quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Insights - Parte 6

O forte e o fraco. O amor e o ódio. O bem e o mal. O tênue e o agressivo. No meio de todos eles, o equilíbrio, razão precípua de se sofrer em busca de um ideal que nos imerge em felicidade!!

Insights - Parte 5

A essência da vida é buscar em nós mesmos o equilíbrio que se distancia de nós à medida que a ignorância se avoluma. O passado só serve para nos lembrar como não se pode fazer.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Insights - Parte 4

Às vezes me pergunto como os caminhos se tocam, se distanciam ao infinito, se perdem... Mas a arte do reencontro pode permitir que as estradas voltem a se beijar como duas almas que nunca deixaram de se sentir mesmo tendo todo o Universo como distância infinita entre elas. 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Insights - Parte 3


Desconfie de quem te feriu, porque é bem provável que te fira novamente. Quanto aos que nunca te magoaram, confie, mas preserve seu coração em lugar seguro.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Filosofando


De que forma um dia influencia uma vida? De que modo um segundo se perpetua ao infinito? Se o tempo é abstração humana, o que seria o passado e futuro? Se depois de um milésimo de segundo o agora é passado, existe realmente presente? Se o que vemos com os olhos físicos não é a verdade absoluta, o que é então?
Seria eu capaz de continuar a perguntar indefinidamente essas questões de difícil compreensão imediata, mas são questões que tem respostas. Basta refleti-las. Claro que nem todos ainda somos capazes disso. É preciso olhar para dentro de si e procurar saber quais são seus limites de compreender o que lhe parece indecifrável. O apoio interno de cada um de nós deve jazer sobre fundamentos eternos, sobre princípios transcendentais. Existem leis eternas que governam o Universo e elas nos dizem que temos que nos adequar a elas para que a vida flua dentro de uma normalidade. O tempo não existe porque somos eternos e estamos condenados a ser felizes. Só cabe a cada um encurtar os dias de tribulações com seus próprios esforços.
Existem pessoas que seguem essas leis eternas e conseguem conhecer melhor a si próprias. Esse é o segredo. Só assim se sabe o quanto pode suportar de dor, se a aparente dor é mesmo uma dor ou uma sensação de alívio. Fica-se mais próximo da essência.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O outro lado do reverso


A alegria sangrou no dia em que a tristeza floriu. Uma era a amante da outra. Depois da divisão primordial entre elas, outros sentimentos entraram no rol do paradoxo confuso e imaterial. Todos os corações passaram a acreditar que a maldade era força intrínseca à Substância Maior.
Quem nunca se sentiu feliz em mentir? A mentira era o dia e a falsidade era a noite.  Nunca elas se contrapuseram, apesar de serem tão iguais e congruentes. Se a mentira pedia o sangue, a falsidade lhe beijava o rosto porque não poderia lhe morder o coração. Depois de muitos séculos o próprio homem descobriu que uma não era a outra. E entendeu que a mentira é melhor que a falsidade. Os inimigos declarados são mais sinceros.
Quem nunca se sentiu feliz em trair? A traição era o norte, e a cupidez era o sul. Nunca puderam entender que elas eram filhas do mesmo ninho. A traição se satisfazia com as lágrimas, mas a cupidez que era conhecida por ambição queria sempre mais. Depois de muitos séculos o próprio homem descobriu que uma não era a outra. E entendeu que a traição é melhor que a ambição. Porque uma ação se detém na sua consumação, mas a ambição permite que a consumação do ato seja apenas o prenúncio de outro ato.
Quem nunca se sentiu feliz em ser ingrato? A ingratidão era o tênue e a escassez era o denso.  Nunca se tornaram miscíveis no recipiente do coração humano. A ingratidão sorria ao sangue do ultraje depois do bem praticado, mas a escassez queria que as ingratidões causassem o maior dano possível em poucas ações. Depois de muitos séculos o próprio homem descobriu que uma não era a outra. E entendeu que a ingratidão é melhor que a escassez, porque se tudo lhe falta, nada lhe contém, e a escassez pode agir sem obstáculos à sua imensa potência, e concorrer para a falta de tudo, mesmo do que parece insano.
Quem nunca s sentiu feliz em ser trágico? A tragédia era o início e a severidade era o fim. Nunca se complementaram apesar de se aproximarem incessantemente. A tragédia comprazia-se no sofrimento de quem suporta a desgraça que arde e faz sofrer, mas a severidade sempre julgava que a tragédia era a comédia, e que os pontos de vista eram particulares e sempre se podia sorrir do sangue derramado. Depois de muitos séculos o próprio homem descobriu que uma não era a outra. E entendeu que a tragédia era melhor que a severidade, porque se o fato trágico causa dor e medo de sua repetição (e esta não é certa que se se repita), e a severidade é conhecida pela sua renovação e recrudescimento.  Sempre se julga mais pesadamente o que mais se convive, mas menos se conhece na mesma medida que o tempo escorre.
E antes que os choques constantes pudessem aumentar sua proporção ao infinito, antes que esses sentimentos pudessem arruinar a vida na terra, o amor, com toda a superioridade que sua autoridade lhe empresta, fechou a caixa de Pandora e não permitiu que a lama se confundisse ao sândalo, que o deletério se travestisse de perfume nobre, que o lodo se disfarçasse de chocolate. O amor tem o poder de frear o ímpeto do mal. E o amor começou a mostrar para o homem que a mentira não pode ser melhor que a falsidade, que a traição não pode ser melhor que a cupidez, que a ingratidão não pode ser melhor que a escassez, que a tragédia não pode ser melhor que a severidade.
O amor foi o único que teve a permissão de se misturar para se tornar invencível. E assim, se misturou ao bem. E desde esse dia, apesar dos sentimentos ruins flutuarem pelo mundo, o amor cura as chagas abertas pela mentira, pela falsidade, pela traição, pela cupidez, pela ingratidão, pela escassez, pela tragédia e pela severidade. E o bem combate as filhas pérfidas que resultaram da satânica gestação entre todos eles até o fim dos dias, quando haverá só o bem, o amor, a felicidade e a eternidade.

Insights - Parte 2


Minha alma está muito acima de mim e é necessária minha completa transmutação para que eu a alcance e me torne mim mesmo novamente.

domingo, 21 de outubro de 2012

Em metáforas


Estivemos no inferno juntos e escapamos de lá. Sempre nos disseram que era impossível sorrir lá dentro e descobrimos que é possível. Fugimos antes de o dia amanhecer por aquela estrada serpenteada de pedras e espinhos. Corremos até onde as flores começaram a surgir ao longe, nas várzeas tomadas de brumas espessas que se iam declinando fragorosamente diante de nossos passos resolutos. Em dado momento percebemos os primeiros alvores da manhã que tinha pressa em chegar para que exorcizássemos de uma vez os nossos demônios. As brumas tomaram conta do ambiente com toda plenitude que lhes era possível, mesmo estando o dia se declarando a nós aos poucos. Então percebemos que a luz não se faz visível logo no início, que é preciso saber enxergar através do opaco. Com o decorrer da caminhada, já cansados, mas mais fortes por estarmos naquele ponto da conquista, paramos naquele bangalô que havia sobre a colina e descansamos nossos espíritos. Vimos finalmente um no outro que dois anos se passam em dois dias. Vimos que o tempo é loucura.
Depois de nos amarmos fartamente, e nos embriagar do doce desejo de nos tocar não só com os sentidos físicos, mas também com os da alma, depois de percebermos um no outro circunstâncias especiais que só os ávidos percebem, você desapareceu quando saímos à porta da casa para continuarmos a caminhada sentido ao leste. Então, vi que no alto de uma montanha estava ela, aquela mulher que me arrebatou novamente do caminho, mas me mostrou um outro que se parecia um atalho. Descobri depois de 10 semanas que havia chegado bem mais perto do mundo em que vivemos. Como o objetivo dela havia se cumprido, ela me acenou docemente, me disse do nosso amor, me deixou nossa semente tenra e bela, e uma torrente de vento abateu-se sobre nós. Foi-se.
Então vi seus cabelos louros e esvoaçantes tocando-me o rosto enquanto você tinha os olhos marejados de lágrimas naquele dia que me encontrou pelo mundo e eu estava extasiado pelos dias que se repetiam incessantes. Eu havia perdido a direção de novo. E sem eu saber, você chegou, me disse coisas que eu havia esquecido, me tocou com seu espírito e ficou uns dias.
Então percebi que toda poeira é leve justamente por poder seguir a direção da ventania, por poder ir tocar outra face em outro lugar e ensinar-lhe a se proteger dos ciscos impiedosos. A ventania é benéfica e sempre me toca o rosto, mas hoje eu sei que devo olhar na outra direção e apenas sentir seu contato fresco na pele.
Sei que o inferno ficou lá atrás, de onde fugimos. Sei que nossa luz se ampliará até nos tomar de alegria. Ela está ainda ali adiante, mas já vemos seu imenso clarão que nos toma de alegria indefinida. Ela está chegando e serão dois sóis a nos clarear.
Sempre soubemos que o amor tem mil faces. Já filosofamos fartamente sobre isso. São mil tons de cinza que se misturam, se fundem, se redescobrem, se redefinem, se perdem em si, porque a luz que os ilumina permite que nunca deva haver dissolução imediata. Quem clareia o espírito com notas sutis de amor, de alegria, de felicidade, vê um pouco mais. Vamos descobrir o que o caminho ainda nos oculta. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Circunstâncias do amor


