sábado, 11 de janeiro de 2014

Apresentando Eduardo

Eduardo andava sem parar dentro de casa. Ia da cozinha à sala em sucessivas voltas. A noite já caía em meio ao calor do verão e Eduardo estava aflito com as situações esdrúxulas que sua profissão lhe impunha. Ainda no dia anterior ele havia chegado de viagem e ido para sua casa imediatamente; tentou dormir em vão. Seus pensamentos o afligiam de tempos em tempos, e esse certamente era um desses “tempos”. Simone havia ficado com uma lágrima no canto dos olhos no momento de sua partida. Ele viajou a noite toda, e cobriu os quase mil quilômetros entre o triângulo mineiro e o sul de minas em menos de dez horas.

Em certos momentos ele pensava que não seria mais capaz de manter suas atividades profissionais, porque as demais atividades que ele era obrigado a cumprir nos momentos de folga eram penosas demais; as aulas de inglês, de francês, de etiqueta, as leituras intermináveis de obras consagradas, as duras horas malhando na academia que montara em sua casa. Tudo aquilo e muito mais eram pressupostos necessários para que um acompanhante executivo causasse uma boa impressão nos amigos, familiares e até mesmo maridos de suas clientes. Conhecimento agregava valor ao seu programa e ele era perfeccionista em oferecer seus serviços com excelente qualidade.

Há muito Eduardo abandonara as formas cotidianas de se ganhar dinheiro. Embora se sentisse muito desanimado em alguns momentos, as contas continuavam a chegar e sua vida nunca lhe traria outra escolha. Vendia seu corpo, suas conversas, seus momentos, em troca de uma lucrativa quantia que abrangia seu tempo demandado com elas e as despesas de seu deslocamento para as cidades de suas clientes.

Como já atingira notável reputação nesse meio, Eduardo se esgueirava de certas clientes por razões diversas. Escolhia-as. Procurava loucamente não se apaixonar por elas, pois temia ter o coração invadido novamente por aquela força tão conhecida sua e que invariavelmente trazia apenas tempestades e estragos em sua vida. Como ele tinha o dom da conquista, o dom de seduzir uma mulher, ele resolveu juntar o útil ao agradável e fazer dinheiro com isso. Planejava oferecer cursos de como conquistar mulheres, de como se cativar uma mulher por meios alternativos, mas mal tinha tempo para dedicar a vida particular. Já acostumado a dormir em mais de 5 camas diferentes mensalmente ele se empenhava em manter sua clientela fiel a seus serviços. Seu desempenho sexual era intrigante, mesmo com 35 anos de idade e sua forma de tratar as clientes dava a elas a sensação de que aquele programa era na realidade uma aprazível vida marital convencional.

Ainda com o gosto da boca de Simone nos lábios, ele preparou um prato rápido no micro-ondas e deitou-se em seguida. No outro dia ele viajaria novamente para atender outra cliente. Iria a Curitiba passar 3 dias e 4 noites com Claudia, uma empresária solitária que vivia numa casa bem tranquila num bairro nobre da capital paranaense. Doce e inteligente, ela sabia da condição de sua relação com Eduardo, mas se deixava ser abraçada pelos braços doces da ilusão. Sua droga talvez fosse essa. Seu vício talvez não tivesse cura, mas seus dias eram bem mais especiais quando estava com seu michê.

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