segunda-feira, 24 de junho de 2013

12 de Junho (parte III - final)


O jantar ficou pronto. Desliguei o botão do fogo, e tampei a panela para que o queijo derretesse. Amanda arrumava delicadamente a mesa para jantarmos. Retirei o vinho da geladeira e o coloquei sobre a mesa, enquanto ela se encarregava de retirar o jantar das panelas e acondiciona-lo em travessas. O vinho branco deve ser servido na temperatura ideal, porque, acredite, faz a diferença no momento de bebê-lo. Poucas outras coisas influem tanto na apreciação de um vinho quanto sua temperatura. Aqui no Brasil, somos adeptos de extremos quanto a esse assunto: o café, o chá, o chocolate? Fervendo! Cerveja tem que ser muito gelada – trincando – como dizemos. Mas o vinho é uma bebida delicada e cheia de nuances. O vinho branco, que beberíamos naquela noite divina, tem que servido entre 6 e 12 graus. Como não tínhamos uma adega climatizada e eu já havia bebido um pouco de vinho ao longo da vida, já sabia que vinte minutos na porta da geladeira deixaria o vinho com uma temperatura similar a 12 graus.

Sentamos à mesa, entre beijos, e olhares apaixonadíssimos, abri o vinho com  certo rito, enquanto percebia que Amanda olhava cada detalhe de minhas ações. Servi o vinho na única taça sobre a mesa. Não resisti e perguntei a ela a razão para a única taça. Ela me disse que desde algum tempo percebeu que passamos ser apenas um sentimento dividido em dois corpos, e que quando fazemos amor, esse sentimento passa a habitar novamente um único corpo e apenas nesses momentos voltávamos a ser um verdadeiramente. E ela queria simbolizar nossa união plena e inquebrantável ao bebermos o vinho numa única taça. Um símbolo romântico e delicioso. Olhei para ela encantado com seu raciocínio, e toquei seus lábios com os meus de novo. Jantamos calmamente. O vinho complementava o prato leve e realçava o sabor de forma única. Conversávamos sobre assuntos corriqueiros, amenos.

As velas ardiam sobre dois vasinhos feitos com aromatizadores de ambiente que Amanda preparou para colocar as velas e os vasinhos foram postos sobre um prato no centro da mesa. 

A atmosfera era incrível. Romântica ao extremo. Amanda sabe preparar um ambiente! Terminamos o jantar quase juntos, a garrafa estava no seu fim, restava apenas alguns poucos goles dentro.

Passamos a nos olhar demoradamente. Ainda sentados, toquei-lhe a face, fiz um carinho que sempre faço. Ela fechou os olhos. Tomei seu rosto com ambas as mãos e beijei-lhe a testa. Ela pegou minhas mãos com as suas numa mensagem clara de que comungava e partilhava daquele carinho. Suas mãos estavam geladas. Então levantamos e caminhamos para o quarto de mãos dadas, em silêncio. Não havia mais necessidade de palavras...

Sim, nos amamos muito aquela noite. Mas foi um amor com um ritual próprio. Digamos que foi um amor do dia dos namorados. Não sei bem ao certo em que proporção essas mil formas de fazermos amor se distanciam umas das outras, se enlaçam novamente e se juntam, vitoriosas no momento do orgasmo. O que sei é que temos milhares de formas de fazer amor, e ainda descobrimos a cada vez, uma forma diferente, numa clara pretensão de que mesmo em mil vidas, ainda não exploraríamos a totalidade desse sentimento poderoso e ainda incompreensível em sua totalidade.

[Fim]


Nenhum comentário:

Postar um comentário