Numa manhã ensolarada de sábado, com o típico calor do fim de dezembro, Ricardo e Lenira decidiram ir à praia. Eles haviam passado a noite juntos e adormeceram, exaustos, na posição que se chama popularmente de conchinha. Ele acordou primeiro, preparou uma bandeja com uma refeição leve e acordou sua amada com beijos e carícias no rosto. Ela abriu os amendoados olhos ainda dominados pelo sono pesado que havia tomado posse dela durante parte da noite, pois eles haviam repetido inúmeras vezes o ato de se amarem sem medida e sem limites. Olhou seu homem com ternura infinita e respondeu ao bom dia dele com a voz entrecortada por um bocejo. Sentiu-se muito desejada e amada naquele momento tão romântico que ela havia previsto e planejado em pensamentos inúmeras vezes. Afinal, fazia seis meses que eles programavam aquele encontro que finalmente havia acontecido. Ele havia vindo de Minas Gerais para encontrá-la no aeroporto de João Pessoa depois de se conhecerem numa noite fria de julho. Lenira, com seus 18 anos, há muito estava apaixonada pelo homem que lhe acalmava a alma, que lhe permitia manifestar o amor de forma muito contundente e particular. Ricardo via nela toda a alegria de estar com alguém. Fazer amor com ela era o ápice da demonstração de seu sentimento. Durante aquele momento, eles fizeram a primeira refeição do dia, entre risos, e ouvindo uma música calma que parecia comungar com eles aquele momento de tanta paz. Eles sabiam que somente a tranqüilidade é momento para se abrir os canais do espírito e deixar fluir o amor.
Já vestidos, saíram à rua, em direção à praia, abraçados, apaixonados, tendo a certeza de que os dias que passariam juntos seriam memoráveis e pertenceriam a eles para sempre. Lenira estava mais bonita, seus louros cabelos esvoaçavam ao vento enquanto seu homem notava em seu olhar um lindo brilho que sabia ser uma divina conseqüência de uma doce causa.
Já na praia, Lenira viu suas amigas que imediatamente foram ter com ela, e conhecer seu consorte do qual tantas vezes ela falou. Depois das devidas apresentações, elas se retiraram para um canto da praia e comentavam a certa distância sobre o rapaz que estava sentado na areia e deixava o vento atingir-lhe a face, e sentia a paz que aquele momento lhe transferia. Sua vida estava mudando definitivamente, e todos os últimos dias eram testemunhas de que ele estava irremediavelmente apaixonado por aquela menina de 18 anos. A alegria que brotava nela era o atrativo que lhe prendia ao jovem coração da garota, e lhe fazia perceber que o amor tem mil faces, que o amor precisa ser vivido toda uma vida para ser compreendido em apenas algumas nuances. Lenira deixou suas amigas e se atirou nos braços de Ricardo que a acalentou e fez um carinho na testa, beijou-lhe os lábios e disse que a amava.
O dia transcorreu numa velocidade alucinante, estando os dois, ao fim do dia, novamente estirados sobre a confortável cama do hotel onde estavam hospedados. Fizeram amor e experimentaram a energia inebriante que o ato proporciona. Sabiam que o ato do sexo era apenas uma exígua manifestação de uma das mais lindas facetas do amor. À hora do jantar, se aprontaram e foram à casa de Lenira onde ele conheceria os pais dela, que naturalmente, queriam a filha feliz e sabiam que sua felicidade significava estar ao lado daquele homem vindo de tão longe, mas que sempre esteve tão perto do coração dela. Eles perceberam que o comportamento da menina estava mais doce, que ela estava ainda mais carinhosa com eles, e que o amor é a única coisa que valia a pena por toda carga de sentimentos e sensações existentes no mundo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Insight...


Às vezes tenho disso... Insights. Segundo o dicionário, insights são compreensões, percepções ou revelações repentinas. Longe de ousar tanto, não controlei a vontade inominável de traduzir em letras o seguinte pensamento que me veio de repente:


“Existe o desejo insano, ardente e irremediável que percorre inexoravelmente meu corpo e me faz desejar aquela mulher. Que me faz esquecer de tudo no mundo no momento em que comungamos o amor, o prazer de estar a dois, sentindo a vibração mais intensa do Universo". 

Assim seja.

Apollo

domingo, 14 de outubro de 2012

Janaina

Era uma vez uma menina. Uma menina louca que era dona de si, era dona de sua vida, embora muitas outras pessoas quisessem também ser donas da vida dela. Mas ela não permitia, aliás, nunca permitiu. O nome dela? Janaina! Uma mulher adorável, inteligente, muito inteligente, mas de uma inteligência intuitiva, nada lógica, feita de iluminações, de insights. Tem uma imensa habilidade de viver e ama as pessoas e as coisas. Surpreende sempre com um rasgo de heroísmo, abre mão de coisas que ama, para que outras que estão numa situação mais complicada possam ser felizes. Apenas esse fato já é para se avaliar a capacidade da alma de Janaina. Tanto é capaz de se fazer amada como de amar. Só precisa compreender que os homens não são todos iguais, e que pessoas boas precisam ser garimpadas na lama dos acontecimentos.
Ela tem tudo para ter uma compreensão da vida surpreendente, basta que siga as escolhas que seu coração mandar e não as escolhas que impressionam os amigos. Como ainda tem só 19 anos, quase 20, ela tem ainda muito tempo para aprender. Aprendeu uma lição importantíssima outro dia. Aprendeu a perder para poder ganhar. Permito-me falar de Janaina, porque eu a conheço, talvez, melhor que a própria família dela. A Janaina que conheci estava desarmada e não precisava se defender para se fazer entendida na situação. Eu a conheci como ela realmente é. Sem máscaras. Não que ela seja falsa ou coisa do tipo. É que nesse mundo louco de hoje as máscaras nos servem como formas de sobrevivência, nos servem para sofrermos menos. O que digo dela nessas pobres linhas são o resultado de alguns felizes meses de observações. É que os olhos do coração enxergam as coisas como elas verdadeiramente são.
Janaina se defende do mundo, se defende dos homens, se defende da pessoa que a colocou no mundo. Quem tanto se defende cria uma couraça em torno de si, e isso é um processo natural, uma consequência óbvia e ela aprendeu a fazê-lo bem, mas faz sofrer quem apenas sinaliza que gostaria de vê-la sofrendo. Isso ela também sabe fazer. Mas acho que ela aprendeu a perdoar e pedir perdão. Essa menina está aprendendo muito rápido.
Vai vencer na vida e ser muito feliz. A felicidade que desejo para ela é a felicidade que desejo para mim. Ser feliz não é ser rico, ter infinitas posses e ter o mundo aos pés. Ser feliz é ter a capacidade de enfrentar os problemas que irremediavelmente virão nos visitar. É ainda estar com a consciência moral satisfeita e com os deveres cumpridos.
Ela sempre surpreende. Com atitudes boas e algumas ruins, não importa. A última vez que ela surpreendeu foi quando disse que abriria mão de uma pessoa que amava muito para que esta pessoa pudesse viver com uma mulher que, sem que soubesse, havia assumido um compromisso eterno com ele. Não é fácil tomar decisões assim. Isso amadurece muito. Tenho certeza que ela compreendeu o tamanho do seu feito e sei que não vai adotar atitudes impensadas para remediar seu coração que sofria amargamente naquela época.
Não vou falar de sentimentos por ela. Ela os conhece bem e isso basta. Quisera apenas que ela lesse essas linhas, que são uma espécie de agradecimento por ela ter me ensinado tanta coisa boa. Aprendi demais com essa mulher. Obrigado, Janaina.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Por enquanto...

