domingo, 23 de março de 2014

No caminho da montanha

Certa vez, durante o início da ascensão da pedra da mina, um pico localizado na divisa entre os estados brasileiros de Minas Gerais e São Paulo, encontrei um casal de jovens que fotografavam a montanha à distância. Conversavam alegremente e comentavam a sensação experimentada como se estivessem no cume daquele deslumbrante pico. Quando me viram com a mochila nas costas e caminhando determinado rumo ao pico, me disseram em tom irônico:

- Por que você vai caminhar até lá em cima se você pode se maravilhar e se contentar com a visão do pico daqui mesmo? Não é preciso se cansar para ter o mesmo prazer que estamos tendo agora. Você vai passar fome e sede, sem contar o imenso cansaço que irá lhe consumir o corpo.

O casal aparentava ter entre 20 e 25 anos. Suas roupas estavam limpas e perfumadas, e suas frontes, secas e isentas de suor. A palma da mão do rapaz era lisa e fina como papel de seda. Parei a caminhada, olhei profundamente nos olhos deles e disse:

- A visão lá de cima, por certo, é mais bela que essa que temos daqui. No entanto, o mais importante é exatamente o cansaço, a fome, a sede e as dores no corpo.

- Por quê? - perguntou-me a moça, que mudou seu semblante alegre para outro mais atento.

- Porque a felicidade está justamente em sofrer para poder vencer. A felicidade não se percebe de longe, mas só quando estamos dentro dela, embora não possamos vê-la, assim como não vemos uma nuvem se estivermos mergulhados nela. O cume não é o fim, é o meio. O fim é o caminho cansativo e tortuoso que nos mostra milhares de nunces que uma câmera fotográfica nunca terá condições de mostrar.

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