Eduardo andava sem parar dentro
de casa. Ia da cozinha à sala em sucessivas voltas. A noite já caía em meio ao
calor do verão e Eduardo estava aflito com as situações esdrúxulas que sua profissão
lhe impunha. Ainda no dia anterior ele havia chegado de viagem e ido para sua
casa imediatamente; tentou dormir em vão. Seus pensamentos o afligiam de tempos
em tempos, e esse certamente era um desses “tempos”. Simone havia ficado com
uma lágrima no canto dos olhos no momento de sua partida. Ele viajou a noite
toda, e cobriu os quase mil quilômetros entre o triângulo mineiro e o sul de
minas em menos de dez horas.
Em certos momentos ele pensava
que não seria mais capaz de manter suas atividades profissionais, porque as
demais atividades que ele era obrigado a cumprir nos momentos de folga eram
penosas demais; as aulas de inglês, de francês, de etiqueta, as leituras
intermináveis de obras consagradas, as duras horas malhando na academia que
montara em sua casa. Tudo aquilo e muito mais eram pressupostos necessários
para que um acompanhante executivo causasse uma boa impressão nos amigos,
familiares e até mesmo maridos de suas clientes. Conhecimento agregava valor ao
seu programa e ele era perfeccionista em oferecer seus serviços com excelente qualidade.
Há muito Eduardo abandonara as
formas cotidianas de se ganhar dinheiro. Embora se sentisse muito desanimado em
alguns momentos, as contas continuavam a chegar e sua vida nunca lhe traria
outra escolha. Vendia seu corpo, suas conversas, seus momentos, em troca de uma
lucrativa quantia que abrangia seu tempo demandado com elas e as despesas de
seu deslocamento para as cidades de suas clientes.
Como já atingira notável reputação
nesse meio, Eduardo se esgueirava de certas clientes por razões diversas.
Escolhia-as. Procurava loucamente não se apaixonar por elas, pois temia ter o
coração invadido novamente por aquela força tão conhecida sua e que
invariavelmente trazia apenas tempestades e estragos em sua vida. Como ele
tinha o dom da conquista, o dom de seduzir uma mulher, ele resolveu juntar o
útil ao agradável e fazer dinheiro com isso. Planejava oferecer cursos de como
conquistar mulheres, de como se cativar uma mulher por meios alternativos, mas
mal tinha tempo para dedicar a vida particular. Já acostumado a dormir em mais
de 5 camas diferentes mensalmente ele se empenhava em manter sua clientela fiel
a seus serviços. Seu desempenho sexual era intrigante, mesmo com 35 anos de
idade e sua forma de tratar as clientes dava a elas a sensação de que aquele
programa era na realidade uma aprazível vida marital convencional.
Ainda com o gosto da boca de Simone nos lábios,
ele preparou um prato rápido no micro-ondas e deitou-se em seguida. No outro
dia ele viajaria novamente para atender outra cliente. Iria a Curitiba passar 3
dias e 4 noites com Claudia, uma empresária solitária que vivia numa casa bem
tranquila num bairro nobre da capital paranaense. Doce e inteligente, ela sabia
da condição de sua relação com Eduardo, mas se deixava ser abraçada pelos
braços doces da ilusão. Sua droga talvez fosse essa. Seu vício talvez não
tivesse cura, mas seus dias eram bem mais especiais quando estava com seu
michê.
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