Mudaram as estações e nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim tão diferente


Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre?
Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem

Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar agora tanto faz...
Estamos indo de volta pra casa


(Legião Urbana)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Antítese

Existe o bem e existe o mal. Existe o sol e existe a lua. Existe o sorriso e existe o choro... compulsivo... desesperado...
Ela se foi sorrindo, com um choro disfarçado no canto do rosto. Está agora naquele lugar onde os cigarros são acesos com frequência e as garrafas esvaziadas com prazer. Nunca existiram culpados. Nem sempre eles são necessários para que os corações sangrem.
Uma nova vida bate no ventre. Um novo dia surge. Mas a tarde pretérita foi de um colorido vermelho-amarelado. Acompanhei o último pôr-do-sol e ele estava ainda mais surpreendente e nunca imaginei que pudesse ser desse jeito. O desespero é vizinho da sobriedade. O tênue limite cabe ao sensato e ao precavido. Brindar com o demônio estando com o corpo tomado de bênçãos me traz a sensação de que nunca a totalidade será a casa do amor. Sempre a divisão!!!
Se tu não me entendes em metáforas, tampouco entenderás sorrisos, lágrimas e orgasmos. Em todos os dias de minha vida houve mistos de alegria e tristeza, de dias e noites. Como vês, o tema hoje é a antítese. Como sabes, tu estás bem agora. Como presumes, tu terás vida longa e feliz (se Deus quiser).
Nossos erros continuados podem se consubstanciar em acertos. O coração neófito que bate tem sede de vida. E a vida dela (sim dela) tem mais valor que a nossa, porque assim é a vida. Um dia quem sabe estejamos juntos. Ao levitarmos em outro plano, talvez possamos nos sintonizar, porque hoje, cara pessoa, tu estás a navegar verdes mares. Tu és absoluta, tu és o amor.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Palavras soltas


Pronto! Você disse tudo o que queria, não me deu razão embora soubesse que ela estava ao meu lado o tempo todo e se foi sem me deixar falar. O sono foi embora por conta dos pensamentos que se embaraçam nas cortinas de minhas confusões. E ainda agora essa solidão que me pertence toda uma semana, a fio, inexorável, brutal.
Ao olhar as paredes frias e impessoais desse quarto de hotel, sinto os augúrios do amanhecer que ainda está longe, mas me diz que meu dia será percorrido com dificuldade, e perceberei as horas se arrastando. Lentas.Não quero falar de você. Hoje não. Quero só espalhar palavras na tela, sem me preocupar em saber por onde elas me levarão. Infelizmente sei que em dado momento elas me levarão a você. Nesse momento aporei o ponto final e correrei para a cama exasperado por dormir. Não, não posso beber uma garrafa de um bom cabernet hoje. Não seria sensato.
Embora o amor já me seja antigo companheiro, ainda não aprendi seus meandros mais secretos. E um misto de pavor, raiva e compreensão, sem falar da paixão desenfreada, não me permitem saber que o momento de tentar equilibrar os pensamentos é agora. Pronto, já me veio você à cabeça... como prometi, ponto final.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Totum continens


São em manhãs como essa, ouvindo uma boa música, olhando o horizonte recém iluminado pelo sol que percebo que a alegria pode vir de repente, sem razão alguma, emprestar-me a vontade de explodir de felicidade, também sem razão alguma. Conheço esse estado em que me encontro agora muito bem, mas faz tempo que ele não vem assim. Foi só ontem e hoje. Vejo que a rotina diária é insana e atrapalha enxergar com os olhos da alma.
Absolutamente ninguém tem a ver com a causa disso que me acontece, acho que apenas os acordes de Vivaldi no inverno das Quatro Estações que me abalam demais a alma e podem ter relação direta. Pouco importa quanto tempo isso dure. Pouco importa o quão intenso possa ser esse momento. O que importa na verdade é que ele aconteça mais vezes, porque o amor que dedico ao mundo, às suas criaturas [sobretudo as do sexo feminino] é resultado direto do meu estado de alma [terminando agora o inverno de Vivaldi].

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Um telefonema pela manhã


Recebi um telefonema hoje muito cedo. Era Fernanda. Já falei dela alguns posts atrás. Conversamos amenidades. Nanda é dessas amigas que aparecem de vez em quando, deixam uma marca e vão embora. Nessa ocasião ela queria saber se eu estava morando no mesmo lugar. Disse que foi em minha casa e não me achou. Estou passando uns tempos fora. Com a permissão do Mestre Maior eu ainda volto para lá em breve. Eu sabia que tinha algo que ela queria me dizer afinal Fernanda não é o tipo de mulher que telefona para alguém só para saber se essa pessoa está bem, se está viva. Quando lhe disse que estou com alguém notei que ela deu uma baqueada, depois retomou o mesmo timbre de voz e continuou sua prosa.
Falamos sobre o passado, o presente, não falamos do futuro. Ela nunca fala do futuro com as pessoas porque diz que o que ainda não aconteceu só merece mesmo é planos e sonhos, mas prefere que eles sejam parte apenas dela própria, imersos em seus pensamentos mais recônditos.
Falamos sobre Stendhal, seu autor predileto. Ela sempre gostou mais de Stendhal do que Oscar Wilde, e sempre comparava os perfis dos dois exaltando seu autor e falando que Wilde [o qual já li quase tudo] era um maluco por ter escrito apenas um romance, e por esse romance contar uma história absurda [ela falava do livro “O retrato de Dorian Gray”]. Fernanda nunca entendeu o propósito de Wilde nesse livro, mas gostava dos diálogos de Lord Henry e Dorian Gray, vai entender as mulheres.
      Por fim nos despedimos sem marcarmos nada. Apenas a vida, nessas idas e voltas alucinantes podem nos colocar de novo no mesmo caminho para fazermos novas escolhas, disse ela antes de dizer tchau.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Decifrando Amanda


