cuidadoso com seus passos, e dar mais bobeira poderia ser perigoso.
Alicia chegou na praça do bairro em que eu morava exatamente às dez da noite. Deixou seu carro parado numa rua escura e entrou em meu carro. Imediatamente nos atracamos num quente beijo, como que ele tivesse a responsabilidade de dar ponto final na saudade insana que nos possuía. Dissemos que nos amávamos várias vezes durante o beijo. Depois de alguns momentos, quando a saudade deu breve trégua, ela olhou-me desanimadamente nos olhos e disse-me:
- Vamos para o Sul no fim da semana. Ele quer procurar um apartamento para comprar e ficamos lá toda a semana. Devo voltar sozinha, caso ele não resolva tudo até lá.
Enquanto Alícia falava, eu ia pensando que aquele labirinto em que eu me metera não teria saída, e que eu me arrebentaria no fundo de um abismo tomado de amor e de amargura. Alicia olhou-me como que querendo uma resposta para o que havia dito. Diante de meu mutismo ela acrescentou:

- O que está acontecendo com você?
- Eu estou perdido, Alícia. Não sei o que fazer.
- Não posso fugir agora com você.
- Você nunca faria isso, mulher de Deus.
- Não posso. Deixar meu casamento agora traria mais sofrimento para minha filha.
- Não, você nunca me entendeu Alícia.

Ela me olhava e eu notei que seus olhos mostravam uma confusão de sentimentos a qual também tomava conta de mim. Notei que seus olhos se umedeceram e ela desatou um pranto fragoroso. Tomei-lhe nos braços, abracei-a forte. Ficamos assim abraçados, por longos minutos.

- Nós precisamos sair dessa cidade para ficarmos juntos, Alícia. Não existe outra alternativa. Precisamos renunciar nosso mundo em nome do que nos une.
- Você não entende. Você nunca foi casado. É complicado separar assim. Ficar falada. Minha família vai me acusar de ter jogado a vida no lixo. Meus pais são muito tradicionais.

Alícia ia falando, falando. Liguei o motor do carro e saímos dali. Não tinha cabeça para ir para minha casa. Fomos para um motel. Eu precisava de um banho de hidro. Ela nada disse no caminho. Uniu as mãos postas no meio das pernas e fomos mudos até o motel. Escolhemos o quarto. Preparei a hidro com a cabeça fervendo. Deitei-me por fim dentro da banheira e chamei por ela. Alicia surgiu completamente nua na porta do banheiro. Podem dizer o que quiserem, mas Alicia nua era algo indefinível. Digo isso sem preocupação que me tomem por exagerado. Seu corpo era maravilhoso. Alícia veio caminhando lentamente colocou um pé dentro da banheira, depois outro, foi abaixando e se aninhando em meus braços. Ficou abraçada a mim, a procura de carinho, a procura de remédio para sua amargura. Conversamos longamente sobre nossa relação, sobre as loucuras que fazíamos e colocavam em risco sua reputação como mulher casada. Fizemos um amor muito exaltado naquela noite. Geralmente nos tomávamos mansamente, Alícia gostava de carinho e só se deixava possuir com muita ternura. Naquela noite ela me olhava diferente. Cavalgava com furor,  olhar faiscante, suas nádegas ficaram vermelhas pelos repetidos impactos em meu quadril
Ficamos no motel até as 11 da noite. Era a hora que as lojas fechavam por causa do horário especial do comércio no fim de ano. Chegou em casa sem os presentes. Esquecera-os na casa de sua mãe depois que chegou do centro. O marido acreditou. O que ele desconfiava era do abatimento cada vez maior de Alícia.