quarta-feira, 11 de abril de 2012

Uma carta de amor


            Um certo homem, certa feita, estando apaixonado irremediavelmente e temendo perder sua amada, pois havia lhe dito que ainda amava a esposa que falecera meses antes, escreveu-lhe a presente missiva, a qual nunca a entregou. Hoje em dia, ele e Aline estão em caminhos diferentes. Mas o amor que bateu no peito deles, ainda dá suspiros derradeiros e é testemunha de um amor de única noite, mas de duração intensa, eterna, e possivelmente de várias vidas. Toda essa miscelânea de sentimentos vieram desembocar numa noite de amor, em quarto de motel, onde eles extirparam um do outro a carência afetiva de seus peitos com muito desejo, com muito carinho. Só hoje foi-me permitido postar aqui a dita carta. Obrigado, Apollo. Que seus dias sejam abençoados. Ele rabiscou-a mais ou menos assim:
"Mulher de minha pobre vida. Por que fizeste isso comigo? Afastar-se de mim até que meus medos se tornem fumaça e esvaeçam pelo céu? Isso fere-me grandemente o coração já encarquilhado pelas sucessivas ignomínias passadas. Disseste-me que quando eu resolver ficar contigo, como apenas um ser, mas dividido em dois corpos, irias me dirigir a palavra novamente. Mal sabes tu que a pressão imposta por tua insegurança esbarra decisivamente em meu orgulho ainda sobrevivente das provas penosas pelas quais passei. Revejas teu posicionamento sob pena de estarmos a colocar por terra um sentimento tão lindo que nasceu em nossos corações. Bem disses a tu que minha alma se renovara naquela tarde fascinante e inolvidável. Como gostaria de fundir-me meu corpo ao seu novamente. Como queria abraçar-te fraternalmente e brandir-te o corpo entremeado de lágrimas com o espírito explodindo no peito. Seria um momento que certamente eu lembraria pelos séculos e séculos vindouros. Essa transmutação de duas almas em um amor consubstanciado em dois seres seria para mim a expressão máxima de meu carinho e amor dedicado a uma mulher merecedora de todo minha dedicação.
Como sabes, meu peito ainda vê uma outra mulher que partiu em viagem e nunca mais voltou. Essa mulher ainda possui meu coração, ainda é testemunha das noites, das madrugadas em que nos tornamos cúmplices de acontecimentos tão ímpares e tão secretos. E as lembranças são veículo dos sentimentos. Também lembrando que o tempo é a estrada pelas quais esses veículos trafegam, espero sinceramente, com meu penoso transe, que minha viagem por essas tortuosas alamedas torne-se breve. Não poderia eu arriscar tua segurança espiritual envolvendo-te num turbilhão de confusões, de lágrimas doloridas, em que eu não seria absoluto em teu ninho. Compreendas-me pelo nome do nosso amor.
Tu descobriste desde tenra idade que o amor tem muitos nomes. Descobriste que um deles é a amizade, que outro é o carinho, que outro é a paixão. Outro deles, que é a fraternidade, é a faceta do amor que move minha razão a tomar atitude tão incompreensível para ti. Não quero sair do porto, com meu navio ainda incipiente nas condutas marítimas tendo você ao meu lado. Detestaria que naufragássemos nas pérfidas marés que sombreiam nossa embarcação. Espere que minha nave esteja pronta, que suas soldas estejam sólidas e robustas. Só então levar-te-ei pelas praias mais doces, pelos portos mais seguros da existência humana. E nossas manhãs serão imersas em alegrias sutis, dulcificantes por sua própria essência.
Ah, Aline!! Como é bom sentir essa coisa que despertaste em mim. Sinto-me ótimo divisando seu amor que aninha junto a mim. Estou prostrado escancarando minhas emoções mais secretas na esperança de que tu perdoes uma alma aflita, perdida, que nunca recebeu uma bússola nesse vale de lágrimas, mas que precisa encontrar o norte pela própria garantia de vida. Meu coração? Já é teu. Minha felicidade? Talvez tenha ido embora junto com tua decisão que me diz mais que supuseste. Tão perto e tão longe! Disse uma raposa, certa vez, que somos eternamente responsáveis por quem cativamos. Não te esqueças disso. És responsável por mim. E eu por ti. Não torne evanescente uma história que talvez tenha demorado séculos para acontecer, e pode demorar mais uma vida para florescer. Amo-te precocemente. Amo-te com cuidado. Amo-te, ainda, e infelizmente, com minhas dúvidas, meus medos. E assim passar-se-ão os anos, os séculos até que vivamos e tornemos história, o que, por muitos outros séculos fora apenas sonho."

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