Uma menina que sonha com seu futuro, que sonha em se casar. Ela pensa que sua felicidade é para hoje e tem pressa de vivê-la. Como se tivesse apenas mais uma semana de vida, ela sonha, ela vive, ela vê seu futuro diante de seus olhos, ela está imersa em um transe diferente. Mesmo sozinha em seu quarto de menina, à frente do computador, Amanda se agita, ri, chora [ela chorou muito esses dias]. Sua forma tão dela de conviver com o mundo pela tela do computador, principalmente, lhe permite saber o que o mundo lhe reserva lá fora. Ela tem medo do que ainda não sabe. Seu sexto sentido lhe diz que seus 19 anos são apenas o prenúncio de uma vida cheia de momentos bons e maus, e que esses últimos são os que lhe ensinarão que só depois de cair é que é possível aprender a levantar. Suas lágrimas ainda cairão generosas pelos sofrimentos que ainda virão. Mas ela admite que não importa qual seja a situação: boa ou má; ela vai mudar um dia.
Ela tem um amor no coração. Ele surgiu da tela de seu computador e lhe laçou o espírito de cara. Amanda sente uma coisa diferente no peito quando pensa nele, ela sente uma onda quente que lhe toma o corpo, outras vezes tem um sentimento de que todo o amor do mundo vai explodir dentro de seu peito e atingir as mais altas camadas da atmosfera. Eles estão juntos e ela sonha ferozmente com o compromisso formal ao lado dele. Sonha que ele vai à sua casa, que conhece seu mundo dentro de seu quarto, que almoça ali aos domingos, que fazem amor nas tardes preguiçosas em que seus pais saem e eles ficam sozinhos. Coisas de menina, mas são fundamentais para ela e é necessário que se tornem realidade para que ela continue a acreditar que seu mundo é real, e que a realidade do mundo cruel que ela vê na TV com seu pai é mais uma deturpação de uma vida áspera, árida e sem sal, por isso ela prefere a sua realidade que não admite ser chamada de fantasia, porque realidade e fantasia são duas faces da mesma moeda.
Às vezes ela tem medo de sofrer. Criou até uma frase onde dizia que todo homem e todo sapato novo, machucam uma mulher apaixonada. São exteriorizações da alma dessa menina-mulher que ainda tem tons de rosa no seu quarto, uma cama estreita de solteiro localizada embaixo da janela, um guarda-roupas com suas peças cuidadosamente colocadas em cabides trabalhados, o maleiro com caixas de sapatos, os quais ela tem um carinho especial, um espelho na parede que reflete todo seu corpo moreno e sedento de amor. Seu espelho parece lhe chamar para mergulhar dentro de outro mundo, como Alice no país das maravilhas.
Ela tem também um segredo. Como é segredo não cabe aqui elucubrar sobre o que seja. Só ela sabe, ou então não seria segredo. Isso que ela guarda consigo já a fez chorar. Ela já morreu de rir com esse segredo, mas as alternâncias de seu humor por conta disso lhe dizem que é possível carregar um pensamento secreto dentro do espírito, apesar de que a todo momento seus amigos, suas amigas, seu amor possam descobri-lo. Seu amado pode ler o segredo em seus olhos, se soubesse como. Por isso ela se defende e tenta dizer-lhe com o silêncio que seu amor por ele é o desdobramento de várias vidas dela, e que seu segredo foi algo que aprendeu no caminho e já compartilha com ele todas as vezes em que fazem amor. Só falta ele descobrir.

domingo, 30 de setembro de 2012

A tempestade nunca foi tristeza


Pensando bem, a tempestade nunca foi tristeza. Estive a pensar longamente sobre isso. E concluí que quando as nuvens fecham o céu, quando o sol se vai, o que fica é a possibilidade de se refazer. É a águia que quebra o bico na rocha para que outro nasça mais forte e ela possa viver mais outros tantos anos. É o aço que queda-se dentro do cadinho escaldante para que tome outra forma e se torne mais forte.
Necessário se faz buscar sempre. Somos nossos piores inimigos. Nossas fraquezas tornam-se evidentes em momentos de tempestades. Mas as forças que emergiram durante a tempestade anterior são úteis para dissipar essa última. É um ciclo de renascimento eterno. Incrivelmente a lucidez é maior durante as tempestades. Então seria preciso que eu tenha esses ciclos eternamente? Acho que um dia a lucidez da tempestade se fará presente em dias de sol. E a luz do astro maior enfim trará a sabedoria e a paz que só as nuvens são capazes de trazer nos dias de hoje.

