Estivemos no
inferno juntos e escapamos de lá. Sempre nos disseram que era impossível sorrir
lá dentro e descobrimos que é possível. Fugimos antes de o dia amanhecer por
aquela estrada serpenteada de pedras e espinhos. Corremos até onde as flores
começaram a surgir ao longe, nas várzeas tomadas de brumas espessas que se iam
declinando fragorosamente diante de nossos passos resolutos. Em dado momento
percebemos os primeiros alvores da manhã que tinha pressa em chegar para que
exorcizássemos de uma vez os nossos demônios. As brumas tomaram conta do
ambiente com toda plenitude que lhes era possível, mesmo estando o dia se
declarando a nós aos poucos. Então percebemos que a luz não se faz visível logo
no início, que é preciso saber enxergar através do opaco. Com o decorrer da
caminhada, já cansados, mas mais fortes por estarmos naquele ponto da
conquista, paramos naquele bangalô que havia sobre a colina e descansamos
nossos espíritos. Vimos finalmente um no outro que dois anos se passam em dois
dias. Vimos que o tempo é loucura.
Depois de nos
amarmos fartamente, e nos embriagar do doce desejo de nos tocar não só com os
sentidos físicos, mas também com os da alma, depois de percebermos um no outro
circunstâncias especiais que só os ávidos percebem, você desapareceu quando
saímos à porta da casa para continuarmos a caminhada sentido ao leste. Então,
vi que no alto de uma montanha estava ela, aquela mulher que me arrebatou
novamente do caminho, mas me mostrou um outro que se parecia um atalho. Descobri
depois de 10 semanas que havia chegado bem mais perto do mundo em que vivemos.
Como o objetivo dela havia se cumprido, ela me acenou docemente, me disse do
nosso amor, me deixou nossa semente tenra e bela, e uma torrente de vento abateu-se
sobre nós. Foi-se.
Então vi seus
cabelos louros e esvoaçantes tocando-me o rosto enquanto você tinha os olhos marejados
de lágrimas naquele dia que me encontrou pelo mundo e eu estava extasiado pelos
dias que se repetiam incessantes. Eu havia perdido a direção de novo. E sem eu saber,
você chegou, me disse coisas que eu havia esquecido, me tocou com seu espírito
e ficou uns dias.
Então percebi
que toda poeira é leve justamente por poder seguir a direção da ventania, por
poder ir tocar outra face em outro lugar e ensinar-lhe a se proteger dos ciscos
impiedosos. A ventania é benéfica e sempre me toca o rosto, mas hoje eu sei que
devo olhar na outra direção e apenas sentir seu contato fresco na pele.
Sei que o
inferno ficou lá atrás, de onde fugimos. Sei que nossa luz se ampliará até nos
tomar de alegria. Ela está ainda ali adiante, mas já vemos seu imenso clarão
que nos toma de alegria indefinida. Ela está chegando e serão dois sóis a nos clarear.
Sempre
soubemos que o amor tem mil faces. Já filosofamos fartamente sobre isso. São
mil tons de cinza que se misturam, se fundem, se redescobrem, se redefinem, se
perdem em si, porque a luz que os ilumina permite que nunca deva haver
dissolução imediata. Quem clareia o espírito com notas sutis de amor, de
alegria, de felicidade, vê um pouco mais. Vamos descobrir o que o caminho ainda
nos oculta.
Muito bom como sempre é....
ResponderExcluirVocê me inspira!
Beijo quente