quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Filosofando


De que forma um dia influencia uma vida? De que modo um segundo se perpetua ao infinito? Se o tempo é abstração humana, o que seria o passado e futuro? Se depois de um milésimo de segundo o agora é passado, existe realmente presente? Se o que vemos com os olhos físicos não é a verdade absoluta, o que é então?
Seria eu capaz de continuar a perguntar indefinidamente essas questões de difícil compreensão imediata, mas são questões que tem respostas. Basta refleti-las. Claro que nem todos ainda somos capazes disso. É preciso olhar para dentro de si e procurar saber quais são seus limites de compreender o que lhe parece indecifrável. O apoio interno de cada um de nós deve jazer sobre fundamentos eternos, sobre princípios transcendentais. Existem leis eternas que governam o Universo e elas nos dizem que temos que nos adequar a elas para que a vida flua dentro de uma normalidade. O tempo não existe porque somos eternos e estamos condenados a ser felizes. Só cabe a cada um encurtar os dias de tribulações com seus próprios esforços.
Existem pessoas que seguem essas leis eternas e conseguem conhecer melhor a si próprias. Esse é o segredo. Só assim se sabe o quanto pode suportar de dor, se a aparente dor é mesmo uma dor ou uma sensação de alívio. Fica-se mais próximo da essência.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O outro lado do reverso


A alegria sangrou no dia em que a tristeza floriu. Uma era a amante da outra. Depois da divisão primordial entre elas, outros sentimentos entraram no rol do paradoxo confuso e imaterial. Todos os corações passaram a acreditar que a maldade era força intrínseca à Substância Maior.
Quem nunca se sentiu feliz em mentir? A mentira era o dia e a falsidade era a noite.  Nunca elas se contrapuseram, apesar de serem tão iguais e congruentes. Se a mentira pedia o sangue, a falsidade lhe beijava o rosto porque não poderia lhe morder o coração. Depois de muitos séculos o próprio homem descobriu que uma não era a outra. E entendeu que a mentira é melhor que a falsidade. Os inimigos declarados são mais sinceros.
Quem nunca se sentiu feliz em trair? A traição era o norte, e a cupidez era o sul. Nunca puderam entender que elas eram filhas do mesmo ninho. A traição se satisfazia com as lágrimas, mas a cupidez que era conhecida por ambição queria sempre mais. Depois de muitos séculos o próprio homem descobriu que uma não era a outra. E entendeu que a traição é melhor que a ambição. Porque uma ação se detém na sua consumação, mas a ambição permite que a consumação do ato seja apenas o prenúncio de outro ato.
Quem nunca se sentiu feliz em ser ingrato? A ingratidão era o tênue e a escassez era o denso.  Nunca se tornaram miscíveis no recipiente do coração humano. A ingratidão sorria ao sangue do ultraje depois do bem praticado, mas a escassez queria que as ingratidões causassem o maior dano possível em poucas ações. Depois de muitos séculos o próprio homem descobriu que uma não era a outra. E entendeu que a ingratidão é melhor que a escassez, porque se tudo lhe falta, nada lhe contém, e a escassez pode agir sem obstáculos à sua imensa potência, e concorrer para a falta de tudo, mesmo do que parece insano.
Quem nunca s sentiu feliz em ser trágico? A tragédia era o início e a severidade era o fim. Nunca se complementaram apesar de se aproximarem incessantemente. A tragédia comprazia-se no sofrimento de quem suporta a desgraça que arde e faz sofrer, mas a severidade sempre julgava que a tragédia era a comédia, e que os pontos de vista eram particulares e sempre se podia sorrir do sangue derramado. Depois de muitos séculos o próprio homem descobriu que uma não era a outra. E entendeu que a tragédia era melhor que a severidade, porque se o fato trágico causa dor e medo de sua repetição (e esta não é certa que se se repita), e a severidade é conhecida pela sua renovação e recrudescimento.  Sempre se julga mais pesadamente o que mais se convive, mas menos se conhece na mesma medida que o tempo escorre.
E antes que os choques constantes pudessem aumentar sua proporção ao infinito, antes que esses sentimentos pudessem arruinar a vida na terra, o amor, com toda a superioridade que sua autoridade lhe empresta, fechou a caixa de Pandora e não permitiu que a lama se confundisse ao sândalo, que o deletério se travestisse de perfume nobre, que o lodo se disfarçasse de chocolate. O amor tem o poder de frear o ímpeto do mal. E o amor começou a mostrar para o homem que a mentira não pode ser melhor que a falsidade, que a traição não pode ser melhor que a cupidez, que a ingratidão não pode ser melhor que a escassez, que a tragédia não pode ser melhor que a severidade.
O amor foi o único que teve a permissão de se misturar para se tornar invencível. E assim, se misturou ao bem. E desde esse dia, apesar dos sentimentos ruins flutuarem pelo mundo, o amor cura as chagas abertas pela mentira, pela falsidade, pela traição, pela cupidez, pela ingratidão, pela escassez, pela tragédia e pela severidade. E o bem combate as filhas pérfidas que resultaram da satânica gestação entre todos eles até o fim dos dias, quando haverá só o bem, o amor, a felicidade e a eternidade.