domingo, 23 de setembro de 2012

Durante a madrugada


Estávamos nus estirados sobre a cama, em silêncio. Olhávamos nos olhos, procurando adivinhar os pensamentos que rondavam nossas mentes. Havíamos a pouco, mergulhado no prazer intenso, procurando em cada parte do outro, segundos a mais de prazer, de volúpia infinita. Nossas carnes, já suadas, testemunharam nosso frêmito de desejo. A televisão ligada ao acaso mostrava a cena de um casal em vias de se separarem, mas nós não estávamos acompanhando o conflito deles. A cena mostrava uma mulher enrolada num lençol, com os cabelos desgrenhados e os olhos aflitos. O homem falava ruidosamente sem demonstrar amor ou cuidado por ela. O cheiro de sexo inundava nosso quarto. Consumimos todo o conteúdo de uma garrafa de água mineral que suava gelada no ambiente quente pelo prazer. A penumbra contribuía decisivamente para que o clima de pecado se instaurasse definitivamente ali. Enquanto isso as lágrimas rolavam grossas e aos borbotões pelo rosto da mulher prestes a ser abandonada pelo amante. Seu marido suspeitava da traição e a ameaçava abandonar. O amante, por sua vez, tencionava abandoná-la porque não suportava a ideia de ter que desposá-la. Queria-a somente como amante. Um estranho paradoxo para ela que se perguntava como isso lhe acontecera. Como o desejo lhe entorpecera os sentidos daquela maneira? Enquanto isso, eu e Amália cochilávamos sonolentos e embaraçados um no outro.
Fui despertando do último êxtase lentamente. Levantei, fui à varanda, fiquei espreitando a cidade que dormia sob a luz da lua fraca e enevoenta que pairava no oeste. Amália chamava-me para juntar-me a ela na cama. Eu precisava ficar só por um momento. Parecia que o sexo já não resolvia certas necessidades nossas. Ela, carinhosa e dependente, chegou-se a mim, tocou-me nas costas, puxou-me pelo pescoço e ali, na varanda, nua e completa, ofereceu-me a boca que beijei intensamente. Um beijo é um mistério que procuro interpretar a cada instante. Somente a intensidade do ato me revela suas nuances mais sutis. Certa vez, junto a uma mulher que nem sabia o nome, num momento de desejo pronunciado, beijei-lhe com estrépito e mordisquei-lhe os lábios inferiores. Passei a língua por entre os lábios e as gengivas e ela gemeu de prazer. A partir desse dia, percebi o quão interessante e revelador pode ser um beijo bem elaborado.
Eu já podia ouvir o casal da TV discutindo a bom som, barulhos de tapas e safanões percorrendo o quarto. Ele foi embora e bateu a porta vigorosamente. Eu me permitia pensar como se fosse o protagonista daquela cena, excluindo obviamente as agressões físicas que eles trocavam, porque penso que uma mulher deve ser respeitada a cada momento. Mesmo que as discussões se desenrolem doloridas, áridas e severas, o respeito à outra parte deve se fazer presente sob pena de esfriarmos as fibras de nosso ser com o embrutecimento do espírito e a deturpação moral. Amália era a mesma mulher doce e atraente de sempre. O que havia mudado era meu eu. Eu já a conhecia como a mim mesmo, e por alguma razão isso me incomodava. O que eu conhecia me causava medo e apreensão. Não entendia o motivo disso por mais que me esforçasse para me analisar. Preciso de um analista, pensava eu, tomando um gole do champanhe que já rolava quente pela garganta. A mansidão do mar não permite que os perigos se mostrem audazes. As tempestades não se fazem nas marolas. E meu espírito precisava da tormenta para que algo acontecesse. A metamorfose humana acontece nas situações tempestuosas e comigo não parecia ser diferente.
Amália havia voltado para a cama e sorvia goles infinitos de água mineral. Estava falando consigo mesma, numa intensidade que eu ouvia da varanda. 
- Calma, sua esfomeada. 
- Esfomeada não porque não estou comendo nada, estou bebendo... 
Eu sorria com pena de mim mesmo e com pena dela. Ela não merecia a separação. Seus olhinhos brilhavam de felicidade perto de mim. Até seus cabelos esvoaçavam com mais beleza por conta da sua alegria. Eu a via nua, seios perfeitos, quadris desenhados cuidadosamente. As nádegas, grandes, tinham uma curvatura suave e perfeita. Percebi um fio de cabelo colado pelo suor em sua bunda. Ela estava feliz à minha espera para celebrarmos nosso amor novamente. Tomei o restante da taça, olhei novamente a cidade e entrei. Joguei uma água no rosto, mirei-me no espelho e voltei para a cama. Como um cão faminto pulei sobre Amália e procurei esquecer aquela loucura que eu acalentava idiotamente. Beijei-lhe com sofreguidão enquanto olhava em seus olhos entreabertos. Procurei seus seios que palmilhei com a língua, milímetro por milímetro. Sentia o cheiro da sua pele. Invadi-lhe com fome de amor. Os movimentos logo se tornaram evidentes e audíveis. Ficamos nos olhando durante todo o ato. Cariciei-lhe os cabelos e cheirava-os, acuradamente. Mudamos de posição e passamos a espancar nossos corpos de quatro. Amália gemia e chorava de prazer implorando-me mais um orgasmo. Explodi por fim enquanto ela gozava mais uma vez. Estendeu-se na cama e eu caí ao seu lado exausto, satisfeito. Ela começou a me jurar amor eterno e me pedir para nunca abandoná-la. Como que num turbilhão, a velha idéia de deixá-la voltou a tomar parte de meus pensamentos. Ela me acariciava o peito, me beijava o rosto. Seu corpo nu era algo suavemente belo. Suas ancas perfeitas estavam avermelhadas pelo impacto repetitivo no meu quadril. Eu simplesmente não tinha coragem de dizer-lhe o que pensava.
Fico até hoje tentando pactuar certos pensamentos com certos sentimentos. Curioso como pode duas vertentes tão íntimas e irmãs se divergirem tanto dentro de um mesmo coração. Sentimento e razão realmente são irmãos, mas quando se desentendem destroem vidas e lares. Amália nunca havia me enganado. Amava-me de fato. O problema é que eu não podia mais estar com ela embora a amasse como a mim mesmo.
Rodei os canais no controle remoto procurando algum programa que não sabia qual. A cena do casal se separando havia me impressionado sobremaneira. Amália estava deitada de lado, ancas expostas, seios a mostra e me olhava com uma alegria inexplicável. Eu procurava não demonstrar que eu percebia o que dizia aquele olhar confidente. Achei finalmente um programa sobre a vida e obra de Antonio Vivaldi. Ao fundo tocava uma de suas obras mais famosas: As quatro estações. Essa obra me lembrava de uma época saudosa de minha vida em que eu morava numa cidadezinha do interior de Minas. Naquela época eu estava descobrindo um novo jeito de viver a vida. Lia livros e mais livros diariamente, de forma febril. Num mesmo ano eu havia lido mais de cento e quarenta livros. Acordava com o barulho de gado mugindo ao longe na vargem. Trabalhava da forma mais aplicada possível no serviço público e voltava para casa para entregar-me novamente á leitura e à música. Vivia para uma mulher com dedicação quase que religiosa. Eu sempre executava Vivaldi no meu aparelho de som. Época maravilhosa aquela. Veneziano por nascimento, Antonio Lucio Vivaldi era o primogênito dos sete filhos do casal Gionanni Battista Vilvaldo, e cAmila Calicchio.  Ordenado padre em 1703, ficou impedido de celebrar a missa em decorrência de uma doença crônica, provavelmente asma. Foi nomeado mestre de violino do "Ospedalle della Pietà", uma instituição veneziana que acolhia crianças órfãs, famosa por seu conservatório musical. Pensava comigo mesmo: Vivaldi ficou enclausurado durante anos para se tornar padre e foi impedido por causa de uma doença que adquiriu. Foi por uma razão alheia a sua vontade, mesmo estando em condições plenas de fazê-lo. Tal qual eu, que nutria o sentimento mais sublime por Amália, mas uma razão determinante me impedia de ficar ao seu lado o resto de meus dias.
Finalmente, olhei Amália nos olhos e disse:
- Não podemos mais estar juntos, meu amor.
- O que? O que houve?
- Não posso mais.
- Não posso entender sua decisão. Há pouco nos amamos nessa mesma cama. O que você está querendo fazer com o nosso amor?
- Não agüento mais essa situação.
- Você tem que entender que não estarei casada com ele para sempre. Ele não me dá o divórcio, apesar de minha insistência diária.
- O que me mata, Amália, é esse sentimento enorme que tenho por você. O ciúme que me derrota. Todas as vezes que você volta para casa eu bebo novamente um cálice amargo de insegurança e ciúme.
- Espere mais uns dias que resolvo tudo.
- Não posso mais. Estou te esperando resolver isso há quatro anos. Quero-a como minha mulher, como minha amante. Quero-te totalmente.
- Podemos fugir. Que me diz?
- Fugir? Meu desvio moral de amar uma mulher casada já é o suficiente para me condenar no tribunal de minha própria consciência.
- Ninguém nos acharia.
- Ninguém pode fugir de si mesmo.
- Lá vem você de novo com essas palavras soltas.
- Quem solta minhas palavras é você. Eu procuro corrigir meus procedimentos morais, mas você me corrói a ética que construí por toda uma vida.
- Você me ama. É por isso que não me deixa. – Percebi o sorriso no canto de sua boca quando ela disse isso.
- Eu te amo como amo minha própria vida. Amo você com uma intensidade descomunal. Mas você não brilha apenas no meu céu.
- E como vamos resolver isso, meu amor?
- Você precisa deixá-lo ou deixar-me, você pode resolver isso dessas duas maneiras.
- E minha filha? Ele nunca me deixaria partir com ela.
- Sei que sua filha seja alguém que te permita desviar uma decisão. Mas o medo de perdê-la para ele não pode ser razão de uma curva no seu caminho.
- O que fazer? – Notei que as lágrimas desciam generosas dos olhos. Sua voz havia embargado de vez. Soluçava e chorava compulsivamente.
- Venha para mim. Traga sua filha. Abandone sua casa. Vamos ter um amor com aprovação moral. A retidão das decisões e da forma de viver são importantes para mim.
- Ele não nos deixaria viver em paz.
- Isso eu resolvo.
- Está bem. Então me dá um beijo e me diz que nunca vai me deixar.
- Você fica hoje e não volta mais para casa?
- Sim, meu amor.
E nos abraçamos com carinho e ficamos a nos amar, madrugada a dentro, protegidos pelos deuses sublimes da madrugada. 




sábado, 22 de setembro de 2012

O equinócio de primavera


Sei que tenho falado eminentemente de sentimentos, de minha busca pelo amor. Sei que a proposta foi falar das duas vertentes mais importantes, mas que na verdade querem dizer a mesma coisa. A busca pelo amor e a busca espiritual. Tenho dedicado maior atenção à busca pelo amor ultimamente [mas nem sempre foi assim]. Entretanto, vou falar hoje um pouco sobre a busca espiritual que todo ser humano faz, e que pode escolher sua forma mais peculiar de se ligar ao Criador. O amor é a raiz de toda busca, e como falo do Sentimento Maior aqui, vamos continuar a falar dele e procurar abranger várias de suas formas de manifestação. Vamos falar da antiga religião, ou Wicca. 
Ontem foi 21 de setembro de 2012 e mais uma vez no ano o dia e a noite se fazem iguais. É portanto, uma data de equilíbrio e reflexão. Os dias escuros se vão, e a terra está pronta para ser plantada. É a época do ano em que deus e deusa se apaixonam, e deixam de ser mãe e filho.
Nessa data, a semente da vida é semeada no ventre da deusa, a donzela revigorada e cheia de alegria. O deus é devidamente armado para sair em sua viagem no mundo das trevas e reconquistá-lo, para que posteriormente a luz volte a reinar. 
Ostara é o Festival em homenagem à deusa Oster, senhora da fertilidade, cujo símbolo é o coelho. Foi desse antigo festival que teve origem a Páscoa.
Coven ou Assembléia é, nada mais nada menos, que um grupo de bruxos e bruxas, que se unem num laço mágico, sob o objetivo de louvar a Deusa e o Deus e o juramento de fidelidade à Arte. Um Coven tem como filosofia "Perfeito amor e perfeita confiança”. Isto quer dizer que dentro do Coven deverá prevalecer a união, pois um Coven é, antes de mais nada, uma família.
Vem esquentando a atmosfera, os raios do sol baterão mais incisivamente. Tudo na Terra se movimentará mais rápido. Inclusive o amor. Continuemos a vivê-lo intensamente sem nunca nos esquecermos de que toda derrota no amor não é derrota, que todo adeus é apenas um até logo, e que toda vida deve ser vivida com amor, sem perdermos tempo com sentimentos menos nobres. 



Mais sobre o amor...

