Uma menina que
sonha com seu futuro, que sonha em se casar. Ela pensa que sua felicidade é
para hoje e tem pressa de vivê-la. Como se tivesse apenas mais uma semana de
vida, ela sonha, ela vive, ela vê seu futuro diante de seus olhos, ela está imersa
em um transe diferente. Mesmo sozinha em seu quarto de menina, à frente do
computador, Amanda se agita, ri, chora [ela chorou muito esses dias]. Sua forma
tão dela de conviver com o mundo pela tela do computador, principalmente, lhe
permite saber o que o mundo lhe reserva lá fora. Ela tem medo do que ainda não
sabe. Seu sexto sentido lhe diz que seus 19 anos são apenas o prenúncio de uma
vida cheia de momentos bons e maus, e que esses últimos são os que lhe ensinarão
que só depois de cair é que é possível aprender a levantar. Suas lágrimas ainda
cairão generosas pelos sofrimentos que ainda virão. Mas ela admite que não
importa qual seja a situação: boa ou má; ela vai mudar um dia.
Ela tem um
amor no coração. Ele surgiu da tela de seu computador e lhe laçou o espírito de
cara. Amanda sente uma coisa diferente no peito quando pensa nele, ela sente
uma onda quente que lhe toma o corpo, outras vezes tem um sentimento de que
todo o amor do mundo vai explodir dentro de seu peito e atingir as mais altas camadas
da atmosfera. Eles estão juntos e ela sonha ferozmente com o compromisso formal
ao lado dele. Sonha que ele vai à sua casa, que conhece seu mundo dentro de seu
quarto, que almoça ali aos domingos, que fazem amor nas tardes preguiçosas em
que seus pais saem e eles ficam sozinhos. Coisas de menina, mas são
fundamentais para ela e é necessário que se tornem realidade para que ela
continue a acreditar que seu mundo é real, e que a realidade do mundo cruel que
ela vê na TV com seu pai é mais uma deturpação de uma vida áspera, árida e sem
sal, por isso ela prefere a sua realidade que não admite ser chamada de
fantasia, porque realidade e fantasia são duas faces da mesma moeda.
Às vezes ela
tem medo de sofrer. Criou até uma frase onde dizia que todo homem e todo sapato
novo, machucam uma mulher apaixonada. São exteriorizações da alma dessa menina-mulher
que ainda tem tons de rosa no seu quarto, uma cama estreita de solteiro
localizada embaixo da janela, um guarda-roupas com suas peças cuidadosamente
colocadas em cabides trabalhados, o maleiro com caixas de sapatos, os quais ela
tem um carinho especial, um espelho na parede que reflete todo seu corpo moreno
e sedento de amor. Seu espelho parece lhe chamar para mergulhar dentro de outro
mundo, como Alice no país das maravilhas.
Ela tem também
um segredo. Como é segredo não cabe aqui elucubrar sobre o que seja. Só ela
sabe, ou então não seria segredo. Isso que ela guarda consigo já a fez chorar.
Ela já morreu de rir com esse segredo, mas as alternâncias de seu humor por
conta disso lhe dizem que é possível carregar um pensamento secreto dentro do
espírito, apesar de que a todo momento seus amigos, suas amigas, seu amor
possam descobri-lo. Seu amado pode ler o segredo em seus olhos, se soubesse como.
Por isso ela se defende e tenta dizer-lhe com o silêncio que seu amor por ele é
o desdobramento de várias vidas dela, e que seu segredo foi algo que
aprendeu no caminho e já compartilha com ele todas as vezes em que fazem amor. Só
falta ele descobrir.
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