Era inverno. O
mês era junho. Eduardo e Denise saíam juntos há quase cinco meses. Saíam juntos,
não eram namorados, porque Eduardo era casado. Eram o que pode se chamar amantes.
O desejo ensandecido da paixão, da vontade de estarem sobre o leito se amando,
era o combustível que os fazia abandonarem-se mutuamente aos prazeres do sexo.
Moravam numa cidade de quase cem mil habitantes do sul de minas. Assim que se
conheceram, no calor tórrido de janeiro, descobriram, durante a primeira
conversa, depois de falarem de política, que eram adeptos do clima frio, que adoravam o
inverno. E por essa razão, Eduardo que já havia estado no distrito de Monte Verde,
região serrana do extremo sul de minas, com sua família, propôs a Denise, uma
jovem mulata de 24 anos que eles fossem passar um fim de semana nas montanhas daquele
lindo lugarejo, para terem ali momentos de entrega total ao prazer, ao amor que
os jungia.
Denise era uma
dessas mulheres que atraía a atenção de quem passasse por ela. Olhos pretos, boca
muitíssimo bem desenhada, cabelos sempre perfumados e encaracolados até o meio
das costas, cintura fina, quadris generosos, pernas torneadas que nasciam no fim
das nádegas e percorriam divinamente sua metade inferior do corpo indo
descansar nos pés, lindos. Com seios pronunciados, Denise era a razão de viver
de Eduardo, o qual era pai de família, casado com Cristiane, uma mulher doce e
insegura que passava seus dias dedicando-se ao hobby que aprendera com o pai
ainda criança: pintura. Cris, como Eduardo a chamava, era uma pintora muito
dedicada, embora nunca obtivesse fama com sua paixão. Nem a queria, o prazer de
estar junto aos seus quadros permitia a ela experimentar uma sensação
inenarrável, quase transmutando de atmosfera. O interesse financeiro deturparia
sua paixão e, pensava, sentimentos e dinheiro andam em vias contrárias.
Cristiane era a única filha de um médico aposentado que atendia seus pacientes
com amor à profissão, e talvez por isso, não tivesse acumulado um patrimônio
típico dos doutores de Esculápio. Cris havia dado ao marido dois filhos homens,
os quais eram a luz da casa. Eduardo, engenheiro que trabalhava em um
escritório de construção civil, via-se perdido na vida. Não tinha outros
afazeres a não ser gastar seu tempo trabalhando em um serviço que detestava e
brincar com os filhos assim que chegava em sua casa. A esposa, opressa pelas
recentes atitudes do marido nada dizia das constantes ausências de Eduardo na
cama, faltoso por cumprir suas “obrigações de Estado”.
Recentemente
Eduardo deu-se a ir a bares depois do expediente para entorpecer suas aflições
em copos e mais copos de whisky. Foi num desses fins de tarde que conheceu
Denise, num botequim movimentado do centro da cidade. Ele estava com os amigos.
O consumo do álcool foi permitindo que Eduardo reparasse cada vez mais
avidamente em Denise, em seu olhar, em seu corpo escultural. Ela, moça de fino
recato, educada por um pai dono de oficina mecânica, pouco instruído, era o que
se podia chamar de orgulho da família.
Entre um olhar
e outro, Eduardo aproximou-se de Denise, olhou-lhe com uma estranha amargura
nos olhos, e com a voz empastada pela bebida disse um boa tarde. Denise achou
graça, e como havia apreciado o homem à sua frente, convidou para se sentar.
Começaram uma conversa sem assunto definido, falavam sobre o cotidiano. Em certo momento:
- Você acha
que o presidente cai dessa vez? – Disse Eduardo como que tentando falar de
alguma coisa que lhe desse o título de homem atualizado e conectado ao mundo.
- Eu acho que
ele é honesto.
- Honesto é o
caralho. – Esbravejou Eduardo que era de direita e detestava os escândalos
repetidos que espocavam na mídia sobre o governo. Denise olhou-o assustada, mas
Eduardo rapidamente recompôs-se e pediu desculpas:
- Perdão moça.
Quando falo em política me vem uma indignação absurda sobre o que poderia ser
feito com o dinheiro que nos roubam.
- Então
falemos de outra coisa. Esse assunto não é capaz de chegar a lugar nenhum. Um
bando de hipócritas.
- Hipócritas...
– Repetiu Eduardo que segurava um palavrão mais digno de ser dito dos
políticos, em sua opinião.
Nessa tarde,
eles conversaram, trocaram email, e foram embora. Eduardo chegou em casa
demonstrando ter bebido mais que o habitual e Cristiane notou isso no marido.
Pediu a ele que tomasse seu banho, mas que economizasse no barulho, afinal era
dez da noite e as crianças haviam dormido.
Ele obedeceu
resmungando qualquer coisa e entrou no banheiro. Mais tarde, sem sono apesar de
estar pouco embriagado, ele foi para o escritório e ligou o lap top. Lembrou-se
logo da moça que conhecera a tarde e mandou-lhe um email. Enquanto ele olhava
sua rede social, percebeu que chegara um novo email em resposta ao seu. Estava
escrito assim: “querido, anote meu MSN, estou online, gostaria muito de
falar-lhe, beijos, Denise.” Ele rapidamente anotou o endereço eletrônico da
moça e logo estavam conversando no MSN. Protegidos pelas telas dos
computadores, eles foram menos tímidos e mais ousados nos assuntos e nas
palavras. Denise mostrou-se uma moça fogosa, carente de carinho e de contato
físico. Seu namorado anterior havia sido uma lástima como companheiro de cama. Com
fraco desempenho, deixava-a sempre sem ter seu orgasmo, uma tragédia. Talvez
tenha sido a necessidade quase que vital de experimentarem o prazer juntos que
tenha os unido numa relação confusa, intensa e louca que se desenrolou por
meses.
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