Buscar o amor não significa que ainda não encontrei, ou que nunca o tenha encontrado. O que busco são suas manifestações. Precipuamente penso que o amor se manifesta em todas as criaturas do mundo, do Universo. Assim, também busco suas manifestações em uma mulher, que para mim é uma das mais lindas manifestações do amor que se pode conceber. Toda mulher traz o amor carimbado na alma. Todos somos filhos do amor se considerarmos que somos manifestações de Deus e Ele é amor.

Amar uma mulher é, antes de qualquer coisa, aprendizado. Aprender a conhecer o amor é aprender a conhecer a si mesmo. Somos nossos próprios inimigos e à medida que vamos consumindo da fonte da sabedoria [que é uma forma de amor] vamos sendo mais fortes que nós próprios, vamos vencendo nossa ignorância, vaidade e orgulho.


Só o amor liberta. A sabedoria, uma das filhas mais velhas do amor, é um dos meios para se atingir um fim maior – amar sempre.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Ensaio sobre o corpo de Amanda


Estou a olhar a pele morena, fresca, úmida, com cheiro de mulher. Não estou falando de cheiro do perfume feminino, mas sim da pele dela. Aquele cheiro que se compõe da sensualidade, da etnia, do estado emocional, do tesão exposto nos poros. A fragrância resultante dessa estranha mescla é um potente feromônio que me atrai intensamente. Ao me aproximar dela, percebo que seu corpo treme. Apesar de nunca ter podido tirar suas roupas, porque ela o faz antes que eu possa fazê-lo, tamanho seu desejo (ou apreensão, não sei ao certo). Depois de se despojar das peças que ficam expostas, se retém apenas de calcinha e sutiã, deita na cama e se vira de bruços. Imediatamente passo a admirar aquele corpo sem tocá-lo. Apenas olhando. Sei que ela aguarda o toque. Ela sabe que admiro seu bumbum com
uma devoção extremada. Propositadamente ela se deita e mexe sutilmente com o quadril levantando sua bunda e deixando-a ainda maior do que é. Suas formas curvilíneas sutis me tomam de desejo fora de medida. Tal qual duas montanhas que se avolumam e tomam conta de meu olhar, apaixonante. Quando ela desfila pelo quarto, olho disfarçadamente, pois lhe causa timidez meus olhos devoradores. Pena que ela não saiba que minha admiração pelo seu corpo é maior que ela poderia simplesmente supor. Ao andar, ainda de calcinha, o que, inclusive forma um conjunto inigualável de beleza e desejo, é difícil não perceber que o meneio de seu traseiro é lento, encantador, pulsante na minha vontade desmesurada de agarrar-lhe ferozmente e tombar-lhe o corpo no catre e encher-lhe de potentes estocadas até explodirmos juntos, mais uma vez em infinito orgasmo.
É um lindo conjunto: seu rosto, seu cabelos sedosos, lisos, seus seios arfantes e redondos, seu tronco, seu abdômen, seu umbigo ornado com pequena pedra, sua cintura fina contrastando com o quadril proeminente, sua virilha, isenta de qualquer pelo, quente, suave, doce, fulminante; suas pernas longas, macias, indefiníveis, seus pés que terminam aquela obra de arte.

Um corpo em que mergulhei repetidas vezes, em êxtase desorientador, com sofreguidão dizendo-lhe, durante nosso amor, que a amava, e lhe beijando seus lábios com violento carinho, arrancando-lhe pequenos gemidos ainda tomados de acanhamento e embaraço. Quando eu explodo em gozo, plangindo em seus ouvidos, ela se treme toda, entendendo o meu momento e como que me acolhendo dentro de seu corpo pela última vez.
Se não fosse meu sentimento por você, menina louca, nada em você teria sentido apesar de belo, seus beijos não seriam inebriantes, apesar de doces, sua voz de menina não seria uma música, apesar de melíflua, seu rosto não exalaria luz, apesar de encantador, e suas nádegas... não, não, elas não seriam mágicas apesar de lindas.







terça-feira, 18 de setembro de 2012

Difícil de dizer


                 Naquele inesperado momento, ela levantou-se da cama vestindo apenas a peça íntima e correu para o banheiro batendo a porta com força. Ele havia ficado na poltrona, mal acomodado, com um copo de água gelada nas mãos. A discussão que acontecera há pouco foi pesada e ambos se abalaram de mais. A moça chorava às escondidas no banheiro temendo o que aconteceria. Temendo a próxima cena. O ato sexual que tiveram antes da discussão significava muito para eles, mas nenhum dos dois queria assumir isso diante do outro ou dar o braço a torcer. Ele, pensava ela, bem que podia querer assumir compromisso sério comigo. Ele anda tão imerso em seus próprios problemas que nem pensa em meus sentimentos. Ele é um idiota em não me querer. Nunca nos entenderemos. A paixão gosta de corações violentados e cheios de culpa por querer tanto alguém assim. Os homens são todos iguais.
              As lágrimas grossas rolavam pela pele fresca que cobria seu rosto vermelho de tanto chorar. Ela se olhava no espelho e se perguntava por que nada dava certo em sua vida. Não sabia definir o que era amor, o que era ódio, não sabia qual dos dois sentia por ele naquele momento. Seu corpo seminu, que acabara de provar o gosto do prazer, estava ainda com as marcas do sexo.
                Meu Deus, como é difícil amar. Que misto de sentimentos em um só coração! Não quero mais ele em minha vida. Quero o fim.
               O rapaz procurava esfriar a cabeça, procurava serenar os pensamentos. Um turbilhão de ideias passava pela sua mente. Ele não era capaz de apaziguar seu coração sem a ajuda dela, e achava erroneamente que ela não teria maturidade suficiente de entender um problema pelo qual passava e não podia lhe contar, não era fácil dizer. Finalmente uma lágrima rolou de seus olhos. Ele pegou a caixinha de joias que tinha no bolso, acariciou as alianças douradas que estavam dentro, examinou com cuidado seu nome e o dela gravados no interior de cada peça e voltou-a no bolso. Levantou-se, foi à varanda e ficou olhando as estrelas, perdido, procurando um jeito de dizer que a queria para ser sua esposa.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Tempestades

               Por esses dias as nuvens voltaram a cobrir o céu. Os tons de cinza trazem-me ao passado onde, perplexo, percebo que converso novamente contigo. Essas tempestades sempre brotam assim. E tu sempre me foi referência, uma espécie de norte onde volto a me orientar para seguir em frente e poder continuar a tomar conta de nossa pequena. Lembra-te daquela tarde onde conversamos sobre o futuro? Onde juramos não nos perdermos em nós próprios, pois sempre somos nosso pior inimigo? Então querida... Estou precisando filosofar novamente contigo. O mundo anda tão diferente de quando estivemos juntos. Lembra-se do poema de Camões? Lembra-se da promessa? Nunca me esqueci dela... Hoje lembrei de novo do poema, já o guardei na surrada memória. É mais ou menos assim:

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

(Camões)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Coisas do Coração - FINAL