Insights - Parte 2


Minha alma está muito acima de mim e é necessária minha completa transmutação para que eu a alcance e me torne mim mesmo novamente.

domingo, 21 de outubro de 2012

Em metáforas


Estivemos no inferno juntos e escapamos de lá. Sempre nos disseram que era impossível sorrir lá dentro e descobrimos que é possível. Fugimos antes de o dia amanhecer por aquela estrada serpenteada de pedras e espinhos. Corremos até onde as flores começaram a surgir ao longe, nas várzeas tomadas de brumas espessas que se iam declinando fragorosamente diante de nossos passos resolutos. Em dado momento percebemos os primeiros alvores da manhã que tinha pressa em chegar para que exorcizássemos de uma vez os nossos demônios. As brumas tomaram conta do ambiente com toda plenitude que lhes era possível, mesmo estando o dia se declarando a nós aos poucos. Então percebemos que a luz não se faz visível logo no início, que é preciso saber enxergar através do opaco. Com o decorrer da caminhada, já cansados, mas mais fortes por estarmos naquele ponto da conquista, paramos naquele bangalô que havia sobre a colina e descansamos nossos espíritos. Vimos finalmente um no outro que dois anos se passam em dois dias. Vimos que o tempo é loucura.
Depois de nos amarmos fartamente, e nos embriagar do doce desejo de nos tocar não só com os sentidos físicos, mas também com os da alma, depois de percebermos um no outro circunstâncias especiais que só os ávidos percebem, você desapareceu quando saímos à porta da casa para continuarmos a caminhada sentido ao leste. Então, vi que no alto de uma montanha estava ela, aquela mulher que me arrebatou novamente do caminho, mas me mostrou um outro que se parecia um atalho. Descobri depois de 10 semanas que havia chegado bem mais perto do mundo em que vivemos. Como o objetivo dela havia se cumprido, ela me acenou docemente, me disse do nosso amor, me deixou nossa semente tenra e bela, e uma torrente de vento abateu-se sobre nós. Foi-se.
Então vi seus cabelos louros e esvoaçantes tocando-me o rosto enquanto você tinha os olhos marejados de lágrimas naquele dia que me encontrou pelo mundo e eu estava extasiado pelos dias que se repetiam incessantes. Eu havia perdido a direção de novo. E sem eu saber, você chegou, me disse coisas que eu havia esquecido, me tocou com seu espírito e ficou uns dias.
Então percebi que toda poeira é leve justamente por poder seguir a direção da ventania, por poder ir tocar outra face em outro lugar e ensinar-lhe a se proteger dos ciscos impiedosos. A ventania é benéfica e sempre me toca o rosto, mas hoje eu sei que devo olhar na outra direção e apenas sentir seu contato fresco na pele.
Sei que o inferno ficou lá atrás, de onde fugimos. Sei que nossa luz se ampliará até nos tomar de alegria. Ela está ainda ali adiante, mas já vemos seu imenso clarão que nos toma de alegria indefinida. Ela está chegando e serão dois sóis a nos clarear.
Sempre soubemos que o amor tem mil faces. Já filosofamos fartamente sobre isso. São mil tons de cinza que se misturam, se fundem, se redescobrem, se redefinem, se perdem em si, porque a luz que os ilumina permite que nunca deva haver dissolução imediata. Quem clareia o espírito com notas sutis de amor, de alegria, de felicidade, vê um pouco mais. Vamos descobrir o que o caminho ainda nos oculta. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Circunstâncias do amor


