O jantar ficou pronto. Desliguei
o botão do fogo, e tampei a panela para que o queijo derretesse. Amanda arrumava
delicadamente a mesa para jantarmos. Retirei o vinho da geladeira e o coloquei
sobre a mesa, enquanto ela se encarregava de retirar o jantar das panelas e acondiciona-lo
em travessas. O vinho branco deve ser servido na temperatura ideal, porque,
acredite, faz a diferença no momento de bebê-lo. Poucas outras coisas influem tanto na apreciação de um vinho quanto sua temperatura. Aqui
no Brasil, somos adeptos de extremos quanto a esse assunto: o café, o chá, o
chocolate? Fervendo! Cerveja tem que ser muito gelada – trincando – como dizemos.
Mas o vinho é uma bebida delicada e cheia de nuances. O vinho branco, que beberíamos
naquela noite divina, tem que servido entre 6 e 12 graus. Como não tínhamos uma
adega climatizada e eu já havia bebido um pouco de vinho ao longo da vida, já
sabia que vinte minutos na porta da geladeira deixaria o vinho com uma
temperatura similar a 12 graus.
Sentamos à
mesa, entre beijos, e olhares apaixonadíssimos, abri o vinho com certo rito, enquanto percebia que Amanda
olhava cada detalhe de minhas ações. Servi o vinho na única taça sobre a mesa.
Não resisti e perguntei a ela a razão para a única taça. Ela me disse que desde
algum tempo percebeu que passamos ser apenas um sentimento dividido em dois
corpos, e que quando fazemos amor, esse sentimento passa a habitar novamente um
único corpo e apenas nesses momentos voltávamos a ser um verdadeiramente. E ela
queria simbolizar nossa união plena e inquebrantável ao bebermos o vinho numa
única taça. Um símbolo romântico e delicioso. Olhei para ela encantado com seu
raciocínio, e toquei seus lábios com os meus de novo. Jantamos calmamente. O
vinho complementava o prato leve e realçava o sabor de forma única.
Conversávamos sobre assuntos corriqueiros, amenos.
As velas
ardiam sobre dois vasinhos feitos com aromatizadores de ambiente que Amanda preparou para colocar as velas e os vasinhos foram postos sobre um prato no centro da mesa.
A atmosfera era incrível.
Romântica ao extremo. Amanda sabe preparar um ambiente! Terminamos o jantar quase
juntos, a garrafa estava no seu fim, restava apenas alguns poucos goles dentro.
Passamos a nos olhar
demoradamente. Ainda sentados, toquei-lhe a face, fiz um carinho que sempre
faço. Ela fechou os olhos. Tomei seu rosto com ambas as mãos e beijei-lhe a
testa. Ela pegou minhas mãos com as suas numa mensagem clara de que comungava e
partilhava daquele carinho. Suas mãos estavam geladas. Então levantamos e
caminhamos para o quarto de mãos dadas, em silêncio. Não havia mais necessidade
de palavras...
Sim, nos amamos muito aquela noite. Mas foi um
amor com um ritual próprio. Digamos que foi um amor do dia dos namorados. Não
sei bem ao certo em que proporção essas mil formas de fazermos amor se
distanciam umas das outras, se enlaçam novamente e se juntam, vitoriosas no
momento do orgasmo. O que sei é que temos milhares de formas de fazer amor, e
ainda descobrimos a cada vez, uma forma diferente, numa clara pretensão de que
mesmo em mil vidas, ainda não exploraríamos a totalidade desse sentimento
poderoso e ainda incompreensível em sua totalidade.
[Fim]
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