A chuva caía torrencialmente naquela manhã. Joana estava parada numa lanchonete da rodoviária tomando uma xícara de café distraída, pensando em Malbec. Como seria ele? Alto, baixo, moreno, louro? O que fariam depois que ele chegasse? Onde iriam? Até aquele momento ela não sabia onde arrumara coragem para ir até a rodoviária. Quando saiu de casa, suas pernas tremiam. Para engatar a primeira marcha no carro custaram-lhe longos segundos. De repente, surge na esquina um ônibus. Olha o nome da empresa gravada no ônibus e estremece. Era ele. O tempo que o ônibus gastou para contornar o canteiro e estacionar na plataforma parecia uma eternidade. Ela permaneceu dentro da lanchonete. Sentia-se protegida lá. Foi quando desceu do ônibus, um dos últimos a descer, um rapaz alto, moreno, cabelos curtos, bem aparados, mochila nas costas, pouca bagagem. Não sabia porque, mas sentia que era ele. Parado, ele olhou para os lados, coçou a cabeça e antes que ele desse um passo, ela surgiu na porta da lanchonete que distava no máximo 20 metros de onde o rapaz estava. Ambos se olharam então pela primeira vez. Foi algo que pareceu uma eternidade para eles. Os olhos fitaram-se mutuamente por segundos eternos. Partiu dele a iniciativa de caminhar em direção a ela. Foi então que aconteceu um abraço quente, apertado, entremeado de lágrimas. Não disseram nada por algum tempo. Até que, naturalmente, desenrolaram-se dos braços um do outro e ele disse oi. Ela respondeu com a voz embargada. Saíram rapidamente dali e foram para um hotel onde ele se hospedaria. No carro não disseram nada. No salão do hotel, enquanto tomavam café, conversavam como se fossem velhos conhecidos. Ele tinha todo um ritual para servir-se. Primeiro o pão. Integral e cortado em fatias. Depois o mel no pão. Finalizava servindo-se de uma xícara de chá. Não gostava de café. Enojava-lhe o gosto. Depois que ele se instalou no hotel, se despediram e marcaram de almoçar juntos num restaurante. Ela se foi. No caminho de casa cantarolava uma música que tocava no seu aparelho de CD. Era uma música antiga de Charles Aznavour, chamada Hier Encore. Estava alegre a ponto de explodir. Sentia-se uma garota de quinze anos. Na hora do almoço estava pontualmente parada na recepção do hotel vestida de forma sóbria e discreta. Ele desceu vestido de uma calça jeans, camisa pólo preta e sapatos pretos. Cumprimentaram-se com beijos na face e se foram. No caminho, ele começou a dizer a ela que aquele momento que estava vivendo era o mais especial da sua vida. Que estava encantado com ela, com o cheiro do seu perfume que caía perfeitamente nela. Que a imaginara justamente como ela era. Que isso tudo era coisa que ele não conseguia explicar apesar de tentar. Ela ouvia calada e trêmula. No restaurante, sentaram numa mesa reservada num canto. Era um ambiente requintado, elegantemente decorado. Enquanto o garçom não vinha beijaram-se pela primeira vez. Não foi roubado, simplesmente aconteceu. Esse beijo foi algo que tirou a respiração de Joana. A boca do rapaz, quente e fresca, devorava-lhe a língua com movimentos suaves, mas vigorosos. Não havia ninguém para vê-los naquela situação, por isso estavam a salvo. À chegada do garçom pediram Fetuccine a Parisiense. Quando o garçom perguntou o que beberiam, ela disse mais que depressa: qualquer vinho produzido com a uva Malbec. Assustou-se consigo mesma pela iniciativa. Ele deu um risinho despretensioso, mas não disse nada. Almoçaram conversando animadamente, com a alegria fazendo companhia à mesa, com o amor se consubstanciando. No ambiente tocava o Adágio de Albignoni e Malbec explicava a ela a história dessa obra prima do compositor clássico italiano. Falaram sobre vinhos também, porque era uma paixão de ambos.
Passaram a tarde juntos. A chuva continuava a cair em intervalos mais ou menos uniformes. Estavam num lugar ermo, onde os namorados iam para estarem mais a vontade. Tomaram chuva e se beijaram loucamente. Molhados. Resolveram por fim, embriagados pelo desejo, ir a um local mais confortável e discreto. Foram a um motel. Amaram-se fundidos num só corpo e num só espírito. Ele a tocava com a doçura de uma criança. É que há prazeres que se ouve com os sentidos e se vê com o toque das mãos, dos lábios. Ela bebia a inspiração do prazer dele. Suas ancas abrigavam as ritmadas estocadas de Malbec, e tinha ímpetos de sair dali voando, delirando, num misto de prazer e volúpia. Ao tomarem garrafas inteiras de vinho, sentiram por momentos que se viam num mundo diferente, com a contagem do tempo diferente, com as cores mais vivas, com os sentidos mais aguçados.
E assim foi o fim de semana. Como que em lua-de-mel, aproveitaram cada segundo de que dispunham. Viveram intensamente. Ardentemente.
E foi assim que fiquei sabendo o que eles viveram. E não me perguntem o que aconteceu com eles depois. O que sei, baseado em confissões e depoimentos de pessoas que ela conhecera, Suzana inclusive, foi que eles se amaram longo tempo. E Joana descobrira o nome real de Malbec, mas esse nome não tive notícia de qual era. Quem sabe a história ainda esteja acontecendo. Sim, porque o amor é atemporal pelo fato de ser eterno. Onde estão agora? Essa resposta fica no ar.

sábado, 8 de setembro de 2012

O segredo de Amanda


O corpo lânguido e suado suporta o peso do homem. Seus cabelos colam na face como resultado do suor descompassado que corre pela fronte. O ápice chegara mais uma vez e ela treme demoradamente o corpo e goza em silêncio. Ele continua as estocadas vigorosamente porque seu clímax ainda demora. Enquanto isso Amanda vai abrindo seus olhos da alma para novas nuances que nunca havia percebido. São apenas breves momentos em que o espírito consegue ver coisas que nunca cogitaria se não fossem as fortíssimas vibrações de um orgasmo. Ela vê finos fios de luz percorrendo-lhe o corpo e sumindo pelo teto, penetrando-o. Ela se sente como a levitar pelo quarto sem peso, sem gravidade. São raríssimos esses momentos e Amanda agradecia seu homem em pensamento por proporcionar-lhe tamanho prazer. Os sentimentos de Amanda são o segredo para se vislumbrar visões raríssimas envolvendo a energia espiritual. Os dois sabiam como celebrar esse ritual porque ele havia aprendido e a ensinara. Os resultados somente aparecem se todo o ato for feito da forma rigorosíssima com a qual deve acontecer e envolver um forte sentimento de comunhão dos dois corpos. Fundiam-se num só corpo praticamente. São mistérios que eles apenas sabiam fazer acontecer, mas não tinham ideia, nem de longe, de como explicar. O transe em que Amanda mergulhara permitia que ela vivesse os dias como uma pluma, que seu sorriso explodisse no seu rosto e a felicidade tomasse conta de sua vida como se isso fosse a coisa mais fácil do mundo. Ela sabia muito bem que o que sentia quando entrava em transe era a fonte de sua energia de viver. A magia que ela vivia era seu combustível infindável e secreto. Ela passou a agradecer à mãe Lua por tudo o que lhe acontecia de bom e mesmo de ruim.
 Divindades são fontes positivas, são usinas do bem. E Deus está imenso em cada partícula desse imenso Universo, pensava ela. Acreditar tendo uma fortíssima razão é mérito para poucos. Amanda era dona de um segredo e ela amava esse fato. Mal via a hora de estar com ele novamente para poder visitar aquele mundo repleto de cores radiantes, de luzes tênues ou brilhantes, mas sempre suaves e convidativas a mais uma experiência.

Dissensões


Por mais que tenhamos a convicção que uma vida, ou um sentimento possam não ser os mesmos depois de decorrido o tempo, ainda precisamos nos certificar disso muitas vezes. É que uma vida vale um sentimento, e não estou querendo diminuir o valor de uma vida, mas sim potencializar a dimensão dos sentimentos. Tenho dito aqui no blog que amor e paixão para mim tem significados um pouco distintos da maioria das pessoas desse pequeno planeta. O amor pode acontecer numa noite (o ato) e paixão pode acontecer durante toda uma vida. Não quero aqui acalentar um debate filosófico sobre um sentimento e outro, pois o propósito do blog é uma leitura leve e sugestiva. A única coisa que reafirmo é que o amor pode acontecer inúmeras vezes durante a vida de uma pessoa e não apenas uma única. Dissensões apenas. Amigos podem divergir as opiniões e continuarem amigos. Com isso, ambos crescem e conhecem pontos de vista diferentes.

sábado, 30 de junho de 2012

De volta ao mundo


Olá. Estou extremamente ausente ultimamente. Estou com o coração ocupado, e, ao contrário da maioria dos escritores (quanta pretensão minha), quando a paixão me visita perco a criatividade. Não sei o que acontece. Simplesmente as palavras somem. Vivo a paixão e me esqueço de perpetuá-la no papel. Quando o sentimento se aquieta – aquieta-se, e não acaba – daí eu consigo conciliar pensamentos e traduzir em palavras as tempestades que o coração me proporcionou.
Vivi uma paixão violenta recentemente. Pois é. Nessa seção do blog fica no ar se o que conto é verdade ou é um devaneio, mas prefiro que continue no ar, por algumas razões bem particulares. Com o passar do tempo vou contar aqui alguns episódios de minha história com ela. Sei que ela está bem agora – está melhor que quando estava comigo. Não pude corresponder o amor daquele coração jovem e sedento por carinho. Ela vive com muita intensidade. Uma garota sensacional. Nunca me esquecerei dela.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Namorados