Numa manhã ensolarada de sábado, com o típico calor do fim de dezembro, Ricardo e Lenira decidiram ir à praia. Eles haviam passado a noite juntos e adormeceram, exaustos, na posição que se chama popularmente de conchinha. Ele acordou primeiro, preparou uma bandeja com uma refeição leve e acordou sua amada com beijos e carícias no rosto. Ela abriu os amendoados olhos ainda dominados pelo sono pesado que havia tomado posse dela durante parte da noite, pois eles haviam repetido inúmeras vezes o ato de se amarem sem medida e sem limites. Olhou seu homem com ternura infinita e respondeu ao bom dia dele com a voz entrecortada por um bocejo. Sentiu-se muito desejada e amada naquele momento tão romântico que ela havia previsto e planejado em pensamentos inúmeras vezes. Afinal, fazia seis meses que eles programavam aquele encontro que finalmente havia acontecido. Ele havia vindo de Minas Gerais para encontrá-la no aeroporto de João Pessoa depois de se conhecerem numa noite fria de julho. Lenira, com seus 18 anos, há muito estava apaixonada pelo homem que lhe acalmava a alma, que lhe permitia manifestar o amor de forma muito contundente e particular. Ricardo via nela toda a alegria de estar com alguém. Fazer amor com ela era o ápice da demonstração de seu sentimento. Durante aquele momento, eles fizeram a primeira refeição do dia, entre risos, e ouvindo uma música calma que parecia comungar com eles aquele momento de tanta paz. Eles sabiam que somente a tranqüilidade é momento para se abrir os canais do espírito e deixar fluir o amor.
Já vestidos, saíram à rua, em direção à praia, abraçados, apaixonados, tendo a certeza de que os dias que passariam juntos seriam memoráveis e pertenceriam a eles para sempre. Lenira estava mais bonita, seus louros cabelos esvoaçavam ao vento enquanto seu homem notava em seu olhar um lindo brilho que sabia ser uma divina conseqüência de uma doce causa.
Já na praia, Lenira viu suas amigas que imediatamente foram ter com ela, e conhecer seu consorte do qual tantas vezes ela falou. Depois das devidas apresentações, elas se retiraram para um canto da praia e comentavam a certa distância sobre o rapaz que estava sentado na areia e deixava o vento atingir-lhe a face, e sentia a paz que aquele momento lhe transferia. Sua vida estava mudando definitivamente, e todos os últimos dias eram testemunhas de que ele estava irremediavelmente apaixonado por aquela menina de 18 anos. A alegria que brotava nela era o atrativo que lhe prendia ao jovem coração da garota, e lhe fazia perceber que o amor tem mil faces, que o amor precisa ser vivido toda uma vida para ser compreendido em apenas algumas nuances. Lenira deixou suas amigas e se atirou nos braços de Ricardo que a acalentou e fez um carinho na testa, beijou-lhe os lábios e disse que a amava.
O dia transcorreu numa velocidade alucinante, estando os dois, ao fim do dia, novamente estirados sobre a confortável cama do hotel onde estavam hospedados. Fizeram amor e experimentaram a energia inebriante que o ato proporciona. Sabiam que o ato do sexo era apenas uma exígua manifestação de uma das mais lindas facetas do amor. À hora do jantar, se aprontaram e foram à casa de Lenira onde ele conheceria os pais dela, que naturalmente, queriam a filha feliz e sabiam que sua felicidade significava estar ao lado daquele homem vindo de tão longe, mas que sempre esteve tão perto do coração dela. Eles perceberam que o comportamento da menina estava mais doce, que ela estava ainda mais carinhosa com eles, e que o amor é a única coisa que valia a pena por toda carga de sentimentos e sensações existentes no mundo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Insight...


Às vezes tenho disso... Insights. Segundo o dicionário, insights são compreensões, percepções ou revelações repentinas. Longe de ousar tanto, não controlei a vontade inominável de traduzir em letras o seguinte pensamento que me veio de repente:


“Existe o desejo insano, ardente e irremediável que percorre inexoravelmente meu corpo e me faz desejar aquela mulher. Que me faz esquecer de tudo no mundo no momento em que comungamos o amor, o prazer de estar a dois, sentindo a vibração mais intensa do Universo". 

