Talvez eu possa algum dia
entender de fato, e com toda a propriedade, qual a dimensão exata do amor. Não
sei entendê-lo por enquanto, sei apenas vivê-lo. Concordo que tenho descoberto
outros tons suaves e sutis em seu bojo, mas por essa razão afirmar que o
entendo, eu estaria sendo hipócrita. Talvez eu nunca o entenda em sua
plenitude. Não sei se é prudente fazê-lo, porque à medida que vamos entendendo
sua essência, ele se transforma tal qual a larva em borboleta, e tenho
novamente que perceber suas novas nuances, entender o que ele quer de mim dessa
vez.
Eu estava um pouco atrasado, por
isso seguia apressado pela rua escura, mal iluminada. O céu estava nublado, a
noite acabara de chegar. Havia deixado o carro num estacionamento particular,
livre do orvalho da madrugada. Trazia comigo algumas sacolas do supermercado
contendo os ingredientes do jantar, o vinho, mas não trazia as taças para
bebê-lo, atendendo a um pedido dela.
Abri o portão, girei a chave na
fechadura da porta. Ela veio andando depressa até mim, dando pequenos pulinhos,
sorrindo, linda, absoluta, batendo rapidamente suas mãos uma à outra, como que
comemorando uma chegada intensamente aguardada. Beijei-lhe a testa, os lábios,
e nos abraçamos carinhosamente. Ao fim do abraço, ela fez uma piada e rimos
animadamente. Por fim, fui à cozinha e deixei as sacolas sobre a mesa. O
perfume que exalava de seu corpo contrastava com o cheiro de sua pele, e o
resultado disso era uma fragrância muito peculiar dela. Ela sabia que isso
mexia demais comigo e notava que eu estava sentindo seu perfume. Sorriu
maliciosamente e veio se aninhar de novo em meus braços. Abracei-a com carinho
e ficamos assim, no meio da cozinha, abraçados, em silêncio. Até que ela olhou
de repente para mim e disse-me que estava com fome. Como havíamos combinado que
eu prepararia o jantar, aquilo foi um sinal de que eu deveria “trabalhar”.
Sempre tive a ideia de que cozinhar
é fazer magia. Os ingredientes são minhas ferramentas, e meu carinho, é o fator
gerador do invisível. Junte-se a isso certa prática em cozinhar, e temos uma
combinação que encanta toda mulher – um homem atencioso e que sabe preparar um
jantar para alimentá-la.
E nessa noite, o jantar seria
apenas o meio para um fim – comemorar, à dois, a sós, o dia dos namorados. Percebia-se
uma atmosfera diferente no ar. Talvez os deuses do amor estivessem à solta,
expectantes por permitirem que os casais se laçassem ardentemente e se
provassem com carinho, com amor.
[continua...]
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