quinta-feira, 5 de abril de 2012

Alícia! Parte 4


Foi numa manhã tórrida de fim de ano. Estava eu trabalhando em minha sala, os papéis eram peças de xadrez sobre minha mesa. O ventilador soprava um vento quente que não refrescava o ambiente. Foi nesse momento que meu telefone celular tocou. Era ela.

- O que foi meu amor?
- Preciso falar com você hoje.
 - Houve alguma coisa? – Fez-se um breve silêncio; eu só ouvia sua respiração do outro lado da linha.
- Houve. Precisamos conversar.
- Vá em minha casa hoje a noite.
- Ele não vai sair hoje. Vai trazer um cliente para jantar em casa.
Fiquei mudo, pensando em que fazer.
 - Você está querendo me enlouquecer, Alícia?
- Você é louco desde quando eu o conheci.
– Disse ela nervosamente, mas como a conheço, percebi que deu um sorriso nervoso do outro lado da linha.
- Então tá Alicia. Diga que vai sair para comprar os presentes. Você vai se atrasar e inventa uma história.
- Detesto mentiras. – Disse ela como que tentando livrar-se de uma culpa que não existia.
- Tchau.

Nossos encontros eram planejados com uma estratégia rica em detalhes. Eu pensava milimetricamente em que faria para vê-la, já que seu marido havia desconfiado de suas saídas sucessivas recentes, e numa noite, depois que Alicia chegou em casa, e enquanto entrava no chuveiro conversando  com o marido, ele percebeu que ela estava sem a calcinha. Ela deu-lhe uma desculpa inventada na hora e contada com a habilidade peculiar a ela, e o assunto deu-se por encerrado. Mas ela sabia que ele ficaria mais cuidadoso com seus passos, e dar mais bobeira poderia ser perigoso.
Alicia chegou na praça do bairro em que eu morava exatamente às dez da noite. Deixou seu carro parado numa rua escura e entrou em meu carro. Imediatamente nos atracamos num quente beijo, como que ele tivesse a responsabilidade de dar ponto final na saudade insana que nos possuía. Dissemos que nos amávamos várias vezes durante o beijo. Depois de alguns momentos, quando a saudade deu breve trégua, ela olhou-me desanimadamente nos olhos e disse-me:
- Vamos para o Sul no fim da semana. Ele quer procurar um apartamento para comprar e ficamos lá toda a semana. Devo voltar sozinha, caso ele não resolva tudo até lá.
Enquanto Alícia falava, eu ia pensando que aquele labirinto em que eu me metera não teria saída, e que eu me arrebentaria no fundo de um abismo tomado de amor e de amargura. Alicia olhou-me como que querendo uma resposta para o que havia dito. Diante de meu mutismo ela acrescentou:

- O que está acontecendo com você?
- Eu estou perdido, Alícia. Não sei o que fazer.
- Não posso fugir agora com você.
- Você nunca faria isso, mulher de Deus.
- Não posso. Deixar meu casamento agora traria mais sofrimento para minha filha.
- Não, você nunca me entendeu Alícia.

Ela me olhava e eu notei que seus olhos mostravam uma confusão de sentimentos a qual também tomava conta de mim. Notei que seus olhos se umedeceram e ela desatou um pranto fragoroso. Tomei-lhe nos braços, abracei-a forte. Ficamos assim abraçados, por longos minutos.

- Nós precisamos sair dessa cidade para ficarmos juntos, Alícia. Não existe outra alternativa. Precisamos renunciar nosso mundo em nome do que nos une.
- Você não entende. Você nunca foi casado. É complicado separar assim. Ficar falada. Minha família vai me acusar de ter jogado a vida no lixo. Meus pais são muito tradicionais.

Alícia ia falando, falando. Liguei o motor do carro e saímos dali. Não tinha cabeça para ir para minha casa. Fomos para um motel. Eu precisava de um banho de hidro. Ela nada disse no caminho. Uniu as mãos postas no meio das pernas e fomos mudos até o motel. Escolhemos o quarto. Preparei a hidro com a cabeça fervendo. Deitei-me por fim dentro da banheira e chamei por ela. Alicia surgiu completamente nua na porta do banheiro. Podem dizer o que quiserem, mas Alicia nua era algo indefinível. Digo isso sem preocupação que me tomem por exagerado. Seu corpo era maravilhoso. Alícia veio caminhando lentamente colocou um pé dentro da banheira, depois outro, foi abaixando e se aninhando em meus braços. Ficou abraçada a mim, a procura de carinho, a procura de remédio para sua amargura. Conversamos longamente sobre nossa relação, sobre as loucuras que fazíamos e colocavam em risco sua reputação como mulher casada. Fizemos um amor muito exaltado naquela noite. Geralmente nos tomávamos mansamente, Alícia gostava de carinho e só se deixava possuir com muita ternura. Naquela noite ela me olhava diferente. Cavalgava com furor,  olhar faiscante, suas nádegas ficaram vermelhas pelos repetidos impactos em meu quadril
Ficamos no motel até as 11 da noite. Era a hora que as lojas fechavam por causa do horário especial do comércio no fim de ano. Chegou em casa sem os presentes. Esquecera-os na casa de sua mãe depois que chegou do centro. O marido acreditou. O que ele desconfiava era do abatimento cada vez maior de Alícia.



Nenhum comentário:

Postar um comentário