Assim seja.

Apollo

domingo, 14 de outubro de 2012

Janaina

Era uma vez uma menina. Uma menina louca que era dona de si, era dona de sua vida, embora muitas outras pessoas quisessem também ser donas da vida dela. Mas ela não permitia, aliás, nunca permitiu. O nome dela? Janaina! Uma mulher adorável, inteligente, muito inteligente, mas de uma inteligência intuitiva, nada lógica, feita de iluminações, de insights. Tem uma imensa habilidade de viver e ama as pessoas e as coisas. Surpreende sempre com um rasgo de heroísmo, abre mão de coisas que ama, para que outras que estão numa situação mais complicada possam ser felizes. Apenas esse fato já é para se avaliar a capacidade da alma de Janaina. Tanto é capaz de se fazer amada como de amar. Só precisa compreender que os homens não são todos iguais, e que pessoas boas precisam ser garimpadas na lama dos acontecimentos.
Ela tem tudo para ter uma compreensão da vida surpreendente, basta que siga as escolhas que seu coração mandar e não as escolhas que impressionam os amigos. Como ainda tem só 19 anos, quase 20, ela tem ainda muito tempo para aprender. Aprendeu uma lição importantíssima outro dia. Aprendeu a perder para poder ganhar. Permito-me falar de Janaina, porque eu a conheço, talvez, melhor que a própria família dela. A Janaina que conheci estava desarmada e não precisava se defender para se fazer entendida na situação. Eu a conheci como ela realmente é. Sem máscaras. Não que ela seja falsa ou coisa do tipo. É que nesse mundo louco de hoje as máscaras nos servem como formas de sobrevivência, nos servem para sofrermos menos. O que digo dela nessas pobres linhas são o resultado de alguns felizes meses de observações. É que os olhos do coração enxergam as coisas como elas verdadeiramente são.
Janaina se defende do mundo, se defende dos homens, se defende da pessoa que a colocou no mundo. Quem tanto se defende cria uma couraça em torno de si, e isso é um processo natural, uma consequência óbvia e ela aprendeu a fazê-lo bem, mas faz sofrer quem apenas sinaliza que gostaria de vê-la sofrendo. Isso ela também sabe fazer. Mas acho que ela aprendeu a perdoar e pedir perdão. Essa menina está aprendendo muito rápido.
Vai vencer na vida e ser muito feliz. A felicidade que desejo para ela é a felicidade que desejo para mim. Ser feliz não é ser rico, ter infinitas posses e ter o mundo aos pés. Ser feliz é ter a capacidade de enfrentar os problemas que irremediavelmente virão nos visitar. É ainda estar com a consciência moral satisfeita e com os deveres cumpridos.
Ela sempre surpreende. Com atitudes boas e algumas ruins, não importa. A última vez que ela surpreendeu foi quando disse que abriria mão de uma pessoa que amava muito para que esta pessoa pudesse viver com uma mulher que, sem que soubesse, havia assumido um compromisso eterno com ele. Não é fácil tomar decisões assim. Isso amadurece muito. Tenho certeza que ela compreendeu o tamanho do seu feito e sei que não vai adotar atitudes impensadas para remediar seu coração que sofria amargamente naquela época.
Não vou falar de sentimentos por ela. Ela os conhece bem e isso basta. Quisera apenas que ela lesse essas linhas, que são uma espécie de agradecimento por ela ter me ensinado tanta coisa boa. Aprendi demais com essa mulher. Obrigado, Janaina.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Por enquanto...

Mudaram as estações e nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim tão diferente


Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre?
Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem

Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar agora tanto faz...
Estamos indo de volta pra casa


