quinta-feira, 12 de abril de 2012

Experimentando o pecado - Parte I



Era inverno. O mês era junho. Eduardo e Denise saíam juntos há quase cinco meses. Saíam juntos, não eram namorados, porque Eduardo era casado. Eram o que pode se chamar amantes. O desejo ensandecido da paixão, da vontade de estarem sobre o leito se amando, era o combustível que os fazia abandonarem-se mutuamente aos prazeres do sexo. Moravam numa cidade de quase cem mil habitantes do sul de minas. Assim que se conheceram, no calor tórrido de janeiro, descobriram, durante a primeira conversa, depois de falarem de política,  que eram adeptos do clima frio, que adoravam o inverno. E por essa razão, Eduardo que já havia estado no distrito de Monte Verde, região serrana do extremo sul de minas, com sua família, propôs a Denise, uma jovem mulata de 24 anos que eles fossem passar um fim de semana nas montanhas daquele lindo lugarejo, para terem ali momentos de entrega total ao prazer, ao amor que os jungia.
Denise era uma dessas mulheres que atraía a atenção de quem passasse por ela. Olhos pretos, boca muitíssimo bem desenhada, cabelos sempre perfumados e encaracolados até o meio das costas, cintura fina, quadris generosos, pernas torneadas que nasciam no fim das nádegas e percorriam divinamente sua metade inferior do corpo indo descansar nos pés, lindos. Com seios pronunciados, Denise era a razão de viver de Eduardo, o qual era pai de família, casado com Cristiane, uma mulher doce e insegura que passava seus dias dedicando-se ao hobby que aprendera com o pai ainda criança: pintura. Cris, como Eduardo a chamava, era uma pintora muito dedicada, embora nunca obtivesse fama com sua paixão. Nem a queria, o prazer de estar junto aos seus quadros permitia a ela experimentar uma sensação inenarrável, quase transmutando de atmosfera. O interesse financeiro deturparia sua paixão e, pensava, sentimentos e dinheiro andam em vias contrárias. Cristiane era a única filha de um médico aposentado que atendia seus pacientes com amor à profissão, e talvez por isso, não tivesse acumulado um patrimônio típico dos doutores de Esculápio. Cris havia dado ao marido dois filhos homens, os quais eram a luz da casa. Eduardo, engenheiro que trabalhava em um escritório de construção civil, via-se perdido na vida. Não tinha outros afazeres a não ser gastar seu tempo trabalhando em um serviço que detestava e brincar com os filhos assim que chegava em sua casa. A esposa, opressa pelas recentes atitudes do marido nada dizia das constantes ausências de Eduardo na cama, faltoso por cumprir suas “obrigações de Estado”.
Recentemente Eduardo deu-se a ir a bares depois do expediente para entorpecer suas aflições em copos e mais copos de whisky. Foi num desses fins de tarde que conheceu Denise, num botequim movimentado do centro da cidade. Ele estava com os amigos. O consumo do álcool foi permitindo que Eduardo reparasse cada vez mais avidamente em Denise, em seu olhar, em seu corpo escultural. Ela, moça de fino recato, educada por um pai dono de oficina mecânica, pouco instruído, era o que se podia chamar de orgulho da família.
Entre um olhar e outro, Eduardo aproximou-se de Denise, olhou-lhe com uma estranha amargura nos olhos, e com a voz empastada pela bebida disse um boa tarde. Denise achou graça, e como havia apreciado o homem à sua frente, convidou para se sentar. Começaram uma conversa sem assunto definido, falavam sobre o cotidiano. Em certo momento:

- Você acha que o presidente cai dessa vez? – Disse Eduardo como que tentando falar de alguma coisa que lhe desse o título de homem atualizado e conectado ao mundo.
- Eu acho que ele é honesto.
- Honesto é o caralho. – Esbravejou Eduardo que era de direita e detestava os escândalos repetidos que espocavam na mídia sobre o governo. Denise olhou-o assustada, mas Eduardo rapidamente recompôs-se e pediu desculpas:
- Perdão moça. Quando falo em política me vem uma indignação absurda sobre o que poderia ser feito com o dinheiro que nos roubam.
- Então falemos de outra coisa. Esse assunto não é capaz de chegar a lugar nenhum. Um bando de hipócritas.
- Hipócritas... – Repetiu Eduardo que segurava um palavrão mais digno de ser dito dos políticos, em sua opinião.

Nessa tarde, eles conversaram, trocaram email, e foram embora. Eduardo chegou em casa demonstrando ter bebido mais que o habitual e Cristiane notou isso no marido. Pediu a ele que tomasse seu banho, mas que economizasse no barulho, afinal era dez da noite e as crianças haviam dormido.
Ele obedeceu resmungando qualquer coisa e entrou no banheiro. Mais tarde, sem sono apesar de estar pouco embriagado, ele foi para o escritório e ligou o lap top. Lembrou-se logo da moça que conhecera a tarde e mandou-lhe um email. Enquanto ele olhava sua rede social, percebeu que chegara um novo email em resposta ao seu. Estava escrito assim: “querido, anote meu MSN, estou online, gostaria muito de falar-lhe, beijos, Denise.” Ele rapidamente anotou o endereço eletrônico da moça e logo estavam conversando no MSN. Protegidos pelas telas dos computadores, eles foram menos tímidos e mais ousados nos assuntos e nas palavras. Denise mostrou-se uma moça fogosa, carente de carinho e de contato físico. Seu namorado anterior havia sido uma lástima como companheiro de cama. Com fraco desempenho, deixava-a sempre sem ter seu orgasmo, uma tragédia. Talvez tenha sido a necessidade quase que vital de experimentarem o prazer juntos que tenha os unido numa relação confusa, intensa e louca que se desenrolou por meses.

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