Claudia e Eduardo passeavam pelo centro de Curitiba de mãos
dadas, naquela manhã de sexta-feira. Entravam em lojas, comentavam os preços, ela pechinchava algumas coisas. Era um casal aparentemente normal se não
fosse pelo fato de Eduardo ser um acompanhante executivo. Entretanto, o rapaz
era extremamente discreto e ninguém notava esse pormenor. Foram almoçar num
restaurante apreciado por Claudia. Comeram uma comida leve, por conta do calor
intenso, mas também porque a tarde seria cheia para ambos. Um tio de Claudia se
casaria no dia seguinte e ela estava envolvida diretamente nos detalhes finais
da festa. Ela apresentou à sua família seu “namorado”, que há tanto tempo era
cobrado de forma velada por seus pais. O sucesso meteórico de Claudia no campo
profissional contrastava enormemente com sua falência no aspecto afetivo. Foi
traída por dois namorados. Essas relações eram sérias e havia construído todo
um plano de vida em comum, sonhos, filhos, em ambas as relações. Por isso ela
deixou de acreditar no amor como única forma de se construir uma vida a dois e
passou a dedicar-se totalmente ao trabalho. Havia visto numa madrugada dessas,
num site de internet, os detalhes do trabalho de um acompanhante executivo. Passou a
acreditar que o dinheiro pudesse criar um namoro, mesmo que fosse apenas de
aparências. Para isso escolheu a dedo um dos michês de um site bem recomendado:
Eduardo! Contactou o rapaz e pronto. Essa era a segunda vez que se encontravam.
À noite, saíram com familiares dela. Foram ao Taisho,
um restaurante de comida japonesa de Curitiba. Eduardo se portava muito bem à
mesa, pois havia tido aulas de etiqueta justamente para esse fim. Sabia manejar
muito bem os hashis e conhecia razoavelmente a culinária japonesa. Aos familiares de
Claudia apresentou-se como empresário da área de tecnologia, mesmo porque,
dominava o assunto com certa desenvoltura. Causou muito boa impressão pelo seu jeito humilde, mas esclarecido.
Apesar de Claudia ter uma vida independente e morar sozinha,
seus pais ainda idealizavam um casamento para a filha, com um rapaz honesto e
trabalhador – sonho de todos os pais. Viram em Eduardo esse rapaz.
Aproximaram-se dele com esperanças esboçadas nos sorrisos e foram
correspondidos por Eduardo com a mesma intensidade: ele era um bom
profissional. Claudia via aquilo e se incomodava por saber que aquela aparente
tranquilidade era falsa, mas não conseguia se entregar de novo verdadeiramente
a alguém. Seu coração ainda exalava o perfume da amargura e se sentia mais
segura ao gozar mediante prévio pagamento.
Os sentimentos são luzes tênues ligadas, ao longe, em plena
escuridão. À longa distância não se pode divisar seus pormenores; muito perto,
é possível que se fique cego por segundos. O melhor é manter certa distância
para apreciar seu brilho e adquirir entendimento.
O dia do casamento chegou e a noite era muito
aguardada. Eduardo estava muito bem arrumado num terno de marca consagrada.
Claudia vestia um longo preto, estava estonteante. Foram padrinhos do casamento. A festa foi um acontecimento muito comentado em Curitiba. No outro
dia Eduardo se demoraria ainda mais com Claudia. A moça começava a enxergar o
rapaz de forma mais pessoal e menos profissional, mas ele precisava ir e ela
precisava dele.
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