(Legião Urbana)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Antítese

Existe o bem e existe o mal. Existe o sol e existe a lua. Existe o sorriso e existe o choro... compulsivo... desesperado...
Ela se foi sorrindo, com um choro disfarçado no canto do rosto. Está agora naquele lugar onde os cigarros são acesos com frequência e as garrafas esvaziadas com prazer. Nunca existiram culpados. Nem sempre eles são necessários para que os corações sangrem.
Uma nova vida bate no ventre. Um novo dia surge. Mas a tarde pretérita foi de um colorido vermelho-amarelado. Acompanhei o último pôr-do-sol e ele estava ainda mais surpreendente e nunca imaginei que pudesse ser desse jeito. O desespero é vizinho da sobriedade. O tênue limite cabe ao sensato e ao precavido. Brindar com o demônio estando com o corpo tomado de bênçãos me traz a sensação de que nunca a totalidade será a casa do amor. Sempre a divisão!!!
Se tu não me entendes em metáforas, tampouco entenderás sorrisos, lágrimas e orgasmos. Em todos os dias de minha vida houve mistos de alegria e tristeza, de dias e noites. Como vês, o tema hoje é a antítese. Como sabes, tu estás bem agora. Como presumes, tu terás vida longa e feliz (se Deus quiser).
Nossos erros continuados podem se consubstanciar em acertos. O coração neófito que bate tem sede de vida. E a vida dela (sim dela) tem mais valor que a nossa, porque assim é a vida. Um dia quem sabe estejamos juntos. Ao levitarmos em outro plano, talvez possamos nos sintonizar, porque hoje, cara pessoa, tu estás a navegar verdes mares. Tu és absoluta, tu és o amor.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Palavras soltas


Pronto! Você disse tudo o que queria, não me deu razão embora soubesse que ela estava ao meu lado o tempo todo e se foi sem me deixar falar. O sono foi embora por conta dos pensamentos que se embaraçam nas cortinas de minhas confusões. E ainda agora essa solidão que me pertence toda uma semana, a fio, inexorável, brutal.
Ao olhar as paredes frias e impessoais desse quarto de hotel, sinto os augúrios do amanhecer que ainda está longe, mas me diz que meu dia será percorrido com dificuldade, e perceberei as horas se arrastando. Lentas.Não quero falar de você. Hoje não. Quero só espalhar palavras na tela, sem me preocupar em saber por onde elas me levarão. Infelizmente sei que em dado momento elas me levarão a você. Nesse momento aporei o ponto final e correrei para a cama exasperado por dormir. Não, não posso beber uma garrafa de um bom cabernet hoje. Não seria sensato.
Embora o amor já me seja antigo companheiro, ainda não aprendi seus meandros mais secretos. E um misto de pavor, raiva e compreensão, sem falar da paixão desenfreada, não me permitem saber que o momento de tentar equilibrar os pensamentos é agora. Pronto, já me veio você à cabeça... como prometi, ponto final.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Totum continens


São em manhãs como essa, ouvindo uma boa música, olhando o horizonte recém iluminado pelo sol que percebo que a alegria pode vir de repente, sem razão alguma, emprestar-me a vontade de explodir de felicidade, também sem razão alguma. Conheço esse estado em que me encontro agora muito bem, mas faz tempo que ele não vem assim. Foi só ontem e hoje. Vejo que a rotina diária é insana e atrapalha enxergar com os olhos da alma.
Absolutamente ninguém tem a ver com a causa disso que me acontece, acho que apenas os acordes de Vivaldi no inverno das Quatro Estações que me abalam demais a alma e podem ter relação direta. Pouco importa quanto tempo isso dure. Pouco importa o quão intenso possa ser esse momento. O que importa na verdade é que ele aconteça mais vezes, porque o amor que dedico ao mundo, às suas criaturas [sobretudo as do sexo feminino] é resultado direto do meu estado de alma [terminando agora o inverno de Vivaldi].

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Um telefonema pela manhã


Recebi um telefonema hoje muito cedo. Era Fernanda. Já falei dela alguns posts atrás. Conversamos amenidades. Nanda é dessas amigas que aparecem de vez em quando, deixam uma marca e vão embora. Nessa ocasião ela queria saber se eu estava morando no mesmo lugar. Disse que foi em minha casa e não me achou. Estou passando uns tempos fora. Com a permissão do Mestre Maior eu ainda volto para lá em breve. Eu sabia que tinha algo que ela queria me dizer afinal Fernanda não é o tipo de mulher que telefona para alguém só para saber se essa pessoa está bem, se está viva. Quando lhe disse que estou com alguém notei que ela deu uma baqueada, depois retomou o mesmo timbre de voz e continuou sua prosa.
Falamos sobre o passado, o presente, não falamos do futuro. Ela nunca fala do futuro com as pessoas porque diz que o que ainda não aconteceu só merece mesmo é planos e sonhos, mas prefere que eles sejam parte apenas dela própria, imersos em seus pensamentos mais recônditos.
Falamos sobre Stendhal, seu autor predileto. Ela sempre gostou mais de Stendhal do que Oscar Wilde, e sempre comparava os perfis dos dois exaltando seu autor e falando que Wilde [o qual já li quase tudo] era um maluco por ter escrito apenas um romance, e por esse romance contar uma história absurda [ela falava do livro “O retrato de Dorian Gray”]. Fernanda nunca entendeu o propósito de Wilde nesse livro, mas gostava dos diálogos de Lord Henry e Dorian Gray, vai entender as mulheres.
      Por fim nos despedimos sem marcarmos nada. Apenas a vida, nessas idas e voltas alucinantes podem nos colocar de novo no mesmo caminho para fazermos novas escolhas, disse ela antes de dizer tchau.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Decifrando Amanda


