Conheceu-a certa noite, em Belo Horizonte. Estava
ele sentado a uma mesa de bar. Tomava ainda o segundo whisky quando ela aproximou-se e
parou a três passos. Rosto frio, não aparentava qualquer emoção. Sentou-se por
fim. Ele olhou-a pelas pernas e pelos olhos e pensou consigo mesmo que a noite
no bar seria curta.
- Não se lembra de mim? – disse ela.
- Perdoe-me... é que tenho a memória pouco
fraca, ainda mais com a bebida...
- Não se preocupe. Vai me reconhecer em breve.
Seu vestido de cetim vermelho denunciava os
seios, sem cerimônia. Era ávida por beijos, por toques que a deixassem à
míngua, daqueles que colam duas línguas por segundos eternos. Ansiosa por
rasgar o cetim e desvencilhar do tecido conservador que a tudo esconde dos
olhos famintos daquela pobre alma que me concedeu a honra de conhecer as
estratégias dela através desse relato. Seu olhar é diferente, não inspira confiança. Ele viu um
brilho de lâmina vindo de sua bolsa. Deve ser sua arma mais efetiva – pensou
ele.
Atraída pelos prazeres carnais, seu
comportamento era sem medida em relação aos atrativos do sexo. Lasciva em sua
essência. Luxuriante, coxas e pernas abundantes. Tornou-se, há muito tempo, um
dos sete pecados capitais para proporcionar o doce encontro de vontades de
corpos incendiados por aquelas vontades... doces vontades!! Chamaram-na de
exagerada em seus propósitos. O exagero é absoluto?
- Prazer, sou a Luxúria.
- Esse prazer é meu. Mesmo sem saber quem é realmente,
gostei de ti.
- Dizem que sou o início da perdição. Não me
temes?
- Dizem que tu és a única forma de entender o
amor. Não, não lhe temo.
- Acompanha-me até minha casa?
- Sim, e não me tragas de volta.
- Nunca trouxe, seu corpo é quem vem de volta, poque pede o
descanso merecido. Se sou Luxúria, sou a falta de cansaço. Nasci há milênios e
nunca caí em sono.
- Então rendo-me. Leve-me, e se acaso tu
descobrires que não és a única possibilidade de entender o amor, deixe-me voltar ao bar.
Nunca mais se ouviu falar dele, nem foi visto novamente no bar.
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