sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Luxúria

Conheceu-a certa noite, em Belo Horizonte. Estava ele sentado a uma mesa de bar. Tomava ainda o segundo whisky quando ela aproximou-se e parou a três passos. Rosto frio, não aparentava qualquer emoção. Sentou-se por fim. Ele olhou-a pelas pernas e pelos olhos e pensou consigo mesmo que a noite no bar seria curta.

- Não se lembra de mim? – disse ela.

- Perdoe-me... é que tenho a memória pouco fraca, ainda mais com a bebida...

- Não se preocupe. Vai me reconhecer em breve.

Seu vestido de cetim vermelho denunciava os seios, sem cerimônia. Era ávida por beijos, por toques que a deixassem à míngua, daqueles que colam duas línguas por segundos eternos. Ansiosa por rasgar o cetim e desvencilhar do tecido conservador que a tudo esconde dos olhos famintos daquela pobre alma que me concedeu a honra de conhecer as estratégias dela através desse relato. Seu olhar é diferente, não inspira confiança. Ele viu um brilho de lâmina vindo de sua bolsa. Deve ser sua arma mais efetiva – pensou ele.

Atraída pelos prazeres carnais, seu comportamento era sem medida em relação aos atrativos do sexo. Lasciva em sua essência. Luxuriante, coxas e pernas abundantes. Tornou-se, há muito tempo, um dos sete pecados capitais para proporcionar o doce encontro de vontades de corpos incendiados por aquelas vontades... doces vontades!! Chamaram-na de exagerada em seus propósitos. O exagero é absoluto?

- Prazer, sou a Luxúria.

- Esse prazer é meu. Mesmo sem saber quem é realmente, gostei de ti.

- Dizem que sou o início da perdição. Não me temes?

- Dizem que tu és a única forma de entender o amor. Não, não lhe temo.

- Acompanha-me até minha casa?

- Sim, e não me tragas de volta.

- Nunca trouxe, seu corpo é quem vem de volta, poque pede o descanso merecido. Se sou Luxúria, sou a falta de cansaço. Nasci há milênios e nunca caí em sono.

- Então rendo-me. Leve-me, e se acaso tu descobrires que não és a única possibilidade de entender o amor, deixe-me voltar ao bar.



Nunca mais se ouviu falar dele, nem foi visto novamente no bar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário