Passeávamos pelas ladeiras
escuras da pequena cidade. Madrugada gelada. Andávamos lado a lado, enquanto
subíamos a ladeira que dava na igrejinha abandonada. O vento descia de perto do
cruzeiro de madeira e arrastava as folhas secas do outono que se findava.
Detemo-nos ao lado de uma enorme pedra cravada no chão. Encostamo-nos à pedra e
coloquei nossas taças já vazias e a garrafa de vinho numa reentrância da rocha.
A noite era limpa e podíamos ver milhares de estrelas, imersos na penumbra consequente
da parca iluminação da pequena vila.
O calçamento da rua era todo de
pedra, aliás, o vilarejo havia sido construído no sopé de uma montanha quase
totalmente formada por rocha magmática, por isso as casas eram construídas
essencialmente de pedras cortadas, talhadas e cuidadosamente encaixadas.
O vento fazia esvoaçar seus cabelos
dourados e fazia-os beijar sua face gelada pelos constantes e recorrentes
golpes das lufadas frias. Abracei-a para nos aquecer e ficamos nos olhando prestes
a nos beijar. Percebi que o álcool se fazia presente em seu semblante, mas ela
não chegava a estar embriagada. Nossas bocas se aproximaram definitivamente, se
tocaram com leveza enquanto se provavam, se mordiscavam, se degustavam influenciadas
pelo gosto do vinho recentemente digerido. Numa sucessão serena, mas impetuosa,
devorei-lhe a língua no que fui correspondido na mesma intensidade. Então os
movimentos de nossas bocas se sucederam por tempo indefinível à minha
percepção. Começamos a procurar nossos corpos com as mãos, envolvi seus seios
mesmo por cima da grossa jaqueta que vestia. Ela tocava meu tórax numa busca
incessante por prazer. Sua respiração já estava demasiadamente alterada.
Vencidos pelo desejo incoercível
voltamos rapidamente à pequena pensão em que éramos vizinhos de quarto, mas naquela
noite, dividimos a mesma cama em meu pequeno aposento.
[continua]
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