O rapaz chegou para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com o seu rosto.
A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
- A gente fica olhando.
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

Manuel Bandeira

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Coisas do coração 3


O dia mal amanheceu e Joana estava a andar de um lado para o outro do quarto pensando: o amor é mesmo cheio de armadilhas e contradições. Os momentos em que ele nos toma, como que de forma voluptuosa e selvagem, apesar da insistência inútil de desvencilhar-nos dos seus braços sedutores, esses momentos nos parecem eternos. Apesar de que a eternidade é impossível de compreender pela forma metafísica. Deus é eterno e o amor é eterno. Mas o que senti por ele não é amor. É o que então? Paixão? Desejo? Cumplicidade? Talvez seja todos esses sentimentos elevados a um extremo inimaginável. Mas amor não. Recuso-me e acabado. Acho que homens jovens devem se apaixonar por mulheres jovens e casarem-se com elas. Acho que homens mais novos dão um trabalho imenso na cama com toda aquela ânsia de possuir as carnes da mulher que ama e deseja. Acho que a sociedade, sobretudo minha filha, não entenderiam um amor assim. Lá vem eu falando de novo em amor. Oras.
Em vão procurou relaxar. Após um choro compulsivo foi ao espelho do banheiro e procurou nele o reflexo do seu rosto. A pele ainda fresca, a boca desenhada com cuidado, os olhos avermelhados e imersos em lágrimas. Procurou em si uma resposta para o seu dilema, mas não a encontrou. Os soluços, as lágrimas ainda presentes mostravam que o dia que mal começara já era testemunha de mais uma crise de choro.
Foi à padaria, preparou o café, cheirou a fumaça que subia do bule e fez uma carinha de mulher com fome. Sorriu quando se imaginou vendo a si mesma naquela situação. Comeu um fragmento do pão passado na manteiga, bebeu uma chávena de café e foi-se para o trabalho.
Seu Patrício não havia ido trabalhar naquele dia. Joana achou estranho, mas não comentou com ninguém. No seu computador nenhuma mensagem de Malbec. Notas fiscais, recibos, pedidos, expedientes, conversas infindáveis ao telefone. Nem viu o dia passar. Sei que o remédio é meter a cara no trabalho, pensou ela. À noite, no seu computador, uma mensagem de Malbec: “me espera logo mais, precisamos conversar, te amo, Malbec.” Joana estremeceu e sentiu uma faísca irromper-lhe os olhos. Me ama? Ele nunca havia dito isso. O que será que ele quer? Apesar de negar para si mesma, Joana estava demasiadamente alterada para notar que havia adorado a mensagem e que iria falar com ele novamente, apesar de fazer jogo duro com o pobre rapaz. Lá pela meia noite, ele entra no programa de mensagens instantâneas e se põe a confessar de forma peremptória e inesperada, seus sentimentos. Disse que a amava apesar de nunca terem-se tocado, e que esse fenômeno o surpreendera também, mas que era fato e não podia fazer nada contra isso. Que precisava materializar esse sentimento, que a queria, de forma efetiva, para ele. Joana sentiu-se sobressaltada com a confissão do rapaz. Disse por fim que era mais velha que ele, que um suposto romance entre ambos não daria certo, que as pessoas iriam falar dela, que a mãe dele não a aprovaria, essas coisas. Nem falou da sua filha. Malbec disse-lhe que tomaria um ônibus para a cidade dela no outro dia, apesar das negativas insistentes de Joana. E disse por fim: vou e acabou-se. Quero ir parar na sua porta, mas como não o posso, espero que você me encontre na rodoviária. Se você não estiver lá, saberei que seu preconceito contra mim foi maior que esse amor que martela seu coração. E despediu-se. Joana sentiu todo o seu ser gelar diante da decisão do rapaz. No outro dia, sábado, às 7 da manhã, ele estaria na sua cidade. E agora? Precisava pensar rápido no que fazer.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Parece loucura

Perguntaste-me se penso em tu assim como pensas em mim. Digo-te que penso muito mais. E digo também que consegui voltar no tempo... por quinze anos!!! Parece loucura..... mas não é.

Coisas do coração 2

Seus olhos abriam para um novo dia e, preguiçosos, conferiam a janela, a cortina, a TV que passou a noite ligada. Dormira novamente com a TV ligada. Ela ria, mas se repreendendo em seguida pelo fato. Lembrou-se, de repente, da mensagem que enviou para Malbec na noite anterior e da conversa que tiveram. Ele era muito especial, realmente. Além de lhe parecer muito inteligente, conhecia com minúcias os vinhos que tanto lhe atraíam pelo romantismo e pelo mito de milênios. Pronto, sua vida virou-se de cabeça pra baixo. Essas paixões repentinas não lhe visitavam desde quando se divorciou do marido. Ia com freqüência a casa de suas amigas, onde um dia, conheceu um quarentão de cabelos grisalhos, que lhe atirou um olhar daqueles penetrantes e lhe disse oi. Depois de conversarem por algumas horas, tocaram-se de leve os rostos e se beijaram na face, selando o primeiro encontro. Depois de poucos meses, descobriu com certa ojeriza que ele era casado. Com isso, Joana aumentava cada dia mais o muro que construíra dentro si para se defender dos homens. Aí foi a última vez que se apaixonara de repente. Temia sofrer, como a criança que teme dormir no quarto escuro, e prometia para si mesma nunca mais se envolver com os homens. Mas hoje sentia que algo havia mudado. O muro continuava alto e inacessível, e com essa segurança, Joana arriscava conversar noites a fio com Malbec, sem saber seu nome real, quem era, ou mesmo sua idade. Essa era a forma que ela se protegia de uma provável decepção, afinal, seu muro a protegia contra as ciladas do coração. Todas as manhãs, na repartição, e todas as noites, em casa, abria as mensagens doces e apaixonadas do seu “bebedor de vinhos“, e lhe respondia todas com a mesma doçura e emprestando a cada letra um carinho inenarrável e inconfessável, mas casual, pensava ela. Nunca mais saíra com Suzana e Marta, seu interesse pelo barzinho de sempre de repente se esfriou, diria até que gelou.
Uma noite, ao abrir seu programa de mensagens, deparou com uma mensagem de Malbec que dizia: “estou na aula, infelizmente não posso lhe dedicar agora a atenção que você merece. Um beijo quente de paixão. Malbec.” Pronto! Malbec estudava ainda? Cursaria o ensino médio, uma faculdade? Um doutorado? Não. Acho que ele faz mesmo é o ensino médio. Então ele deve ser muito novo. E eu com 4.0. Ai meu Deus! De novo não. Será que não dou sorte no amor? Será que sempre perco nesse jogo? E divagava sem parar, sem se dar conta que o tempo voava. Até que num momento, Malbec lhe chamou no computador, dizendo que já estava em casa. Com o receio de descobrir o que já previa, perguntou a ele sua idade. Ele lhe disse qual a razão dessa pergunta já que ela mesma havia determinado que essas informações não eram necessárias, pois ela preferia a impessoalidade. Mas diante da insistência dela, ele confessou, afinal. 32. 32? Pensou ela. 32? Meu Deus! Mas disse alguma coisa, com falsa naturalidade e disfarçou a decepção que tomara conta dela. Já na cama, dizia para si mesma. Acabou o encanto.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Amor atemporal

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

Willian Shakespeare



domingo, 15 de abril de 2012

Eu e você

…Pois que a beber me deste em taça transbordante,
E a fronte no teu colo eu tenho reclinado,
E respirei da tu’alma o hálito inebriante,
- Misterioso perfume à sombra derramado;
Visto que te escutei tanto segredo, tanto!
Que vem do coração, dos íntimos refolhos,
E tive o teu sorriso e enxuguei o teu pranto,
- A boca em minha boca e os olhos nos meus olhos…”

Victor Hugo