Uma menina que sonha com seu futuro, que sonha em se casar. Ela pensa que sua felicidade é para hoje e tem pressa de vivê-la. Como se tivesse apenas mais uma semana de vida, ela sonha, ela vive, ela vê seu futuro diante de seus olhos, ela está imersa em um transe diferente. Mesmo sozinha em seu quarto de menina, à frente do computador, Amanda se agita, ri, chora [ela chorou muito esses dias]. Sua forma tão dela de conviver com o mundo pela tela do computador, principalmente, lhe permite saber o que o mundo lhe reserva lá fora. Ela tem medo do que ainda não sabe. Seu sexto sentido lhe diz que seus 19 anos são apenas o prenúncio de uma vida cheia de momentos bons e maus, e que esses últimos são os que lhe ensinarão que só depois de cair é que é possível aprender a levantar. Suas lágrimas ainda cairão generosas pelos sofrimentos que ainda virão. Mas ela admite que não importa qual seja a situação: boa ou má; ela vai mudar um dia.
Ela tem um amor no coração. Ele surgiu da tela de seu computador e lhe laçou o espírito de cara. Amanda sente uma coisa diferente no peito quando pensa nele, ela sente uma onda quente que lhe toma o corpo, outras vezes tem um sentimento de que todo o amor do mundo vai explodir dentro de seu peito e atingir as mais altas camadas da atmosfera. Eles estão juntos e ela sonha ferozmente com o compromisso formal ao lado dele. Sonha que ele vai à sua casa, que conhece seu mundo dentro de seu quarto, que almoça ali aos domingos, que fazem amor nas tardes preguiçosas em que seus pais saem e eles ficam sozinhos. Coisas de menina, mas são fundamentais para ela e é necessário que se tornem realidade para que ela continue a acreditar que seu mundo é real, e que a realidade do mundo cruel que ela vê na TV com seu pai é mais uma deturpação de uma vida áspera, árida e sem sal, por isso ela prefere a sua realidade que não admite ser chamada de fantasia, porque realidade e fantasia são duas faces da mesma moeda.
Às vezes ela tem medo de sofrer. Criou até uma frase onde dizia que todo homem e todo sapato novo, machucam uma mulher apaixonada. São exteriorizações da alma dessa menina-mulher que ainda tem tons de rosa no seu quarto, uma cama estreita de solteiro localizada embaixo da janela, um guarda-roupas com suas peças cuidadosamente colocadas em cabides trabalhados, o maleiro com caixas de sapatos, os quais ela tem um carinho especial, um espelho na parede que reflete todo seu corpo moreno e sedento de amor. Seu espelho parece lhe chamar para mergulhar dentro de outro mundo, como Alice no país das maravilhas.
Ela tem também um segredo. Como é segredo não cabe aqui elucubrar sobre o que seja. Só ela sabe, ou então não seria segredo. Isso que ela guarda consigo já a fez chorar. Ela já morreu de rir com esse segredo, mas as alternâncias de seu humor por conta disso lhe dizem que é possível carregar um pensamento secreto dentro do espírito, apesar de que a todo momento seus amigos, suas amigas, seu amor possam descobri-lo. Seu amado pode ler o segredo em seus olhos, se soubesse como. Por isso ela se defende e tenta dizer-lhe com o silêncio que seu amor por ele é o desdobramento de várias vidas dela, e que seu segredo foi algo que aprendeu no caminho e já compartilha com ele todas as vezes em que fazem amor. Só falta ele descobrir.